terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Até Breve.

A simplicidade cativante de um sorriso fácil,

Um olhar inquieto, passivo de paciência e paz,

Ativo de mistérios e palavras queixosas,

Palavras outras também,

cândidas, fraternas,

espertas, inocentes.

Como escrever pra ti?

Agora não tão perto,

num plano distinto e eterno,

e de certo também não tão longe,

como seu sorriso,

que volta e meia, será lembrado pela vida,

que morte nenhuma consegue acabar.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Contratempo.

Procuro nos velhos cadernos
mas lá tudo é concreto
e é certo, algo se perdeu.

Por hora, nada passar por aqui
nem o tempo teve tempo de vim,
só o relógio insiste em rodar
- Ele conta números convexos que de tontos não saem, nem buscam somar.

Procuro nos velhos cadernos
porque agora tudo é demais
forte, intenso e complexo
como na rede que se faz amor
- Interligado, conectado, simbioticamente fugaz.

Procuro nos velhos cadernos
morosamente, pra chegar, viver, sentir
e passar. Sem esperar o tempo vim
ou o relógio, sem lógica, parar.




domingo, 14 de novembro de 2010

sambinha sem nota...

... Aquela hora teu corpo é samba,
tua noite é vazio,
e teu choro perdão ...

... Quando canta a avenida,
quando o grito é teu nome,
e o enredo é paixão ...

Entenda a demora!
Ainda não era hora,
de um fim começar.
Mas é fim de ano,
e começo de um novo,
e começo de novo a pensar carnaval.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010


E se é tudo sonho

maldade seria

acordar e viver

de outro jeito;

Olhar e não ter

nada feito

pra nós

por nós

por mim

e por ti.


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Sozinho,

reparo agora

numa solidão como afago.

Ela passa e me coça as costas

num tom delicado.

Tom de ternura,

Hum...

Carícias que querem conquistar.


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Você

Sorris assim, sentido-se toda,
ou quase toda, atordoada e dona de mim.
Descoberta por meus anseios,
desejada por minhas mãos,
cortejada por meu olhar...
Inocentada em meus erros,
Impura em meus pensamentos,
intrusa em meus eus todos, e tormentos...
Notória e quase obrigatória aos meus beijos...
Todos eles, dos mais despretensiosos,
aos de certo endoidecidos que toda noite te dou.

sábado, 6 de novembro de 2010

interno-me.

As vezes eu volto e não volta ninguém!
Quando eu chego tampouco chega alguém!
Ao sair, só sempre ando. Quem eu sou?
Não é charada, nem adivinhação
poesia talvez não!
Uma continuação de algo deixado pra trás,
no começo de mim, na genes do meu eu.
Quem sou eu?
De fato perguntas são,
são até mais que isso,
são extensões de outra parte de mim,
esquecida nos confins de uma solidão recatada,
expelida dos mais encantados sorrisos,
e das mais destrutivas paixões.

Extensões de um eu dissipado,
fatiado de rugas e memórias conflituosas,
concebidas da forma mais lúcida,
que a dose mais lúdica pode trazer.
Doses e dores cavalares,
dos mais redentores amores.
Que me tornam algo inexplicável pra mim,
um eu-dilema ambulante que me procura todas as horas...

Cotidiano.

Viver  cada dia era seu lema,
quase nunca tropeçava,
só o permitia quando era de seu agrado.
Alias como tudo em sua jornada, sua luta diária como gostava de chamar.
Sentindo-se talvez um guerreiro, de um outro lugar,
mais longe dali, lugar sem nome nenhum.

Era prático! Alguns diziam:
- inteligente, distraído...
tinha um sorriso bonito e abobalhado.
O simples trago, o torpe gole, a paixão varonil.
Tudo era egoísta de uma forma peculiar,
era um hino de si mesmo
que tocava em seus ouvidos de mpb.

Quando um dia, esperando o ônibus regular, do dia à dia,
Caiu inexplicavelmente morto,
inexplicavelmente morte.
Foi do nada! Outros gritavam.
Seu corpo caído ...
e sua alma saindo,
continuava, subindo,
olhando-se por fora,
dando um aceno,
parecia até dar um adeus, um até logo sem nome nenhum.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O que você está pensando agora?

Chegou em casa, acendeu as luzes, jogou a bolsa e as chaves em cima do sofá rasgado e subiu as escadas em direção ao quarto. No banheiro, durante o banho, deixou as gotas caírem lentas, lavando os pensamentos, refrescando a cabeça cansada. Esperava que aquela angústia descesse pelo ralo juntamente com a água do chuveiro. Ainda enrolada na toalha deitou-se na cama e olhou pela janela... E então como um vendaval que invadisse o quarto sua lembranças vieram à tona.


Lembrou-se do quarto do hotel, o ventilador pequeno na mesinha ao lado da cama, as embalagens diversas espalhadas pelo chão, os lençóis em desalinho. Onde estariam suas roupas? Decerto embaixo da cama ou na cômoda ao lado do armário sem portas, mas isso não importa. Apenas uma janela por onde entrava um vento quente que deixava o quarto abafado e confuso, mas não importa.


Somente a luz do banheiro acesa dissipava o breu do quarto. Só se podia saber em que parte do dia estavam quando alguns raios de sol entravam ou fugiam pelas venezianas brancas da janela. Às vezes o barulho da televisão que mesmo em alto volume não se fazia escutar, mesmo em horário nobre não se fazia assistir.
Lá fora praia, bares, cafés, amigos... mas isso não importa. Uma vontade intensa de não sair dali, ficar assim mesmo no calor, ouvindo o violão, sentindo o cheiro de pepino e chá verde, descobrindo a pele, provando aquele sabor de vida, deixando os sussurros abafarem o som da tv, deixando o suor umedecer o ar quente daquele quarto de hotel. Isso importava, queria isso, agora, ele.


