segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Hoje, Amanhã ou Depois

Durante esse transito de mim
no meio você está.

Você e mais dois
e mais três
e muito mais do que imagino ser, ter ou querer.

Telefone não alimenta meus sentimentos
mas destroi minha mente com pensamentos perversos
submersos nas maldades que os homens insistem em cometer...

Nesse fim de ano
sinto um novo início em mim.
Só naõ sei se nesse novo início cabe você
e os outos dois,
os outros três,
e os outros,
mais do que imagino ser, ter ou querer...

Plagio.

Prometo que não te peço mais pra voltar,
é a ultima vez, só mais essa,
se não voltares, é ex,
te deixo em paz,
deixo seguir,
deixo pra trás.
Mente então que não quer voltar,
e volta a ser sozinha!
Volta que talvez, o mundo ainda te pertença,
vai que ainda não foi dada sua sentença,
e vai que tu encontras alguem melhor do que eu.
Se voltar porém,
te faço mar,
poesia e canção,
a rainha, a princesa, o refrão.
Te faço a dona do meu barracão,
plagio da melhor qualidade de música,
da melhor cartola, do melhor francisco.
E se voltar mesmo, eu prometo,
vai ser a ultima vez.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Pra esse mar

E assim, meio à naufrágio, insisto mais um pouco
A navegar por mares que não pertenço, que não desconheço,
Traficando sintomas de desejos em meu corpo;
Findando lamúrias de um ser superior.
Aos poucos, inalcançável, foge-me o ar.
Não tenho meus pés nos chão.
Um pouco a deriva nas ondas,
Contrapés, contramão.
Eu me agarro às camadas de sal,
As mesmas que me desidrata,
Àquelas que me faz viver.
Navegando à contrapelo, ao mesmo pelo;
À transversal.
Assim, trafego por portos seguros a assegurar um cais.
Perigoso é trafegar.
È viver como pirata;
Sem métrica nem rima para esconder os desvelos, a dor, no mar.
Navegar sem rotas passadas, um pouco naufrago.
Um pouco só.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Game Over

Vamo recomeçar
tá dificil
pra rimar,
pra esse
mar.

Tá assim.
um sim sendo
um enfim.
facil,
de finalizar.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

In memorian.

A memória é um mecanismo estranho.
Ela nos força a guardar lugares, cheiros, pessoas, acontecimentos... Bons ou ruins.
Ela abre armários e mais armários na nossa cabeça pra guardar uma porção de números de telefone, de datas de aniversário, de consultas no médico.
A memória pode nos ajudar a lembrar onde deixamos aquela nota de 2 reais que a sua mãe mandou você trazer de troco; pode nos forçar a lembrar da besteira que fizemos na noite passada...
Memória é importante... Constrói um bom pedaço da nossa personalidade... Ela soma nossas experiências, seleciona acertos, salva em um CD os erros, no caso de ter que nos mostrar pra dar um sermão...
Memória te dá a possibilidade de ver a infância, o aniversário de 10 anos, a queda da bicicleta, o primeiro beijo, o primeiro porre.
Memória é uma questão física, biológica, química.
E contra ela, existem drogas, stress, distúrbios...
Memória falha, memória apaga, memória trapaceia, memória morre.
Meu DDA pode travar minha memória, fazer eu passar por maus bocados, atrapalhar minha vida inteira... mas quando a gente ama, a memória ganha outra conotação, outro significado, outra força motriz. Ela consegue restaurar tudo que já tava perdido pelas estantes, empoeirado, travado pelo DDA...
Sabe quando você escuta: existem coisas que você não esquece nunca?
Essas, pra mim, são poucas, já que meu distúrbio não me dá esse luxo.
O Sol daquelas costas, refletindo o sol do céu, é uma dessas lembranças.

*Na minha memória existe um lugar cheio de ondas e uma plantação bem cuidada... O nome de lá é Marcelo.*

Graciosidade temporal.

A graça da vida é ela passar...
Levar os meu dias, minhas agonias
Lavar as feridas, bater o portão
Deixar para ontem o tempo perdido
Rasgar com o vento a total solidão
A graça da vida é ela passar...
Passar com meus dias, com as noites também
Passar com janeiro feito vendaval
Atrasar os minutos, me fazer de refém
Contar os segundo para o carnaval
A graça da vida é ela passar...
Ver folhas cair, o sol me torrar
Ver flores surgir, o frio congelar
Levar os meus anos, os meus desenganos
Aumentar as velinhas, mudar os meus planos
A graça da vida é ela passar...
Trazer gente, levar gente
Pensar no futuro, esquecer do que sente
Esquecer do presente, presentear
E a gente?
A vida acha graça quando você me passa pra trás...
Mas eu digo "A graça da vida é ela passar"
Você me engana, mas a vida passa e te leva pra lá.

E não existe nada mais gracioso do quê ter a certeza de que amanhã vai ser outro dia.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O velho e o moço

Eu sou o velho e o moço numa só alma. O velho já se cansou das antigas feridas, dos recalques insistentes, dos hábitos arcaicos. O velho já não confere aos seus fantasmas o direito de permanecer. Nas andanças da vida aprendi que na velhice a águia esmigalha o próprio bico envergado para sobreviver. Sei que muitos dirão que é um exagero utilizar tal metáfora mas, eu também quebrei o velho bico que me impedia de comer cada pedaço de vida que me era oferecido.

O velho em mim permanece numa mesa de bar, numa roda de samba, numa prosa animada. O velho em mim ainda vive mas já não carrega a melancolia de outrora, em seu lugar traz boas gargalhadas, cantarola novas e antigas canções. Coabita com o velho, no mesmo corpo, o moço. A mocidade que caminha com malícia, com malemolência. Meus olhos, antes opacos e distantes, hoje são olhos de corça, sempre à espreita da presa. Esses dois seres dentro de mim coexistem num infindável duelo, um quer fazer valer a experiência e por isso não se atira e o outro rebela-se contra o marasmo e debocha do medo do companheiro.

Tudo o que sei é que desse duelo não sairá vencedor pois eu preciso dos dois, um não me deixa esquecer meus caminhos e todas as veredas em que me perdi e o outro me permite perder-me outras vezes mais...

“Sou o novo, sou o antigo, sou o que não tem tempo...”

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Antes não havia nada.
Distante sempre;
Sempre igual a alguém.
- Como distante?
Sim!
Alguém igual a nada;
Solvido em tudo.
- Como distante?
Como alguém, não igual à antes.
Um pouco além,
Um pouco ninguém;
Um pouco distante.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Ohos de ressaca

Que coisa mais magnética é seu olhar:
são olhos me olhando devagar.
Coisa mais cheia de requinte,
Estético e hipnótico,
cinético e algo mais.
Parece pequeno, mas é grande.
Tão imenso, parece um mar.
Cheio de pacíficos e atlânticos olhares.
E me olha, e me olha, e me olha...
- Olá, sabe que eu estava admirando seu sorriso?
- Olá, sabe que eu reparava seu olhar?
E nasceram poesias e confissões,
e muitos beijos, 
e já não se sabia mais,
se os olhos sorriam
ou se o riso olhava-nos!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

E lá se vão dias sem você

E lá se vão dias sem você,
dias infindos de não te olhar,
dias tortos sem ti,
quando nada acontece,
e até o vento sopra parado!
A lua já brilha um brilho choroso,
o sol não aquece, as aguas não banham,
E o amor o que faz?
Não se esquece,
da dor que o acompanha,
e já faz campanha pra tu voltar.
Vais contra a razão, diz que não presta,
diz que não dá!
diz que a detesta!
Mas que sem ela não dá
pra passar mais um dia só,
porque, só de te ver, já volta a viver.
E se há de morrer, 
que esse dia não 
seja de saudade não.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Pedaço alheio.

