domingo, 15 de agosto de 2010

Sincretismo

Nos espaços vazios guardei, cheia de intenções, lembranças carentes por cuidados. Isso me completava da forma como éramos, do saboroso gosto de tempos atrás. Essas lembranças no vazio contaminavam o que já estava preenchido e, como se fosse remédio, devolvia a força que jamais perdi. Eu era outra ou eu mesma antes de ser o que sou agora. O meu corpo contorcia-se com essa transformação. Eu tinha certeza e desejo. Caia convalescida ao ar.

Ao mesmo tempo, faria falta, como fez, ao encontro aquele tempo resguardado para acalentar a alma. Mas o momento de tão intenso firmou, pesadamente, seus anseios em meu corpo. Sua loucura, razoável, em temer o próximo instante deixou-me tensa. Não poderia eu suportar por nós dois os descuidos e destemperos fortuitos de uma noite em que tudo seguiria num caminho inimaginável. Sem controle, muito mais do que a dor na falta de tempo,o meu delírio vinha da sua transformação.

Eu já não era mais carne, pois flutuava ao som de canções afros e Iansã protegia meus passos ao calor da luta. Lutaria por aquilo que me seria. Num redemoinho de fogo eu forjaria o nosso amor. Decidida na sensualidade fina de mulher perdida eu me acharia em seus braços nada material, mas parte e extensão do ritual de união. Nessa fração, com outros aspectos, seríamos sim como éramos, pois éramos a fração do aspecto. Além da matéria, eu voltaria a enxergar nossos sonhos. Nos reconheceríamos, talvez, por instantes e instantes; e tudo seria novo, teria o sabor gostoso do velho e a delícia do recente.

- No entanto, eu já não era ela, eu era o observador, meus olhos tremiam ao vê-la dançar volúvel; esvaindo-se na fusão de nosso corpo. Eu me vi tragado e repelido ao ar por várias vezes. Ela me envolvia; eu penetrava em seus poros. Num processo intenso, éramos um em dois corpos, sem nada ser para um novo recomeço...




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