Lembrou seus lindos olhos castanhos, passara muito tempo mergulhada naquele castanho-mistério-que-você-nem-sonha-nem-sabe. Os dedos entre os cabelos molhados, lavados sem shampoo, as sardas maliciosamente espalhadas pelos ombros de pele branca. Os beijos distribuídos naquele exato lugar onde acaba o pescoço e começa o ombro. Lembrou do abraço forte e doce, a barba mal feita passeando pela a nuca, as mãos suaves e quentes, a voz ao pé do ouvido, o riso frouxo quando diziam alguma besteira...


E nesse instante de lembrar-o-que-não-se-esquece que durou uma fração de segundo e uma eternidade, ela chegou a senti-lo ali deitado a seu lado e dentro de seu devaneio chegou a ouvir aquela mesma pergunta que ouvira durante dias... “O que você está pensando agora?”

Envelopes

Os muros que margeiam a grande avenida trazem desenhados envelopes cor de saudade... Ela procura cada envelope com ansiedade como se buscasse os olhos dele. Da janela do ônibus lotado essa busca é a única maneira de manter-se acordada. Queria dormir, queria hibernar para assim driblar a saudade que pressiona o peito. Sente a pele ouriçar e a cabeça lateja. Sente como se faltasse uma parte de seu corpo, uma parte que faz muita falta! É exatamente isso que o pequeno envelope traz escrito ao lado "Você faz falta!"

As frases que os envelopes trazem instalam-se em sua alma... Antes da chegada dele os envelopes despertavam coisas doces, quase calmas! Mas agora, alguns metros depois, outro envelope "Aqui tudo mudou!" Agora cada frase é como um soco no estômago, respiração difícil, lábios ressecados, lábios sozinhos, sem beijos, a nuca nua, agora sem a respiração quente dele...

Põe a cabeça para fora da janela... sente o vento percorrer a pele e esse vento perturba, traz o cheiro dele, varre a calma e joga dentro dela uma vontade sem lei, um desejo sem par. Sente a alma arquejar, sem forças. No corpo tremores, saudade. A garganta vai fechando aos poucos num nó alucinante, um gosto amargo na boca que ela inutilmente tenta disfarçar com café e cigarros.

Fecha os olhos e tenta respirar... É arrastada pela imagem do sorriso dele... sua íris castanha, aqueles olhos de menino, de bandido! Suspira e sussurra... Covarde! Suspira e escuta... Besta!

E num muro branco... no meio da avenida... mais um envelope "Não acredito que não fui com você..."

Fecha mais uma vez os olhos, respira fundo como se fosse mergulhar e repete Clarice Lispector, bem baixinho, e pra si mesma admite sem medo! "Sinto a falta dele como se me faltasse um dente na frente: excruciante!"


Engole as palavras pintadas nos muros, degusta os envelopes e no fim aquele gosto amargo de saudade, café e cigarro.

sábado, 23 de outubro de 2010

Canção da Manhã

Leves mimos

carícias agudas

esperam por mim

inebriados pelos cheiros

possíveis de sua nuca

e pela beleza desnuda

de sua face


Esperam por mim

sonhos fluidos

árvores ciliares

realidade gotejante

em forma de canção

sentimental


Em forma de desenhos

matinais

espera por mim

alvorada cintilada

pelas folhas da primavera


Bela, aguda e sincera

como a sua voz

espera por mim

a canção da manhã.




terça-feira, 19 de outubro de 2010

Identidade

Existi ao ser reconhecido, vivi quando não me reconheceram, fui e voltei despercebido, foi quando me conheceram. Surpreendi ao ficar surpreso, ao saber que era fácil mentir e, quando eu disse que não era eu mesmo, pediram para eu desmentir. Tendo feito a confusão, naquele jogo de aparência, tão poucas e claras evidências poderiam comprovar: Eu era o mesmo dito e próprio registrado em cartório assim como o meu irmão o qual não era eu. Fato consumado, eu não poderia mais mudar, teriam o meu histórico, o que eu poderia falar?: Forjada como todo aparência a qual se transfigura às evidências aquele registro não sou eu, pois ele é muito mais o meus pais. Já os históricos, falam mais sobre o modo de avaliação e de registro de uma época que era desperdício deixar algo fora do ar. Por isso, faço agora de mim uma interrogação? É fato, existo, mas nem por isso sou aquele que não era o meu irmão. Pois vivo, ao deixar de ser quem eu era, para ser várias vezes quem eu sou.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ela e a Felicidade II

Felicidade voltou e
acalentou a irmã.

Fizeram as pazes.

As duas,
como uma só.

Uma só alma.

O que outr'ora doía,
já passou.

A inquietante agonia,
já sarou.

Uma constante alegria,
paira entre as duas.

Ela, faz uma prece...

Pede a Felicidade
que não a deixe mais sozinha.

A Outra, pede perdão...

Diz que sempre estarão juntas.

E caso Ela não encontre.

Que procure dentro de si.

Porque as duas,
são como uma só.

Ela e a Felicidade.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Olha

Seu não lhe digo nada, foi por que já lancei o meu olhar.
Disse algo tão bobo que eu não tornaria a repetir.

Aliás, olhares bobos são mais fáceis que palavras bobas.

Ora, a mensagem segue diretamente à duvida,
faz viajar o pensamento, manifesta algo transcendente,
mexe com seu corpo e deixa a delícia do por quê?

Por que daquele olhar?

Nele poderá conter a maior declaração de amor,
a qual só será percebida na morosa cumplicidade
que se arrasta por instantes
na caça,
no encontro,
no desvio
e na certeza que tudo não passou de uma boba
cantada barata... e logo aceita!

Assim, cantadas baratas
nem olharas bobos
eliminam o amor
que poderá acontecer.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Fonte da juventude

Logo ali,
tão perto que não possa acontecer;
por uma gota,
entre o meu olhar e o teu,
há água que eu não posso beber.

Mas
se o tempo não deixasse de consumir,
junto com olhares meus,
tua fonte, juventude,
rígida de força bruta,
deixaria para os teus

Logo ali, a três palmos de mim,
brota sim, límpida tua beleza;
e eu só posso cultivar,
esperando um dia, como o tempo,
consumir e rejuvenescer.