Uma parte de mim me consola, me embala e convence
a outra, dissociada, dividida, cria casos, me desmente
Uma parte de mim acredita, sonha e se faz criança
a outra, maldosa, cretina, me faz perder qualquer fio de esperança
Uma parte de mim me põe a cantar, a andar sempre em frente
a outra, abortada, arrancada de mim me amarra e me prende
Uma parte de mim grita e respira novos ares de mudança
a outra, mesquinha e vil, me põe tola cercada pelos muros da vingança
Vingança por despeito
vingança sem direito
por que um pedaço de mim fraqueja e pensa em desistir
mas ele nunca vai perder o direito de levantar e de novo se construir
Resistir é o segredo de fazer desse pedaço
o mais forte desse laço.
Um pedaço de mim xinga, erra e chora

mas é o pedaço que me importa, pois o podre é um oco, que só sente o seu cheiro; que faz pouco da emoção contínua correndo nas minhas veias.
Um pedaço de mim é real e não admite ser posto em dúvida.
O outro pedaço é alheio, e no final se dissolve em
angústias...
Ele já vai tarde.


segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Ciúme

O ciúme é como se fosse a ânsia do vômito.
Depois do vômito ele se afoga no desconsolo.
Tudo por causa do acalanto da Mulher.
E nas entranhas do coração a náusea do querer é a impossibilidade de evitar.
Mesmo que se entenda,
que sustente a racionalidade do amor,
ainda não se controla o afeto.
Tentam induzi-lo às necessidades triviais.
Do mesmo modo que é trivial amar-te como razão de viver.

Náusea, vômito, paixão.
Depois do escárnio dos meus sentimentos cria-se uma confusão que requer alento.
Se nesse amor existe mais de mim do que de ti
Quanto ciúme há de nós nessa angústia baixa e visceral?
Será meu mau ego dando embrulhos no estômago,
Cantarolando paródias nauseantes do que seria uma traição?
Eis um vômito, um acalanto, uma canção.
Notas cifradas e feias,
Ebulições de sentimentos sem lágrimas.
Fatigante, sem razão.

Após isso,
Só quero afago, Mulher.
Para que a dor dissolvesse em teu (meu) sorriso,
Nossa remissão.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Ontem a noite.

A poesia mais viva, na verdade sai da alma,
escorre no peito, desliza apelos nos braços,
encanta-se servente às mãos, e enfeita o papel,
se revirando paixão.
Dá paixão do poeta então? Que dizer?
É silêncio, é de noite,
calor, suor, gemido senão,
e ficas cravada em mim feito punhal,
sabre sem ponta, cego
que lentamente retirando-se,
esvai-se em prazer,
desmancha-se em gozo e vira poesia.

Pelas mesmas mãos 
e pelos mesmos braços,
todo sangue derramado é em vão.

Que fica mesmo é teu retrato,
tua saudade,
nosso tesão,
milhares de beijos,
cigarros, copo d'água, mais uma então.

E vai amanhecendo devagar, 
e lentamente clareando,
sucumbindo a noite de luz,
o cansaço.
E o descaso ao despertar,
e o lençol no chão,
tuas roupas, teus seios às claras,
minha mão aconchego.

Desfecho seu beijo, gosto de pasta
sol ofuscando o elevador,
porta da rua e a rua.
E a cidade, mais nua que nós, 
viva que nem a poesia,
mas toda alheia à noite de amor.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Fanatismo

Florbela Espanca

Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!...

* Dedicado àquelas que "retornaram" ao a-casos, encantando-nos com suas palavras sutis.

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
quem nem se mostra

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelhos ficou perdida
a minha face?


Cecília Meireles

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O mundo que eu não te dei logo.

Quem sabe eu passo lá mais tarde,
faço uma serenata pra ela,
vê se ela sai na janela,
vê se o que eu canto pra ela
enfeita a viela aonde ela foi morar.

Tão longe daqui ela foi, tinha de ir.
Já mandei carta, e-mail, fax e telegrama,
escrevi um romance, um poema e um drama,
liguei, liguei denovo, denovo telefonei.
Até mensagens psicografei em vão.
Ela não respondeu. Ou  ela respondeu não? 
E Agora? E então?
Vou me fazer pássaro e voar pra sua porta?
E lá chegando com que cara torta eu vou ficar? 

Era tão bom quando moravas tu ali na esquina,
pertinho de mim, tão fácil p'ra rima,
tão dona da rua, tão nua, tão linda. 
tanta alegria e eu não sabia, e eu sem saber.
Mas também se soubesses seria o quê de mim?  
Se advinha que você tão cedo iria,
que não ficaria nem mais um dia.
Eu teria te dado logo o mundo inteiro.

domingo, 23 de novembro de 2008

A rebeldia não é própria da adolescência; é sim a insensatez.

Dê o dedo a cada câmara que te vigiar
A cada olhar que te protege
A cada qual que se guia por rotas e sinais.
Dê uma flor à velha da padaria
Aos que falam sem cortesia
A mão que te auxilia sem os mil réis no final.
Esqueça os homens do choque,
O ladrão da esquina,
O pó da cocaína e o pão de amanhã.
Dê um tempo no próprio relógio
Visite o purgatório e não se esqueça de bailar.
Cante porque dos males que espantas a dor não é tanta, pois um dia irá morrer.
Não faça da vida um mar de lágrimas (pra navegar amor).
Não preencha seu tempo com ócio de acordar e correr comer trabalhar e dormir.
Nesses entre tempos o maior ócio de assistir TV.
Ah, não dê conselhos ao seu auto-ego
Por que eu digo isso?
Parece sem sentido, mas uma prosa sem sentido quando dita com objetivo parece ter toda razão de existir.
Não importa meu amigo, pois ainda conseguimos sonhar.
Teus sonhos são tua maior coleira. (risadas)
Eles te amarraram por aí.
Eles induziram teus sonhos.
Traga novos sonhos novos.
Nada disto queres.
Vamos começar de novo?
Dê o dedo a cada câmara que te vigiar
A cada olhar que te protege
A cada qual que se guia por rotas e sinais.
Esqueça nada que eu te disse, Arteiro.
Não te esqueça!

sábado, 22 de novembro de 2008

Prato cheio

A Ah À Há!
A arte sucumbe aos teus olhos.
Em tua alma, criva os tecidos tortuosos;
Contorce nos quadros, nos portas retratos da nossa memória;
Excita o ventre parco dos seus filhos, gera fissuras independentes.
E se esforça à maneira de arte eloquente, à mesa do lar.
Há sede festeira de criar o que vai consumir.
Inaudito os sentimentos, reascendem desaquecidos, sem temor.
Ah, amor, como muitos falam de ti.