É só esperar,
logo ali.


segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Inspectro da liberdade

Tempos atrás
sonhava-se com liberdade,
sem saber ao certo,
sonhava-se ir...
Mas no fundo
Ter Ser
ter liberdade era mais importante do que
ser Livre
Já Afetaminas ......
lhe deram as respostas
e balas,
Com outras coisas,
Lhe tiram os pés do chão,
Sem lhe deixar sonhar
Com outra coisa que não fosse ali......

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Vento...

Havia acabado de ler as 420 páginas do livro que ganhou de presente e chegou à conclusão que lia muitos livros, até demais. Acreditava que a literatura era bálsamo e veneno. Ao mesmo tempo em que permitia libertar o pensamento escravizava a alma, incrustando-a desejos que não cabem no mundo real.
Estava agora trancada no quarto, apreciando o cair da tarde através da fumaça do cigarro. Encostada na janela observava o movimento das árvores e o balanço das folhas. Sentia-se agora como se não fosse capaz de conter a alma dentro do próprio corpo. Sentia-se como um gigante pesado que não encontra conforto no quarto pequeno. Como um dragão inquieto, batendo a cauda no chão e cuspindo brasas de ansiedade.
Não era capaz de precisar a causa de tamanha inquietude. Desejava não estar ali, desejava não sentir essa frustração que lhe roía os ossos. Seu peito rebentava em desejos, tantos e tão intensos que sua vida lhe parecia curta demais para que pudesse realizá-los.
Repetia baixinho pra si mesma: “Deixa o vento ventar...” Uma espécie de oração, um mantra no qual acreditava que o vento fosse capaz de varrer pra bem longe a tristeza, a doce solidão, velha conhecida com a qual já estava habituada.
E continuava a murmurar... “Deixa o vento ventar... Deixa o vento ventar e varrer e ventar e varrer e ventar...”

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Outra volta.

Quando voltaste e era tarde,
à pouca luz me encontrou,
não meia luz, pouca luz,
na sala,
meia calça,
meia no canto rasgada,
encobrindo pernas que esperavam um rasgo outro,
aquela hora dos seus dedos, unhas, garras.

A festa foi até tarde parece!?.
Teu cheiro de bebida é forte,
denuncia teu corpo,
outrora tão forte,
tão fraco agora,
caído diante mim,
fraquejando um abraço
praguejando um aperto,
disfarçando um sorriso,
cheio de um sal alcoólico,
de um cheiro eólico de noites sem fim.

A meia luz que era pouca,
te clareava amarelo agora,
teu riso amarelo agora,
era só nicotina,
uma rotina pra rimar
com teu olhos amarelos,
de torpe.

E só agora voltas: tão tarde!
Tão rasgo sem fazer,
em meio as minhas pernas,
que outros braços essa noite, confesso,
até tocaram, afora beijos mil.
Mais espertos que os seus,
menos verdadeiros devo supor,?
mais tristes também,
feito eu,
e você agora esta noite,
quase manhã.

Uma volta.

Toda volta é cheia de glória,
e todo alcance feito de dor!
Toda corda: feito cor,
é torta, corta e solta,
mais até do que aprisiona,
todo roto e qualquer ator.
Acho que a poesia empaca aqui então,
feito faca que entortou,
feito vozes,
que voltou,
ou que voltaram,
seria melhor?
A fraca e timida voz ausente,
de vez se levantou,
pra mais baixo gritar,
quase cantarolando,
sussurrando ao ouvido,
por melhor dizer.
Que a dor,
aquela dor,
que deveras ou não, sente
não é mais, senão
do que uma alegria qualquer,
de um dia comum,
de uma tarde sol,
num encontro postal,
de um par de braços,
por certo abraçados,
ainda que tardos,
caídos no chão.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Tempo, temo, te amo

Temo morrer sem tempo
Te amo e morro por ter
de esperar por dentro
e ir embora por fora
daquilo que guardo.

Temo, te amo e não prático o amor suicida
que se gasta na memória;
nos sonhos mais infames;
nas noites impróprias.

Te amo nas noites
que marcam e passam
Como a vida que se esvai...

Pouco a pouco,
como aquele amor,
temo mais um pouco
não amar mais nada
e esperar dissolver as migalhas
daquilo que não digeri.

Temo e te amo,
o que não quer dizer nada
quando o tempo desaba,
sem deixar vestígios
da vida que passou.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Coisas do tempo perdido


Eu esqueci o relógio no tempo e agora não me lembro quando o tempo voltou a passar. Por isso fico aqui olhando as paredes, suas rachaduras me contam o tempo desta casa: seria algo em torno de quatro frestas na cozinha e outras quatro na sala. Grito por querer saber às horas, ecoa a resposta empoeirada pelo tempo e esquecida pela memória. Quanto tempo pra pensar... Ah! Às vezes, o que eu digo, de tão batido, mais tão batido, me deixa com a cara amassada.




sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sobre amor e liberdade.

Azul...

Imensidão...

Dois pássaros.

Livres!

Crias do Criador.

Só o vento em seus caminhos
e nada mais...

Uma poeira hostil
e uma mudança de trajetória:

Até os pássaros têm seus obstáculos.

domingo, 15 de agosto de 2010

Sincretismo

Nos espaços vazios guardei, cheia de intenções, lembranças carentes por cuidados. Isso me completava da forma como éramos, do saboroso gosto de tempos atrás. Essas lembranças no vazio contaminavam o que já estava preenchido e, como se fosse remédio, devolvia a força que jamais perdi. Eu era outra ou eu mesma antes de ser o que sou agora. O meu corpo contorcia-se com essa transformação. Eu tinha certeza e desejo. Caia convalescida ao ar.

Ao mesmo tempo, faria falta, como fez, ao encontro aquele tempo resguardado para acalentar a alma. Mas o momento de tão intenso firmou, pesadamente, seus anseios em meu corpo. Sua loucura, razoável, em temer o próximo instante deixou-me tensa. Não poderia eu suportar por nós dois os descuidos e destemperos fortuitos de uma noite em que tudo seguiria num caminho inimaginável. Sem controle, muito mais do que a dor na falta de tempo,o meu delírio vinha da sua transformação.

Eu já não era mais carne, pois flutuava ao som de canções afros e Iansã protegia meus passos ao calor da luta. Lutaria por aquilo que me seria. Num redemoinho de fogo eu forjaria o nosso amor. Decidida na sensualidade fina de mulher perdida eu me acharia em seus braços nada material, mas parte e extensão do ritual de união. Nessa fração, com outros aspectos, seríamos sim como éramos, pois éramos a fração do aspecto. Além da matéria, eu voltaria a enxergar nossos sonhos. Nos reconheceríamos, talvez, por instantes e instantes; e tudo seria novo, teria o sabor gostoso do velho e a delícia do recente.

- No entanto, eu já não era ela, eu era o observador, meus olhos tremiam ao vê-la dançar volúvel; esvaindo-se na fusão de nosso corpo. Eu me vi tragado e repelido ao ar por várias vezes. Ela me envolvia; eu penetrava em seus poros. Num processo intenso, éramos um em dois corpos, sem nada ser para um novo recomeço...




quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Pão e queijo


Eu vejo como esta,

 corto,
fatio em pedaços,
rogo que me faças bem,
limpo o canto e sento,
lavo as minhas mãos,
lá fora um sereno:
or-valho
nada pela manhã.
Pois...
Depois dessa noite quente,
não vale nada oração.
Mas creio ainda...
ouço o som da chaleira,
preparo o queijo,
abro o pão ainda quente.
Como na noite anterior,
fatiado por unhas
o meu corpo sedia por um final feliz,
quase ao ponto de se deixar levar
pelas astúcias tuas,
tirando a culpa das entranhas da consciência
de quem nada fez,
de quem nada vale,
de quem nada lembra,
e só merece
pão e queijo antes do adeus,
como uma última consideração.



domingo, 1 de agosto de 2010

Hipoteticamente falando:

Eu não deixaria de fazer algo
por achar que seria algo
o que eu nunca fiz.

Viver o que não existe
já não cabe em meus sonhos...
Aliás, se fosse talvez quiçá práticas do que não é,
o hipotético amor seria tão real quanto a ilusão.

Entretanto,
nas circunstância que nos encontramos,
a pele e o tato gritam bem mais.

E a dor que sinto quando te vejo,
naquele misto de repulsa e desejo,
me deixa confuso num amor que já foi ou é.

Não sei como pedes definição do que não é tangível.
Poderia eu dizer: é algo tipo assim, uma coisa que já deixou de ser.

Ora, e o tesão da vida onde fica nos seus princípios?

Aqui seria uma conversa pra noites inteiras;
chegaríamos sim em lugar algum,
passaríamos o tempo falando besteiras,
desfrutaríamos algo comum,
beberíamos na mesma taça.
Ainda, sem concordarmos,
teríamos uma noite agradável de pele e prazer.

Mas isso é algo que você não se deixa permitir porque o se
de um outro dia imaginário te preenche, cala tua boca,
Mata tua carne e te enterra viva.



sábado, 31 de julho de 2010

Entre o lúdico e o real,
sempre fico com a fantasia.

Mas onde estava a danada?

Colorida, saltitava por aqui...

Faz pouco tempo...

Com uma cor tão intensa...

Aaah!

Achei-a.

Um descanso.

Um travesseiro cheio de borboletas.

Uma leve brisa rosada.

O repouso das fantasias.

Enquanto flutua em seu canto,
recarrega cor, brilho e sabor.

Já é hora.

A fantasia voltará.

(Suzan Keila)
Guardei.

E sabia o porquê.

Era para você.

Amor guardado é mais nobre,
vem com gosto de saudade.

A menor explicação e o
maior amor do mundo.

Sonhos entrelaçados...

Três vidas e
uma só alma.

Somos uma só poesia...

Que ganha o mundo
embalada em um som encantador...

Em vida,
sou uma só.

Fecho os olhos...

Cheiro de amor bem guardado...

Somos três almas,
numa só poesia:

Eu, você e nossa cria.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Dias difíceis.

Como percebes assim minhas mentiras, ?
Como te atreve olhar nos meus olhos assim?
E dizer taxativa, que não falo a verdade, embora acredite.

Quem te deu permissão?
De entrar assim no meu corpo,
e assim, de repente,
em meu coração caxias,
se deixar ficar.?

Não me recordo autorizar tuas intrigas,
não te concedo assim, como irmão
juras e brigas.
Essas são minhas!
Ou não?

Infinitamente mil vezes São,
Pedro, tu que é pedra,
a ti rogo,
que sim seja quando,
só vale senão.
Porque pouco é resto,
se sobra ou sobre,
a sombra certa,
do nosso amor desmedido,
eu me fizer teu namorado.

domingo, 25 de julho de 2010

Recado

Olha moça:

Apesar dos pesares os joguetes enganam

Os pensares deturpa-se em cada interpretação

E num dialogo entre a dúvida e a certeza

Nem toda conversa boa é romance

Nem todo beijo é paixão

Nem todo abraço é sexo

Nem todo não é não

Assim veja:

Nem toda conversa ruim é negativa

Nem toda carne é ato

Nem todo fim é briga

Nem todo desejo é sensato

Nem toda mentira é intriga

Logo visto:

Arriscando a perder o quê não sabe se ganhou

Embriagado ao sabor da carne, com olhos de lado, de culpado

Pensando se esse jogo não fosse necessário, tentaria um ato de

Repúdio a um jogo sedutor.

Visto moça:

Os olhos dizem bem mais

Quando extinta a sedução

Seduz instintivamente

Os olhos entregam-te

Sem dúvidas ferozes no ar.

Mesmo assim:

A sedução se faz

O jogo desfaz o ato sedutor.

Tudo que é demais extrapola em gestos traiçoeiros.

Assim moça:

Nem toda conversa falada tem o mesmo desejo

Mas sim, sinceramente, todo olhar parece ter.

Duvida moça?

Meus olhos interpelam os seus

Nem outro, nem o mesmo, nem eu ou você pode dizer que a conversa acabou?