Com essas bocas doces, alardeiam em quatro tempos os seus fragmentos.
Silenciosamente eu te observo, absorvendo os teus sinais.
Contemporaneizando os teus sinais, ah há a à arte em si...
No flamejar dos corpos ao se contorcer pairam movimentos mecânicos a se desenrolar.
Nada mais foi dito a arte depois de então.
Nada mais foi repetido depois daquela ocasião.
Admirado, ficaram observando a atração que era o outro em um blues.
Somente o outro a bailar a sua frente, em todos os lugares.
Corpos dóceis, corpos frágeis em todas as direções caminhavam.
Burburinhos também eram notados, ritmados, a lógica decaia.
Era a vida da arte da vida sensitiva que se criava pois a fome ajudava no transe em sinais.
É tudo corpo, síbolos de um mundo em nós.
Vejam onde pisam, por onde andam se não há mais chão.
Ah! Não há mais chão.
Seria isso bom?
AAAAAAAAAArteeeeeeeApoucaEmcadabocaparasealimentar, de quê?
Fast Food nos fim de semana.

Acorda amor!

Vai acorda! É cedo já!
Levanta meu bem, vai trabalhar,
no meio dia a gente se vê,
vou levar as crianças na escola,
e passo pra almoçar com você.
A tardinha, a gente deita um pouco,
te faço juras eternas,
muito carinho e um bom café.
Esperamos a noite chegar,
brincamos com os meninos,
jantamos quissá.
Um bom livro, a cama e a Tv.
Quem sabe lá pelas onze
a gente inventa algo p'ra fazer.
Quando tudo estiver em silêncio,
e a madrugada se fizer calada,
debruçamo-nos em nós,
e a revelia dos lençois fazemos amor desvairados
As mais atrevidas carícias no teu corpo.
Vai amor, acorda que não é sonho!

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Faz tempo...

“Solidão não cura com aspirina...
Até um canalha precisa de afeto...
Tanto amor em mim como um quebranto...
Tanto amor em mim, em ti nem tanto...”
Zeca Baleiro

Faz tanto tempo que a gente não conversa... Não tenho lhe visto com a freqüência de outrora, e quando nos vemos o turbilhão de pessoas à nossa volta não me permite enveredar em assuntos mais profundos. Sinto falta dos nossos diálogos, você com seu jeito sereno a me explicar sobre nossa jornada em busca do auto-conhecimento. Confesso que nos últimos tempos tenho me sentido estranhamente só, eu creio que você possa entender o tipo de solidão a qual me refiro. É normal pessoas como nós sentirmos um vazio inquietante às vezes. Você também percebe uma ausência inexplicável de alguma coisa que impulsione nossas almas, que nos desperte o desejo de pôr o bloco na rua?
Há algum tempo que não nos sentamos tranqüilamente e observamos o findar da noite... Fazem-me falta as suas palavras acolhedoras, faz falta lhe ouvir dizer que as coisas irão dar certo, que é preocupação à toa e que eu sempre enxergo o problema maior do que realmente é. Além da minha inquietude, ando querendo saber de você, como vão os projetos, como vai seu coração, se está se cuidando como deveria. Você sabe perfeitamente o quanto me preocupo com essas coisas.
Pois é meu bem, eu ando um tanto sem leveza. Minha aparência é contraditória, a magreza de meu corpo não condiz com o peso que sinto, meus ossos parecem de mármore e pesam. Meus sorrisos distribuídos amiúde não revelam a aridez de um riso contido, o brilho opaco de meus olhos desmentem a avidez dos “olhos de corça”. A única coisa que não vacila é meu canto, continua intenso e sentido... O resto está sem gosto, sem graça. Tenho me questionado tanto sobre algumas de minhas certezas. No final de cada noite, quando me preparo para enredar mais uma madrugada em meus olhos despertos, o que me sobra é um quê de solidão, um silêncio que não acalma, apenas apoquenta-me o juízo.
Quando nos virmos novamente tente perceber, entre uma conversa, entre um gole de cerveja, entre um sorriso, ou mesmo entre uma tacada... O discreto, porém insuportável, ranger de meus dentes é o sinal incontestável de minha insatisfação, de minha agonia. Espero vê-la em breve, espero que me traga boas novas pois já não tenho certeza de muitas coisas... Aquela data, lembra da nossa data especial? Não terá significado algum sem você por aqui...

Eu sou você amanhã: o cheiro carnal.

[...] E eu me lembro de como era o cheiro do sexo.
Há tempos não tenho mais, não extraio de ninguém...
Minha idade já passou. Mas lembro, lembro do cheiro. Mamãe me olhava de cara feia quando chegava em casa de manhã, com aquele cheiro forte que impregna a gente... Aquela mistura de suor, saliva, de vida derramada por entre as pernas. Eu me lembro de, entre susurros e unhas, sentir o caminho que o suor fazia, saindo do rosto deles, encontrando o canto da minha boca, jogando nela aquele gosto salgado de cansaço e satisfação. O cheiro que preenchia todo o quarto, toda a varanda, toda a praia... O cheiro que aumentava logo depois que minhas pernas começavam a tremer; que aumentava logo depois que eles pulsavam ritmicamente.
O cheiro que perfumava a malemolência que se seguia, que penetrava nossas roupas, que impregnava nossos cabelos, que se escondia em cada pormenor do nosso corpo. Ah, aquele cheiro me hipnotizava, e quando eu ia dormir, colava meu braço bem perto do rosto, jogava o cabelo pra frente, tentava sugar o cheiro para dormir mais satisfeita. Quando acordava, ele já havia sumido...
Ele sumiu de mim há muito tempo, já.
Mas à qualquer vacilo de alguém, na rua, nesses cantos escondidos de esquina, me fazem farejar rápido, lembrando do misto de aromas. Eu as vezes sinto, sim, ao passar do segundo andar, ao entrar em um banheiro público...
O sexo pode já ter me deixado há algum tempo, mas a luxúria é eterna...
E ela, eu sinto de longe.


Memórias de Sabina.

A Lista

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais

Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar

Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora?

Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você

Quantas mentiras você condenava
Quantas você teve que cometer
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver

Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você

Oswaldo Montenegro

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

E- L - E - S


Como animais,
ao tocar por nada ou do nada
pensam em descansar.
Silenciam...
Pensam...
E lêem...
Eles se sentem como se fossem a pele do outro.
Respiram.
Eles consomem uma seiva delirante e respiram triunfantes
a tua, o teu desejo...
Ao te medir.
Eles não são assim meticulosos,
mas ninguém sabe como poderiam ser...
Eles vivem num acaso, de um caso,
sem valores morais.
Não sabem conter suas emoções.
Eles não temem o amor
mas sentem a paixão.
Eles não tocam por nada ou do nada.
Eles afetam nosso bem estar e são difíceis de reconhecer.
Misturados à multidão, eles se perdem.
Se encontram ao tocar como deve ser.
Uma nota só.

Sê feliz.

Se uma mulher desvia teu olhar, não há duvida,
é bela então. E tu a fita a perder de vista,
é distinta senão, como as belas flores,
dos encantados jardins.

Se desvia porém teu caminho, há mais no ar que beleza
há um quê de semente, de amizade nascente,
e bondade somente. Há um quê de pois não,
vens então, e ensina-me algo bom.

Se contudo uma mulher desvia-te do teu juízo,
e te faz perder o rumo, e já não sabes pra onde olhar,
e já não vês mais jardins, nem flores nem mar,
não crês em mais nada, amizade, beleza e paixão,
digo-te: casa com ela então, tens filhos e filhas com esta mulher,
e sê feliz.

Eu, Você e o Cartão

Por que você me empurra?
Por que me joga?

Pensa que pode me manipular como se eu fosse um peão?
Pensa que pode ver quem eu sou assim?
Pensa que eu sou tão fraca assim?
Não sou uma criança que você pega na mão para atravessar a rua.

Você está demente, louca idiota?
Você é muito inteligente para agir assim.
Não consegue ler minha alma, meus pensamentos e sentimentos só olhando meus olhos e
gestos.
Brinco e você pensa que é verdade.

Sei me cuidar, não te dei o título de escudeira, nem muito menos de cavaleira.
Respeite meu jeito, meu espaço, meus gostos, meu tempo.

Pode ser que assim você venha a ter crédito no seu cartão.

Dia Quente...

Enquanto ando de lá pra cá
pensando no turbilhão dos acontecimentos
começo a perceber
que depois da nossa demorada conversa
voltei a escrever.

Depois da queda,
da loucura,
da paranóia,
dos olhares que não eram meus,
mas estavam em mim.

Depois do tempo passar voltei a mim.

Natural

Tentamos por vezes ser...
Meio loucos
Meio lúcidos
Meio lúdicos
E um pouco sérios.

Pensamos às vezes...
Certo
Errado
Torto
Vazio
Cheio
Grande
Pequeno
Por si
Por mim
Por você
Por Nós.

Mas o ideal já está feito.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Doce aroma de agonia.

Doce aroma aquele que emana o grande amor...
Aquele que de longe, e subitamente, te leva a correr os olhos pelo recinto, como um animal atento, farejando o ser desejado. Aquele que você não consegue definir: madeirado, de jasmim, cítrico... Você não sabe ao certo as essências, que misturadas te causam esse frisson. A única que você sabe é que ele é essencialmente forte. Forte o bastante pra você lembrar pelo resto da sua vida. Você pode senti-lo hoje, e passar um longo tempo sem ver esse grande amor... Um dia você vai estar na padaria da esquina, esperando na fila do pão, e vai sentir esse cheiro. Imediatamente você vai lembrar, procurar e se desesperar ao perceber que foi apenas uma brisa que te trouxe esse aroma... Que aquela pessoa não estava ali. Foi o que aconteceu comigo hoje pela manhã. O doce aroma que emanou de ti, durante algumas noites de fervor, entre pernas, mãos e gotas de suor; o doce aroma que em mim chegava, pelos pingos do teu rosto colado no meu ser; o doce aroma que ficou no travesseiro quanto você se levantou, e nunca mais voltou, me encontrou novamente. Eu estava sentada, à ler qualquer coisa sobre bosques chilenos, e o teu cheiro chegou até mim. Eu, atônita, olhei por todo lado, levantei-me, fui até a rua, ansiando...
Nada.
Era só o vento brincando de crueldade.
Tu foste embora, e a única coisa que me deixaste foi a agonia de sentir teu cheiro quando o vento está entediado.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Fogaréu de Encantamentos

“A paixão é um mar/ Parabólica/ Dilatada/ Estrada que dói/ Encanto de flor/ Labirinto/ Espera de redes/ Parece toda raiz/ Só raiz/ Quando não canta o trovão...”
Transfiguração – Lirinha – Cordel do Fogo Encantado


Com um ar atoleimado, bestificado, contemplo o espetáculo. Bebo absorta cada gota do mel de versos que rebenta de teus lábios, em meu corpo escorre o suor da tua lira. Por entre o jogo de luzes todos avistam os trejeitos excêntricos da tua dança, teus movimentos tresloucados, teu corpo a serpentear pelo palco iluminado. A garganta rasgando as canções vibráteis, deixo a força dos batuques percorrer cada pedaço da carne ferida, num jogo de rimas indóceis, opostas. Tudo a um só tempo, calmaria e turbulência, fogo e água, terra e chuva, vida e morte.

No sorriso inebriante do palhaço, totalmente entregue ao rito musical, giram numa mesma roda o sertão e o mar, misturando arte, história e vida. A multidão do teatro a celebrar a poesia do louco de Deus. Uma poesia sincrética, como se ali coubessem, lado a lado, santos, orixás, profetas, soldados, sertanejos e bailarinas. Profecias escritas em pedras, penduradas nas ondas do rádio ou mesmo o sânscrito num valete de paus do baralho de uma louca, tudo vira arte, tudo nasce perante os olhos incrédulos.

A voracidade do teu canto, como se tivessem-no arrancado das profundezas da terra, a energia dos batuques desvairados, a irradiação das cordas alucinadas, a aclamação da platéia arrebatada, uma encenação única, excepcional. E que digam os outros que enlouqueci pois é verdade, a música tem esse poder, principalmente aquela feita pela alma em brasa. O tempo, a saudade, o amor, a favela, o povo, o circo, a seca, a chuva, a terra, o homem e a mulher, todos queimam nas barbas do profeta, no Cordel do Fogo Encantado. E enquanto isso, lá fora, uma lua enormemente branca transfigura um céu negro através da fumaça do cigarro.

Assim és.

Quando me partes o coração, e já não resta nada,
e tudo é pouco,
e tu és rouca,
e chora a mim,
te faço eterna, te vejo esperta, te falo enfim,
que não és mais nada, que não tens mais porque,
sabes até que te falo, sabes até que é enfim,
noutro segundo te calo,
e toda tua ausência é soberba,
e toda soberba é inventa,
discreta quando olha, e calejada quando rir.
Que saudade sem nome é essa,
que mata, destrói e aos poucos se vai,
deixando meio morto, um pedaço de mim.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Um pé na frente do outro.

Eu não me importo onde vou parar
mas sinto no desenrrolar dos teus gestos
e da tua fala fingidamente macia
que você não vai conseguir me levar
A sua força não atrai minha liberdade
seu desejo te trai na hora das verdades
Eu quero que a minha hora chegue
e que eu possa me dizer que fui por quê quis
Não importa o quê quer que eu deixe...
Eu deixo pra trás, e não te encaixo no arrumar da mala
Desculpas nem sempre acho pra tamanho desdenho
- entenda, meu bem... Nem eu mesma entendo -
mas sei que tudo isso, ao meu modo, me deixa feliz
Esse é o caminho que eu quero fazer, que sagrado se faz
por isso te digo que só caminhando o medo se esvai
Vai, segue cantando
Vai, segue amando, meu amigo
Eu te sigo na minha tranquilidade de fazer eu mesma meu caminho
Você segue, mas não segue sozinho
Eu te acompanho de algum modo;
mesmo que não deixe vestígios dos meus passos
eu te observo em outros braços
e sigo, distante, velando por ti.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Arteiro

O que se passa, Arteiro?
Por onde andas que não se ouve mais teu alento.
O que te passas, nestes dias de verão?
Não te vejo mais correr atrás das raias.
Não brincas mais de super herói.
Por que se escondes nesse rosto de desilusão?
Até ontem, eras o mais alegre da rua.
Hoje, ficas nos cantos se ninguém notar.
O que se passa, meu amigo?
Volta a brincar.
Vai jogar bola.
Levanta-te!
Anda Arteiro, esqueces a crise internacional.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A menina que queria roubar um livro.

Eu ando lendo linhas tortas
correndo meu olho, passando páginas
rindo e chorando em linhas novas
suando minhas mãos à cada passagem
Eu ando lendo em uma nova língua
aprendendo uma nova história
traduzindo a alma de quem narra
enquanto esperam que a minha própria fale
Eu ando lendo com os dedos
sentindo cada letra e cada cantar
ansiando pelo beijo que eu sei
que ele e a mocinha vão se dar
Eu ando lendo curiosa
vai e vem, eu fecho os olhos
- eu não queria terminar de ler -
mas eu preciso ver o final
pois me mataria não saber.
Eu ando lendo atenta,
pisco o olho, mas logo abro;
eu fico tentando nada perder
mas eu sei que me escapa alguma coisa
talvez uma vírgula ou uma cena de prazer.