É isso moça...

sábado, 24 de julho de 2010

A girar

Ah, já sei!

Estou pronto:

Braços abertos,

Um pouco perto,

Um pouco são.

Posso cair,

Então,

No seu perdão,

Posso seguir

Na contramão

De toda razão

De existir,

De não mentir

Na ilusão,

Ao sentir

E ser feliz

Como um pião,

Em sua mão...

Em suas mãos.

A girar.

sábado, 17 de julho de 2010

]Tiro curto.

A poesia hoje nasceu diferente:
como se quisera sorrir, sair!
Não nascer.
Ser em si,
por que sabia sim,
era chegada sua hora.

A noite que passa

O que ter pra tirar da cartola,
quando o canto da noite,
é o canto da solidão?
Que alma penosa que chora,
que goza la fora,
na noite de então?
Sussurros e gritos sorrindo.
Copos estilhaçados,
rostos vis, coisas vãs,
o todo sentido se perde,
no contar das horas,
que demoram tanto,
pra te trazer de volta.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Um outro lado de mim

Lembro agora daquilo que esqueci - como esquecer o que vivi?
Mas viver e não lembrar é não viver.
Confesso. Quis tantas vezes me esquecer.
Sair de mim e ser, talvez, aquilo que não vivi.
Poder ser de novo, sentir o novo.
Sentir e reviver aquilo: um outro lado de mim.
Um lado que não sinto. Que não vivia?. Será?
Lembro agora que já vivi no tempo da imaginação.
Ah! Que vontade de fazer-me assim completo.
Entregar-me totalmente aos meus anseios
Ao que me falta. Desejos transbordam.
Se estavam esses adormecidos, sou eu latente de novo.
Isso é real. Revivi. Como esquecer ( o )que Vivo?
Faço agora um novo amanha de lembranças e ações.
Numa lembrança contida em mim, sou agora realidade e sonhos.

Marília Cardoso & Ronaldo Furtado

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Prece

Não vem.
Aperta não.
Deixa passar,
não passa não.
Fica assim, perto de mim.
Já vem.
Desilusão.
Deixa passar.
Fica não.
Já era,
Segura a mão.
Enlaça.
Não solta não.
Evoca na prece,
na ilusão,
porque o amor,
de quem merece,
é quem não esquece
de pedir perdão
 ao sorrir.

sábado, 10 de julho de 2010

Sobre o amor à La saudade.

Hoje aconteceu algo muito estranho. Espero que todos entendam ao pé da letra cada frase aqui escrita.

Revi um grande amor.
Como sempre acontece quando reencontramos grandes amores, ele estava acompanhado. Senti uma imensa saudade dos tempos em que andávamos lado a lado, em que deixávamos abismadas as pessoas nas parada de ônibus (aquelas gente toda normal do dia-a-dia) com os nossos beijos apaixonados; senti saudade do nosso andar desbravador em cidades que não as nossas; saudade de bolar planos mirabolantes para morarmos juntos; uma extrema saudade dos filhos que não tivemos, mas que escolhemos os nomes pouco antes de dormir em uma noite qualquer; saudade das noites que perdemos jogando sinuca, mas ganhamos sorrisos de maus perdedores; infinita saudade do acordar ao lado, de comer macarronada com tomates cortados obssessivamente em quadrados; saudade do beijo de despedida recheado de "até logo" que não chegou... Até hoje!
Até rever o grande amor com ela.
Essa que deve ser grande também, como são os amores...

Desesperadamente, em um ato mesquinho de auto-salvação, escrevi para o meu novo amor: "Saudade!".
Ao ler o que tinha escrito, não reconheci a palavra. Mesmo gramaticalmente, não fazia sentido algum. Procurei no dicionário para ver se era daquela forma que se escrevia. Fiquei pasma ao confirmar que sim, que estava certa a escrita.

Constatei: dicionário nunca dá o significado exato do sentimento.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Perdas e ganhos.

Sobre perder, eu sei.
Sou muito boa em perde chaves, canetas, livros...
Já perdi o ônibus, já perdi a hora, já perdi tantos beijos...
Já perdi a vergonha, já perdi a cabeça, perdi máscaras e camisinhas.
Perder grandes amores é quase minha especialidade.

Sobre perder eu sei, mas nunca vou me recuperar de cada umas essas perdas.

Nunca vou me recuperar do chaveiro vermelho e verde que carregava minhas chaves, das canetas pesadas do meu avô, dos livros lidos e perdidos antes da releitura; não tenho como me recuperar da estrada que não peguei, dos minutos que enrrolei, os beijos que nunca dei; vergonha e cabeça, não tem como eu me recuperar mesmo. Todos os sexos que não fiz por que perdi a camisinha... como me recuperar disso?!

Eu sei perder, entendo o processo... Mas não há como se recuperar de tudo isso.

Um dia minha mãe perdeu o juízo e se separou do marido. Depois de algum tempo, ela se casou de novo e eu pensei: lá vou eu, me acostumar pra depois perder. Engoli à contragosto... Sabia que ia perder.

Se passaram 13 anos, e hoje sinto que esse dia se aproxima cada vez mais.
Sei que nunca vou me recuperar se eu perder esse meu pai. Se ele nunca mais se levantar daquela maca, se ele nunca mais voltar pra casa, vou perder feio e não vou me recuperar.

Mas hoje, pela primeira vez em tanto tempo pensando que vou perder mais uma vez,.. hoje, olhando pelo vidro da Unidade de Tratamento Intensivo eu percebi: só se perde por quê um dia se teve. Eu o tenho há 13 anos, e ganhei inúmeras chaves, canetas, macarrão com queijo, suco de goiaba e cigarros escondidos, quando minha mãe não sabia que eu fumava.
Eu ganhei um bucado.
Ganhei um pai, um chato de galochas, um amigo que nasceu em 1947...
Posso não me recuperar se perdê-lo, mas não conseguiria sequer respirar à sombra da simples idéia de nunca ter tido todos esses anos.