Eu ando lendo você.
Tirei da estante, mas não sei se tenho tempo bastante
antes de te devolver.
Eu queria te ter na cabeceira, reler quando quiser
mas você não me pertence e todo mundo te quer.
Todo mundo quer te ler, mesmo que depois não se possa possuir e tenha que devolver no tempo certo, pra prateleira que você saiu.

Quem sou eu pra te roubar?

domingo, 9 de novembro de 2008

Frêmito

Frêmito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doído anseio dos meus braços a abraçar-te,
Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!
E vejo-te tão longe! Sinto tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que não me amas…
E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas…
Florbela Spanca em A Mensageira das Violetas

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

“Nem rindo nem chorando, apenas vivendo”

Fazia minha caminhada até a faculdade, noite de ventos suaves. Fumava um cigarro para esquentar meus passos rápidos quando fui abordada por uma senhora, perguntou-me se por acaso eu teria outro cigarro. Tirei da bolsa algumas unidades e lhe ofereci o isqueiro. Ela então desatou a contar-me sua vida, apontou-me o interior da casa, escuro, disse-me ter problemas para pagar a conta de luz, para comprar o alimento do neto, ainda pequeno, e queixou-se da nora que a seu ver era uma irresponsável.

Por alguns instantes aquela senhora me fez esquecer por completo minhas angústias, minhas dúvidas. Meus problemas tornaram-se tão pequenos, tão insípidos. Naquele momento desejei ter em mãos uma daquelas cartolas de mágico, aquelas de onde se tira um coelho, quem sabe eu poderia sacar dali um tantinho que fosse de alento para aquele ser. Mesmo tendo as mãos calejadas pela luta diária, o rosto marcado pela velhice, poucos dentes, ainda havia em seus olhos um certo brilho, persistindo em meio ao sofrimento uma fagulha de crença na melhora.

Após confidenciar-me suas dificuldades apontou para o céu e disse ter muita fé Nele, que mesmo vivendo naquelas condições acreditava que Ele providenciaria o de amanhã. Terminada a conversa desejei-lhe sorte e continuei caminhando. Aquela cena não me saía da cabeça e fiquei pensando nas poucas pessoas em suas casas luxuosas, suas latas-de-lixo compradas com algumas centenas de reais, suas roupas exclusivas, assinadas por grandes nomes da moda e usadas, geralmente, uma única vez em festas de revistas. Pensei nos inúmeros engravatados de Brasília, recebendo auxílio-terno, sonegando impostos, desviando verbas e ainda assim recebendo seus gordos salários.

Pensei mais ainda nos milhares, ou melhor, nos milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza, crianças que cedo morrem de inanição, desempregados à beira da marginalidade, mães que vêem os filhos pedindo comida e nada podem fazer, crianças de rua que se entregam às drogas. Pena que a gente, a maioria pelo menos, costuma apenas pensar, o assunto logo cai no esquecimento. A mídia nos faz um retrospecto no Natal, faz apelos para festas de fim de ano mais dignas para essas pessoas pobres. Para a mídia essas pessoas só existem no Natal e o resto do ano eles nos servem um nauseante banquete de frutas podres. Belas caras, caras festas, enquanto o resto do povo segue, como diria o velho baiano Jorge Amado, “nem rindo nem chorando, apenas vivendo”.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Tempo gasto.

[...] Quando a gente sabe que algo ficou no passado?

- Acho que quando a gente se consome à contar
por entre bocas, lágrimas e risos,
já mais nem percebendo o prazer doentio
lavando todos com um rio de melancolia.

- Mas passado é parte obrigatória de se falar
em mesas de bar, na rua, no lar.
Rememorar...

- Pra mim é mais sentir uma dor pulsar no seu peito
e fazer dessa nostalgia, o amor nosso de cada dia.

- Passado, passado.
Tempo, tempo gasto...
Todo gasto no caminho.
E então de novo vivido,
quando a gente se põe a lembrar,
a falar do que se foi...

- Quando eu bem penso no que passou,
lembro de todos os olhares que ficaram presos
em todos os amores que tive e deixei passar. ..
Nossa, já sinto até minha gastrite pulsar.

- Eu lembro, relembro;
só meço a dosagem pra não me afogar...
Não me afogar no que ficou lá no dia 13 ou 22,
em São João, ou no que se deu depois...

- Na próxima festa junina,
na próxima noite,
na próxima esquina,
quem sabe a gente se encontra
e vive de novo um novo presente
pra depois rememorar um novo passado
de novo (,) amado

- Novo passado? Passando de novo?
É um ferro de engomar que você anda querendo?

- Na verdade, não importa...
Já está todo gasto e sem remendo.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Ex cravo.

Há uma cisma inquieta no meu peito,
sinto que tem anos que ela está lá,
presa, escravizada em mim,
não é paixão, nem rancor,
raiva sei que não é,
amor muito menos,
até poderia ser, mas não,
é mais sutil,
mais delicado que qualquer temor,
menos intenso que um beijo qualquer,
mais apertado que abraço em fervor,
menos calejado se em dor estiver.
confuso, tanto e por quê.

Me acalma quando me foge aos pedaços,
no meu encalço, acho que é riso,
se verdade não for,
nem mentira,
e se não em mim fica,
é só poesia então.

Soneto do novo eu

Atrevo-me até a te esquecer,
buscando noutras bocas te encontrar,
esqueço até de me perder,
nas tuas horas eternas a lembrar.

Posso eu correr pra longe,?
se fazer de mudo, surdo e louco?
Errar até os erros mais ferozes,
pra sair de ti um pouco?.

Acho-me vago, esperando o tempo ocorrer,
e ocorre-me que tu não vens mais.
e perdi-te nas minhas entregas do haver.

E corri-me, buscando novo mar!
Tentando de novo, um novo ser,
E morri-me, em desamor, noutro velho luar.

domingo, 2 de novembro de 2008

Balbucio Noturno

À noite...
Todos os gatos são pardos
Todos os beijos são parcos
Todas as doses são poucas
Todas as vidas são loucas...

Rarefeito

Eu que não sei, pedi um cigarro, mas não consegui ascender.
Então, pensaram que eu estava errado, que eu não poderia escrever.
Levei mais de um ano ou mais até descobrir.
O que eles queriam eram coisas bonitas que descem para assistir.
Bolinhas vermelhas no teu coração, azuis porque não?
O que vale é a tentativa senão é o seu tempo preencher.
Quando no fim, sim!
Quando terminar o caminho da felicidade.
Um pouco mais tarde, quase pé na cova, você vai descobrir:
Eles só queriam roubar seu tempo baby e não parar de produzir.
Eu que não sei, pedi um cigarro e subo para acender
Três passos na escada e paro para pensar:
Nós temos que entrar na roda e rodar, até o ciclo final.
Nela eu posso quebrar as engrenagens que gangrenam meu ar.