Eu nunca vou me recuperar de uma perda, mas ainda bem que eu a tenho pra provar por a + b que só se perde o que de fato se tem.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Lembranças tuas de um amigo teu.

Sem nunca está só, senti uma enorme solidão. Senti sua presença em minha noite. Senti suave como o açoite a lembrança que me preencheu. Foi um intenso caláfrio que anunciou a volta do que passou. Assim, trazendo-me dúvidas se aquilo mesmo era solidão ou se era conforto do que já foi bom. Eu não estava de modo algum isolado. Aquela lembrança súbita encheu minha sala de alegria. Nostalgia boa como um abraço de quem você quer amar. Um abraço de quem você já amou; abraço qual diz muito mais do que o encontro de dois corpos. Um abraço de frases completas; declarações e ação de bem querer. Será essa a solidão que eu quero pra mim. O isolamento físico de lembranças sublimes que me trazem coisas boas do que já vivi, mais do que isso, sensação boa que me faz gostar de viver. Não existir apenas. Viver todo momento, até o momento de solidão.

domingo, 4 de julho de 2010

espiritos.

Se é assim então, escrever pra ti comedido quase.
Prefiro não, tão pouco. Dentre as tortas linhas da sã certeza,
entre a mesa sua. Eu digo não e não vou, falando direitinho pra tu me ouvir,
todo dia, "diréto".
Eu não!
Eu fico!
Eu passo!
Eu sigo!
,e sou.
De novo
todo, e
quase,
vírgula lá.
Onde encontro-me, em si,
pecando-me.

Quase renovando meu grito, eu sozinho,
descuidado e deserto de outras rimas irmãs.
Por que agora é moda em cá,
sofrer sozinho, e mudo e parado.
E ponto e surdo.
tantos,
segundos,
forem.

Quase já, quase lá,
prestando homem e imagem,
a quem, quando morrer ficar.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Longe descuido

Eu não espero nada. Já de longe, vejo você passar: sorriso no rosto, flores nas mãos, meigo e sereno olhar... Carícias em meus cabelos, suave afago, brincadeira... Distante lembrança; sentir seria rememorar... Frio na espinha desce e encharca meu corpo. Soa longe uma cantiga de amor... Quase tagível, quase própria, quase nossa canção. Vejo você também colher felicidade, solto um sorriso pequenino: colher é diferente de cultivar. Sem poder falar, aceno em sua direção. Mas sendo tudo ilusão do paraíso que criei, não havia flores em suas mãos, nem felicidade que imaginei. Confusão preenche minha alma. Se não era você linda e calma, maldito sonho que sonhei. Agora, espero a alvorada, a hora certa para perguntar se está tudo bem.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

1000 Sóis

Permanece em mim
Mesmo que a Distância
Há pouco tempo se faça.

Permanece na fadiga,
no ferver que sempre me foi inerente.

Se meu fosse o calor
No inverno eu estaria.
mas na física destas partículas
Não me atrevo teorizar;
E contradizer, jamais!

terça-feira, 29 de junho de 2010

Poesia pra ti.

Aí: não tinha rima nenhuma!
Nenhuma rima rimava.
A poesia era muda.
O silêncio era nada.
Ali a idéia passava,
o sentimento fluía,
e a caneta faltava,
a pena doía,
o canto se inflava.

Naquela muda de noite,
toda sorte era bruta,
e toda pedra parada.
Quando a rua chama os loucos,
tens mais não uma escolha,
Eu me fazia de surdo.
escutava teu grito,
fechava as janelas,
e queria escrever.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Gira Mundo

Gira o mundo

Resta pausar

No tempo

O que não é.

Fazer ficar

Guardar

Meu amor

Em outro lugar

Num tempo

Que não é mais

No tempo das paixões.

Esse lugar

Onde guardo

Posso chamar

Paraiso da ilusão.

Pois

Um mundo que fica

Um amor que dura

Não existe mais.

Só lá e só Mi Fá.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Como, poesia?

Como eu poderia juntar palavras,

Assim a esmo, para parafrasear

Verbos e conjugar contextos?

Como poderei refrear ações ao anunciar

Porções do verbo amar?

Fazendo tudo sem texto,

Sem traço, sem mesmo enunciar

Frágeis frações de fraternidade;

Traços prolixos de linguagem,

Meu amigo eu que não sabe falar.

Se existe uma declaração muda,

Uma noiva surda,

Um romance casual!

Como poderei usar de comunicação

Intra-verbal, circunstancial, sensorial?

Como não conter os atos de louvor.

Algo parecido com amor,

Furor da simpatia,

Fazer, no silêncio, perdoar,

Com minha P-O-E-S-I-A,

Algo que não posso representar.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Redenção

Um erro inocente e sem inocência,
corrói sulfúrico quem o comete quando machuca alguém.
É pior porém, quando esse alguém, é a quem sem,
você não saberia quem ser.
Não porque o tempo não tenha te dado a calma fria da paciência,
que uma raiva repetida e nova exige. Mas sim, porque o amor confunde a alma,
e agora não sabe mais quem sê-lo: se é ela ou tu, a quem fere o zelo.
E o amor parece diminuir na dor da ferida latente. Mas amor, amor de verdade:
esse não tem medida, não é grande e nem menor,
nem mais belo ou pior, amor é amor e só,
se existe, existe em redenção.
Te amo.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem tantas vez enquanto vivem,
são eternos como é a natureza.

Pablo Neruda

domingo, 13 de junho de 2010

Amor

Não vai tão longe,
Não me deixa seguir;
Segue um dengo,
Voz miúda,
Carícias mudas;
O meu amor;
Um vocabulário próprio,
Mãos atadas,
Frouxas risadas...
E tensões.
Ciúme bobo...
Há contragosto,
Vamos seguir.
Faz-me um dengo,
Preencha-me à noite,
Faz-me existir...
Como o teu amor.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Rotina

Quando nos encontramos,
despidos e descalços,
distantes de tudo e unidos em comunhão,
quando é alma e alma somente,
quando meu nome é teu corpo,
e tuas mãos meus anseios.