À janela

Nada me espera neste lugar
Em casa tenho filhos e mulher
Seria minha casa o lugar de descanso,
Um fim de semana sem trabalho qualquer?
E seu pudesse ficar por aqui?
Ah, se eu não precisasse me locomover.
Não passaria horas suando colado
meu corpo em quem nunca vou ver.
Não teria mais aquele encontro casual
No meio dessa multidão docilizada,
Eu não veria o pôr do sol do viaduto ao sair do terminal.
Ah trabalho, se não fosses tão distante
Diminuiria minha carga delirante
Do tempo que não posso perder.
Eu tenho pressa nesta cidade.
Não há mais tempo.
A cidade corre, a cidade muda e a carga fica cada vez maior.
Ah, se eu pudesse eu mudaria pra mais perto.
Hoje, já não sei qual é o meu lugar
Fim de semana sair já não quero
Filhos vão à praia,
Eu fico a descançar...
O que eles pensam
Como eles andam
Eu os desconheço,
Mas os vejo passar.
Talvez o momento mais feliz seja quando consigo sentar à janela, vento ao rosto, quando eu não durmo e passo a pensar: enfim, estou quieto, sem ninguém a me empurrar.

Ronaldo Furtado

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Tristeza não tem fim, felicidade também não.

Sei cantar tristezas sem fim,
Mas gosto mesmo é transformá-las capim,
Em perfume e em jasmim. Fazer isso? Sei sim,
Que nem feitiço, as deixo alegre,
Num piscar de olhos, ponho saudade dela nelas,
Desconsidero as lágrimas, e as canto amor.

Sei cantar tristezas sem fim,
Mas gosto mesmo é transformá-las em mar,
No sol e na areia. Fazer isso? Sem sim,
Numa correnteza fatal, as deixo luar,
Numa onda oportuna, jogo paixão dela nelas,
E as vejo sereia, e as canto paixão.

Não sei, porém, é dela esquecer,
Nem na alegria, nem no cheiro do jasmim,
Ela foge tão fácil de mim,
Nem na rima simples, qualquer,
nem em naufrágio nenhum,
nem as marcas que ela deixou,
Torno-me de fato um comum,
Desapegado aos amores impossíveis,
Indiferente às loucuras do coração,

E mesmo que nenhum feitiço me alerte,
nem uma lágrima me cante,
Nenhuma saudade me espante,
E nem uma onda me acerte.
Desfaço-me do seu amor, e paixão,
Confesso, Sou dela então,
entretanto, é posto,
que loucura alguma, mais bela que seja tal,
me afasta do bem que me posso fazer,
E sei da morte da solidão,
todo dia me renascer.

Aquele velho ciclo.

Olha só o quê que eu fiz
Nasci
Cresci
Perdi as estribeiras
Deixei o grande amor na beira da estrada
Na curva, na parada
Esperando o ônibus pra me levar daqui
pra não ter que ouvir você dizer que sim
Eu corro contra o tempo
mesmo quando ele está parado
Torcendo o nariz pra quem tá armado
jogando, brincando de leviandade
Na boca, a palavra traduz minha alma
na pele, entrega minha liberdade
Me pega no flagra, no piscar dos olhos
me mostra que já nem sei quem sou.
Já presa, sou réu confesso
Não nego nem quero perdão
Se já me vou, é por quê
nasci
cresci
perdi as estribeiras
Não sou de ficar em casa
nem mulher de fazer feira
Eu sou daquelas que passam
cometem o crime de amar
crime de loucuras falar
e confessam quando já é demasiado tarde
que o que se quer é correr perigo
é correr o mundo
Espero o ônibus
que é pra conseguir te deixar
Eu só queria, ao certo,
te deixar de forma leve
pois foi assim que eu cheguei
Vês?
É que eu
nasci
cresci
perdi as estribeiras.
Eu perco quase tudo
corro o mundo de bobeira
Deixo-me rente à você
até o tal ônibus chegar
e pra bem longe me levar
De longe também, há quem observe
e pense que eu não sei amar
Mas não é questão de saber
É questão de
nascer
crescer
e perder ou não as estribeiras.
E perder não é escolha
perder é uma armadilha.
E eu cai.

Eu
nasci
cresci
cai na armadilha
e perdi as estribeiras
mas ainda não morri!

domingo, 26 de outubro de 2008

Aos olhos de meia-noite, um Desalento.

Hoje um medo terrível percorreu meus pensamentos. Aquele tipo de medo que enrijece os músculos e faz latejar os ossos. Medo de perder o meu recanto nos teus olhos de meia-noite, medo de que esses mesmos olhos, que me fazem sentir completa, não me enxerguem mais com a mesma ternura. É medo sim, do tipo de medo que só sente quem muito ama. E confesso, melhor seria não te olhar do que ver teus olhos derramarem uma lágrima sequer.
Ver em teu sorriso aquela tristeza lancinante é como se um veneno mordaz corresse em minhas veias, matando-me aos poucos. Percebo quanto mistério ainda guardam esses olhos teus, que habilmente confundem meu tolo coração. Meu peito palpita com uma força que dantes não sabia existir em mim, e dói um medo desesperante.
Meu amigo, meu amor, dói só pensar em te perder. No dia em que tu quiseres partir, com os braços abertos e o coração em sangria, eu te deixarei seguir, mas, nunca, de modo algum, não posso perder-te meu bem. Perder-te seria perder a mim, perder minha leveza, minha capacidade de sorrir. Tu bem sabes que tua presença é imprescindível para mim. Não é novidade para ninguém que meus olhos sempre procuram os teus, onde quer que eu esteja.
Por isso e por tudo o mais que vivemos e ainda iremos viver, peço-te meu bem que não te esqueças que meu amor é muito maior do que a estupidez de meus atos falhos. Aconteça o que acontecer, passe o tempo o tempo que passar, mesmo no dia em que teus lindos olhos de meia-noite não procurarem os meus, eu continuarei aqui, amando-te além de tudo.


Sim, vai e diz
Diz assim
Que eu chorei
Que eu morri
De arrependimento
Que o meu desalento
Já não tem mais fim
Vai e diz
Diz assim
Como sou
Infeliz
No meu descaminho
Diz que estou sozinho
E sem saber de mim”
(Chico Buarque)

sábado, 25 de outubro de 2008

Meu amor...

Eu não vou deixar de te amar,
Mesmo quando contrariado
Deixo de lado toda mágoa e dissabor.

Do lado de cá um bem nasce a cada dia,
As coisas mesquinhas, medíocres já não têm mais lugar quando se trata de nós dois.
É que sou imperfeito e por isso mesmo aberto a compreensão.

Veja a correria de muitos,
Eu cá inculto entrego os pontos aos que se acham com razão.

Meu amor, apesar dos contratempos é mais doce o teu olhar.
Esteja comigo, pois te sinto e sinto a tua dor a me corroer.
Teus olhos alimentam a minha alma e nessa natureza clara
O inverso de te consumir é te querer.

Não te ausentes de mim,
Não me destrua assim, sofrendo os insultos da solidão.

Nesses desencontros perdidos,
Eu me recomponho com teu sorriso;
Em silêncio sinto que tudo está bem melhor...


TEMPO DA DELICADEZA

No tempo da delicadeza,
anseio encontrá-lo.

Longe de minhas fraquezas.

Em um lugar qualquer...
Que não seja a rua da desilusão.

Em um espaço do tempo...
Que não sejam horas de solidão.

Esperarei?!

Existirá?!

O tempo da delicadeza:

Não é tempo, não é lugar.

São esperanças sem fundamentos.

Tudo o que restou e não findou.

Esperanças tão pequeninas,
que não sobreviveriam
ao tempo do perdão.