É ai que sou inteiro,
e de todo felizardo,
te amando em plenitude,
onde suor salgado é rio,
em que lábios são beijos,
seios são línguas,
e línguas desejo.

Gemidos, unhas, deslecho, moleza,
que horas são?
Batidas na porta, sussurros,
- é tarde! Vai!
É cedo! Vem!
Tua cama ainda não tem ninguém.
Te amo. Eu Sei.
Te amo, também.

As coisas que ficam quando eu vou.

Aos teus olhos, que longe deixei,
deixo também amarguras,
um pouco de rugas,
e um tanto de mim.

Aos teus cabelos, entrego meu curto desejo,
e sem tê-los,
desejo meu alcançar,
em braços de outro abraçar.

Ao teu sorriso,
que dele fujo a toda.
Escondo-me e sou à toa,
me mostro agora tosco,
dividido,
entre tua eternidade,
e tua beleza.

no sertão

Estive longe, por ai,
nas terras do sertão,
nos cantos do siará,
correndo buscando cantigas,
encantos dos índios sem lar,
tecendo e ouvindo historias,
de gente doida da vida, de sangue,
de honra e de folga.
Folga de meio dia, sabe? Depois do almoço?
Quando tudo pára,
e o mundo disfunciona,
e as pessoas se deitam,
e a tarde se deixa demorar até a noitinha,
quando a lua sai bem mansinha,
calada, num vestido branco-magno,
dum supremo negro, eterno,
um terno caldeando-se de cinza, de sereno
e frio.
O sertanejo, se deita no chão batido e gélido,
de bebida ou de saudade, tanto faz,
mas ali, sua alma faz confusão com as estrelas,
e ele sonha ser mais.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Agora que sinto amor
Tenho interesse nos perfumes.
Nunca antes me interessou que uma flor tivesse cheiro.
Agora sinto o perfume das flores como se visse uma coisa nova.
Sei bem que elas cheiravam, como sei que existia.
São coisas que se sabem por fora.
Mas agora sei com a respiração da parte de trás da cabeça.
Hoje as flores sabem-me bem num paladar que se cheira.
Hoje às vezes acordo e cheiro antes de ver.

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O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.


Alberto Caeiro

sábado, 22 de maio de 2010


Existe algo...
atinge a alma,
regenera o coração,
Acaricia os sentidos;
faz calmaria

em mares bravio,
lança um ritmo
em tom de prazer.
Lembram um...
AMOR,
nos traz lembranças felizes.
levam-me a você
numa noite de solidão.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Minha poesia inacabada.

És tão lindo aos olhos de minh’alma,
que não ousam importar-se
os meus olhos biológicos.

O barroco mais perfeito
e uma delicada contradição.

Um diamante a ser lapidado,
carrega em sua (im)perfeição
o mais intenso brilho.

Você, Meu amor.

De tão (im)perfeito
encaixa-se perfeitamente
em minha (im)perfeição

O inacabado que há em você
completa-me...

E juntos,
somos um só.

Uma só poesia.

Uma só alma.

Um só diamante.

O que há de mais precioso.

Minha doce e imperfeita pedra nua,
serás o meu amor
enquanto a poesia existir.

Por todas as luas e
por todos os sóis...

A poesia não tem fim.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Palavras

As coisas são realmente muito mais do que as expressões... Entretanto, compreendemos apenas aquilo que possamos alcançar. Uns vão mais longe, outros não se arriscariam tanto. O que está cartografado, classificado, torna-se cômodo para um bom entendedor. Ora, se meia palavra basta, alguém faria esta pergunta: será que existem apenas os algarismos em uma palavra ou há algo mais?
Sim, ando pensando no que deixamos vazio nas palavras, no que se perde. Penso, por exemplo, nas dificuldades que encontramos quando vamos falar das coisas belas, das coisas que realmente nos importa (como é difícil falar do que realmente sentimos). Às vezes, é fácil perceber nas pessoas o descompasso entre o que sai da boca e a vontade pulsante no seu corpo. Existem coisas que saltam dos (aos) olhos, existem coisas que esses velam. Coisas que ficam mesmo nesse sentindo vago no qual emprego aqui. Coisas...
Ah, como faltam palavras e sobram comunicações. Tudo caminha pelo terreno do mal entendido. Continuando o exemplo: como é difícil falar das coisas belas. Não é que não falamos, é que existem situações nas quais as palavras tonam-se difíceis. Elas forçam o leito dos sentimentos sinceros, usurpam o próprio valor sentido; pois, muitas vezes, o interlocutor não percebe ou sente os significados das tensões corporais. Seria possível organizar o que se vai dizer, preparar a resposta, desvendar o silêncio, ver os olhos longos desvelando um pedaço de intenção; ao mesmo tempo, sentir as vibrações corporais, a densidade da pele, perceber a respiração ofegante, medir a pressão do corpo, os batimentos do coração e ouvir?
Na existencia de todas essas coisas paira ainda um vazio que só poderá ser superado pela sicronização dos sentimentos, do pensamento e da intuição. Esse vazio existe porque, no tempo em que tudo isto foi feito, algo escapa à percepção simples. Mas não escapa a outras formas de comunicação…

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Jaula noturna.

Adoro tudo nela quando dorme.
Sua sonoridade austera, seu balançar de pernas, suas mãos com força cavalar que se mexem, que machucam.
Eu adoro.
Seu rosto amassado, seu cabelo que mais parece um rolo de lã que um gato acabou de brincar...
Adoro como, as vezes, no meio da noite, ela morde os lábios, geme baixo - algo grandioso se anuncia em sua mente, e eu, expectador medícore dos sonhos alheios, espero ansioso o desfecho. Parece que pressente: de repente as expressões se voltam calmas, por vezes esboça um sorriso, quase um desdém. Até essa frustração que me dá, eu adoro.
Adoro tudo nela quando dorme.
É o tipo de paz, o tipo de amor, o tipo de calma que ela nunca - nunca! Nem no maior dos meus sonhos - vai conseguir me transmitir quando está acordada.
Eu a odeio quando está acordada.
Odeio quase tudo nela quando está acordada.
Mas adoro tudo - tudo! - quando ela está dormindo.
Um amor que nenhum outro alguém vai conseguir despertar nas minhas entranhas - sim, o amor é nas entranhas -.
De modo que vivemos de escalas: eu durmo durante o dia, ela durante a noite.
Nosso amor é feito de silêncios e sombras. E só.

Na pior das hipóteses, se ela acorda e eu não tenho sono, corro pra rua.
Ando, sem saber para onde, mas com a certeza de que qualquer pesadelo é melhor do que estar do seu lado quando ela está acordada.

A odeio quando está acordada.
A quero dormindo.
A quero calada.

Dormindo, ninguém ameaça.
Dormindo, ninguém foge.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Ora essa, eu não sei rir a toa.

Tem dias, longos dias, que guardo pra mim. Não os empacoto, não há fitas vermelhas que o abraçam, nem lindos cartões com frases pré-escritas mostrando como bons e claros são estes dias. Eu os guardo simplesmente por que me foi uma tarefa dada. Quase uma voz celestial que disse ‘Faz destes teus dias... Pois não há nada neles que vai interessar qualquer outro alguém’. Sim, são somente meus não por que os quero, por que os fiz assim, mas por que são tão vazios e inúteis que se eu não os guardo, e os cuido, neles mesmo me acabo. Se não os cuido, eu mesma me vou. Vazia, como eles.

São longos, longos dias de cinco sentidos quase mortos, quase seis – sentido nenhum, o ultimo deles.

Às vezes esses dias duram séculos de uma semana, ou de duas ou de mês. Não importa. Os levo, os guardo, os deixo passar como querem. Não os interrompo. Tenho medo do estrago de uma pausa concreta. Freios também causam acidentes...

O que importa é que, em forma de gratidão ou apenas compaixão, a mesma voz que me leva a segurar estes dias com as mãos, os juntando pelos dedos, também me anuncia seu fim.

Quando eu acordo e sei que sonhei com um encontro ao acaso. Acasos sempre me animaram. Um encontro ao acaso, um olhar descuidado, um sorriso compassado, um cigarro apressado... Sim, os dias de agouro se vão ao simples anunciar de uma possibilidade nunca antes pensada, e agora quase nunca esquecida.

Te seguro, dia estúpido. Amanhã te jogo no ralo, e vou à praça esperar meu amor para que nele possa esbarrar, chamar para um café, e rirmos dos dias estúpidos que ele também deve ter ao me esperar no esbarro.

Um dia, um dos meus acasos planejados há de dar certo. Com o amor do esbarro na praça, ou com a mão sem querer no mesmo livro da livraria, ou com o cara que pediu os últimos pães da padaria e insiste em dividir comigo...

Nesse dia, então, rio a toa.

domingo, 2 de maio de 2010

Vai entender?

Quem vai entender qualquer coisa assim?
Se tudo que eu ainda sinto é o amor ou ainda tudo que vem da loucura chamada paixão (coisas clichês que permanecem em quase todos romances ou tragédias).
Vai entender?
Brigar, xingar ou se fazer de indiferente; achar que com a distância estará tudo resolvido e pra quê? Se na falta lá se vai precisar dum ombro amigo ou de tragos amargos de esquecimento.
Vai entender, mas existe explicação? Precisa?
Sei não... sei não, fico a brincar com as ilusões.
Fico a viver o amanha sem suportar o hoje, o instante que lhe perdi:
O pensamento voava e eu pensava em viver sem ti...
Vai enteder, quando eu ouvi sua voz e notei você como realidade, o amanha se fez pra mim.
Não pensei, queria sentir seu corpo no meu como se fossemos amantes e não casal em separação... Sinceramente, que palavra feia é Divórcio (Mesmo que eu não ache bonito a p.,. Casamento).
Vai entender?
Sei que tudo passando, espero que venham logo aquelas reconpensas da recociliação
ou não,
mas sim,
há de se entender.

sábado, 1 de maio de 2010

Ferina é a língua que corta a carne ao falar;
Feroz é o silêncio que congela as emoções,
De tantas sensações o corpo paira no chão,
De ar;
Sem respirar,
\Pesado,
Mudo a cintilar um fio de paz.
Mas há de esperar cicatrizar,
Deixar luzir um novo amanha,
Por que não?
Um final feliz,
Como se quis nos romances ideais.

domingo, 25 de abril de 2010

Tardes de Acaraú.

Sentei aqui e me deitei nesse papel tecnológico, pena em punho, atento e cismado, certo de que escreveria uma poesia sublime. Uma daquelas que o poeta duvida se realmente a escreveu. Onde sintomaticamente contamos ao mundo nossa mente errada, infantil, romantice, ou perdida tanto faz. Não sentimos o sentimento, o falamos só. E na palavra combinada ou não, terceiros ou sim, rimas fáceis ali, tortinhas: não importa. A poesia que iria escrever, quando sentei aqui, e me deitei no plasma lcd papiro, era forte. A poesia tava viva já, rimada e sonorizada feito um fato em si menor. Estilo drummond, docemente leve e encucante.
Mas de súbito, a poesia não veio, e a tarde passou,
num vai e vem muito, muito insensível em mim.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Moderno

Tantas coisas foram ditas
   escritas e revisadas
Soluços inteiros

    boas risadas,
      Frases de amor

 expectativas frustadas

Suas palavras em minha boca
seu pensamento,  o meu desejo, o 
desengano 
não há engano e o não quero mais, amor.

Eu, você, somos muito para um só.
Mas se for engano, eu quero agora, por pouca hora, um pouco só,
Um amor duma vida inteira, um amor de quase nada,
Das últimas longas noites, das noites perto do fim.


Pois...


 tantas coisas serão ditas, escritas e revisadas,
os encontros casuais, os ciumes pontuais,
as frouxas e belas risadas, sem já mais existir...


Um amor repetido!

Das dunas fiz um porto.

Diante de ti tremo e tenho tudo e remo tanto  para não falar que minha rima fraca e cansada de repouso e  de descanço de um trabalhador da p...