(Suzan Keila)

A cisticercose da alma...

O rancor do beijo perdido lambe a boca salivando raiva.
A suave cinza de cigarro regozija no gargarejar.
Nesta noite arde na pele o desejo,
Sente-se ainda a amar.
Nojo asco e nojo: repugnância!
Gonorreia da puta que pariu!
Seios, ventre, os sexos,
trêmulos, tocam-se e se deixam passar.
Nesta noite choram pelas noites passadas,
Pegadas de sonhos e ilusões.
Eis que surge a matéria viva do imenso rancor
Ignóbil, imunda e covarde;
A cara podre do vômito da paixão.
É nas entranhas que se experimenta a náusea do querer
E a impossibilidade de evitar a vergonha de perder.
Eis que estão livres para decair!
Como um grito no escuro,
Não conseguem se escutar: eu te amo...
Eu te amo... não mais.
Talvez deixassem de beber,
Deixaram os vôos de liberdade
Voltaram a ser o que eram
Quando não eram mais dois, eram mais.
Eis a inocente a trair
A musa, a sereia de qualquer um.
A diva da esbórnia, epiderme contaminada do prazer.
Eis o sedutor dos esgotos
O cara, o vagabundo deus da paixão.
Sim, todos esperam palavras doces para ouvidos famintos,
Desculpas engatilhadas para jogos de sedução.
Entretanto, ninguém o esperava: o rancor, a cisticercose da alma;
O solitário (a solitária) que ninguém se quer ouviu.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

PORRA

Palpitações aceleradas
Palpites desastrados
Palmas irônicas
Possibilidades esgotadas
Pesadelo real.

Pedidos de desculpa
Palavras intragáveis
Poesias, exposições
Pequenez de pensamento
Péssima aparição.

Poucos agradam
Povos exalam putrefação.
Passos falsos
Paraíso utópico
penalização.

Passeio entre dúvidas
Perdido, não!

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

domingo, 19 de outubro de 2008

E o quê a gente anda fazendo da vida?

Eu já me perguntei o quê os outros fazem da vida
Mas agora me preocupo com as nossas feridas
Com o nosso mal estar

Preocupo-me como anda nosso querer
Nosso jeito leigo de deixar pra lá
Esse nosso vai e vem, pensando no necessário pra viver

Eu estou pensando no nosso carinho
Na nossa preocupação contínua
Que agora se esvai no caminho

Agora ele se perde no nosso andar tropêgo
No andar torto das linhas que a gente regrava
No âmago do nosso respeito que agora se apaga

O quê eu quis de você nunca defini
Mas sei que quis e persisti
Não sei por quê me perdi
(e você também, por fim)

Eu sei que amor não se esvai com o calor do alter ego
No vacilo do meu dejeso carnal no qual me entrego
Na loucura que insisto (e sei que um dia desisto) de completar

O que eu quero é me entrgar
Será que você antecipa e se arrisca em um novo amar?
Ou também se deixa levar pela loucura
Persiste e ainda procura
Algo de bom e sensível nesse meu andar?

Eu me pergunto e me assusto
com a resposta.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Benção da manhã.

Ontem quando acordei, ainda de manhã
senti tanto a falta dos teus olhos que fiquei cego,
Pedi tanto o toque dos seus braços;
que nem mais calor no meu corpo senti,
Desenhei tanto teu sorriso que chorei
Um choro calado, que quase inexato sofri.
Cantei teus discos preferidos,
e teus poemas mais queridos reli.
Brinquei com teus brinquedos prediletos,
e dos teus sonhos mais devassos me refiz,

Na tua ausência, e pela tarde, eu te compus,
como se sente e se reluz sendo presente,
versos mal-feitos, e um amor que se deduz,
em sonhos falsos, e que a tão custo é insistente.

No entardecer contudo,
como num pesadelo que acaba,
toda a saudade passou,
e como num passe de mágica,
da noite que começou trágica,
vi um amor florescer,
que a madrugada enfeitou,
o alvorecer entendendo se calou,
e o novo amanhecer tratou de abençoar.

Sonhador

Sentado, chorando, um sonhador pensava
Que suas rimas de amor soavam sempre tristes.
Pensava na sorte que poderia ter no jogo
Pensava que isso poderia torna-se vício.
Perguntava-se  por quê?...
A idealização da mulher era o seu problema...
Concluía então:
Amar é idealizar...
Soluçava em lágrimas a certeza de não mais amar

Sufocaria os sonhos,
Passaria a procurar as mulheres somente por prazer
Carnal, era obvio.
Mas a cada dia
Ficará mais triste nessa satisfação banal.
Aquele sexo era motivo de raiva e rancor..
Decidiu não mais transar
Porque essas não são capazes de satisfazer o seu coração
Abandonou o romantismo,
Tratava as mulheres com indiferença
E passou a ter mais raiva dos homens.
Principalmente dos falsos,
Os que se diziam apaixonados.
Decidiu andar sempre só, perdido em seus pensamentos.

Sentindo a solidão, sentado num vazio, chorava por rimas de amor tristes.
Que voltasse as rimas de amor!
Sonhava com desilusões
Achou-se iludido porque pensou que o homem viveria sem idealizar
Sentado, chorando, o sonhador pensava...
Quais de suas rimas de amor soariam a alegria e a tristeza de amar?
Então, concluiu:

Eu sou é chorão!
Quem venha o amor, depois faço as rimas.

domingo, 12 de outubro de 2008

Depois do ócio.

Eu sei que temos que preparar nossa alma. E o quanto é tolo pensar sobre isto. Sofrer antecipadamente pelo futuro, olhar o passado maravilhoso que se anuncia. Viver o segredo nessa ciranda da vida. Viver mil vidas em uma só: a vida clichê, a extraordinária, a pacata boa vida do entardecer; ouço o barulhinho das ondas, um pouco, distantes, pra lá de tenaz.
Eu não quero escrever nada de extraordinário, o não dito por ninguém. Eu não preciso de confirmações, mas seria bom, se fosse possível sentirmos. Se pudéssemos dialogar, se todos emanassem as mesmas energias algumas vezes. Esquecermos a ordem do discurso, a coerência textual, o enredo traçado, a lógica esmiuçada pelos nobres escritores. – Nem se eu estiver falando a só nesse quadro escuro, mas tarde, depois de alguns anos, eu diria o que escrevi. Porém o outro de mim sentirá o que eu digo? O que senti naquele momento? Eu tenho uma tímida certeza que você não está entendendo quase nada do que digo. – Seja simples, direto, tenha pena do próprio leitor. Eu não sou profissional! Isso que me diverte. Não tenho obrigação nenhuma de se fazer entender, nem a quero. Não, não é um desabafo. É o puro e simples ato de escrever o que vem a mente. Mesmo eu sendo incompetente, algum sentimento permeia de forma nítida as minhas ações. Eu escrevo para mim, para que essa angústia passe logo. Como saber donde vem o que nos angustia, para que saber?
Não ando tão angustiado assim, é apenas o ócio. Maldito ócio, aquele que seria a oficina do Diabo. Sim! Dele podemos criar, mas o que é que eu criei aqui me lamentando? Meus ciúmes, amores, paixões, dor, sentimentos, emoção, angústia, são apenas meu. De vocês, do que faço parte. Nem sei. O que escrevo acabo de achar uma completa bobagem. No entanto, algo necessário para me fazer bem. É como... é um segredo, uma satisfação, um gozo, um jubilo; um egoísmo social. Egoísta porque quase sempre você não consegue sentir, e social porque ponho para qualquer um ler e julgar algo que no fim se esvai para outras sensações. E eu não sou o mesmo depois disto. Sou o outro de mim, um outro conhecido.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O meu ciúme

O meu ciúme é tão traiçoeiro,
se faz de não existir,
e quando existe, me toma inteiro,
enlouquecendo-me, e fazendo-me refém.
Mas não, não dou o braço a torcer,
guardo ele cá, inquieto,
quase sem se mexer,
trancafiado em meu peito,
gritando querendo sair, não vai! Por que?
Já causa tanto dor aqui,
pra que em outros causar,
deixe quieto, o que é quieto de estar,
fique, passe, e não vá.
Comigo, eu me resolvo,
sei da dor que é de meu pranto,
sei do amor que vira espanto,
sei quando ele pode nascer,
quando não souber mais, te deixo ir,
ciúme maldito, atrás das tuas vitimas,
causar até uma ligeira alegria,
mas no fundo,
não mais que rancor.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Meu amigo Casanova.

Existem tipos e tipos de conquistadores.
Há os "baratos", que nem deveriam levar o nome de conquistadores... Esses teimam em querer conquistar (por conquistar) qualquer saia que passe à sua frente. Não possuem o sentimento inveterado dos amantes embriagados de paixão e desejo. Não possuem a alma lírica que se pressupõe de um sedutor. Esses só querem acumular ganhos. Não possuem beleza ou leveza alguma.

E existe o outro tipo de sedutor... Aquele que na maioria das vezes, um olhar mais demorado já basta. Aquele que faz você sorrir solta, faz corar, gaguejar; aquele que faz você sentir calor, boca seca, mão suada só de chegar perto. É aquele tipo que tem a voz suave, as mãos seguras, e as palavras mais bonitas. Esse tipo é daqueles que todas sabem que ele é um conquistador, mas elas não se importam. Nenhuma consegue, ao certo, ter raiva desse tipo de conquistador. Esse tipo poético, lírico, doce, leve. Ninguém consegue odiá-lo por que todas sabem que ele deveras sente o que diz. Pode durar uma noite o seu caso de amor com um casanova, e você se sentirá a mulher mais amada, mesmo que no outro dia ele se vá. E ele vai... Mas vai dando um beijo demorado, um sorriso carregado de beleza e um olhar que faz você perceber que não se precisa mais falar. Ele realmente ama à todas aquelas que ele se entrega. E é por elas saberem disso, que ele continua um conquistador, amado e esperado pelos quatro cantos do mundo que passou. Sempre há uma mulher à sua espera, com o corpo cheio de desejo e o peito cheio de amor. Quem provou do seu veneno, deu graças ao Senhor como nunca havia dado, como se aquilo fosse o prenúncio do paraíso.

Eu conheci Casanova em uma manhã de profunda clareza, diferente dos meus homens de noites sombrias. "Meu amigo Casanova", digo à ele, "vou vender meu sangue frio por aí, por ser a única que não ficou inebriada pela tua bebida de amor". Ele se ri, pensando que seria uma bobagem tomar algo para não entregar-se à uma paixão. No fundo, eu sei disso. No fundo, eu quero vender meu sangue frio para tentar comprar algum outro mais vivo.

Meu amigo Casanova me aquece com o seu amor verdadeiro, com nossa relação sólida; me põe na alma um pouco mais de calor, um pouco mais de loucura.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Eu sou você amanhã: "Paixões"

[...] E eu me lembro da primeira vez que me apaixonei por um garoto.
Ele morava na minha rua, era bem alto e loiro.
Não consigo me recordar do seu nome, mas era um nome diferente. Me lembro que tocava guitarra. Ele era uns 4 anos mais velho que eu - na época eu devia ter 13 anos...
Não deu certo.
Eu chorei, pensando que nunca mais iria ser feliz, nunca mais ia me apaixonar.
Mas que bobagem...
Logicamente, não foi isso que aconteceu. Costumava brincar que depois desse primeiro, eu chorava por que eu me apaixonava todos os dias. Era uma confusão só de sentimentos, de atos, de corpos... Eu passei um época não atracando meu navio em nenhum porto, e isso rendeu algumas conseqüências. Esses anos de saudável leviandade me deram boas ressacas, fervorosas brigas, pessoas perdidas no tempo do Adeus, nunca mais quero te ver... Esses anos também me deram amigos, cúmplices, companheiros, gente como eu. Me deram dor de cabeça e alegria; me deram algumas lágrimas e um bucado de risadas...
Ah, aqueles anos... Minhas paixões vinham e iam com o vento, mas isso não diminuia a importância delas. Cada uma me acrescentou, alimentou minha alma, matou pouco a pouco minha sede de sentir...
Hoje só sinto quando relembro...

Ainda bem que você está aqui a me ouvir, garota...
Eu sempre me sinto feliz ao rememorar... Não vá embora cedo, ainda tem um pedaço de bolo na cozinha e eu ainda não sinto sono...

- Tudo bem, Sabina... Eu ainda estou aqui.



Memórias de Sabina.

Sobre o meu ódio.

Odeio ainda te sentir
ainda te ter aqui dentro
pulando, gritando, pedindo atenção.
Odeio como ainda consegue me fazer rir
Me fazer esquecer do que já fez;
me fazer querer reviver tudo aquilo
que neguei, que enjeitei.
Odeio quando penso em ti
quando me levas pela tua charla,
pelo teu jeito; quando me dizes "enfim",
quando não me diz que não, mas também não diz que sim.
Odeio quando não me responde,
quando não corresponde ao meu tão
sofrido chamado, ao meu grito rasgado.
Odeio teu olhar que invade, me possui,
me consome, me conhece, me persegue.
Odeio lembrar que sabes todo o meu
desenho, e que já traçou caminhos
com seus dedos por todo meu corpo,
em tão pouco tempo.
Odeio ainda te ver, e perceber
o quanto ainda sinto, e como ainda minto
sobre te odiar.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

meu parecer

Ontem eu vi o pôr-do-sol
avermelhado, alaranjado,
nem sei bem que cor parecia ser,
mas irradiava sob a cidade uma luz calma,
que parecia uma canção de ninar.

Pertinho da noite já, uma luz de cor sóbria se fez aparecer,
parecia que coloria o céu, com o matiz do perdão
com a tom do pecado,
e a nuança da paixão;

Quando a escuridão era completa,
e só um restinho de lua aparecia,
parecia que o mundo ia se acabar,
mas não,
foi só a noite ficando cinza,
parecendo me imitar.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Olhos de fogo.

Eu me lembro quando eu tive o meu primeiro grande sonho. Eu tinha 8 anos, e era dia de natal. Dentro do carro do meu pai, com os vidros fechados, e cheia de presentes ao redor, nós paramos em um sinal... Na calçada, bem perto de mim, havia uma criança. Devia ter a minha idade, e ele tremia de frio. Não que aqui faça frio, neve no Natal... Mas pra quem só usava uma peça de roupa, uma blusa toda rasgada, de noite e com fome, parecia estar na terra do papai Noel. Ele tremia de frio e de fome. Segurava uma plaquinha dizendo "estou com fome" e chorava. Ele chorava um choro dolorido. Não era só tristeza, não era por que ele não ganhava presentes... Era fome. Muita fome. Dor de fome.
Foi a primeira vez que eu me lembro de chorar um choro dolorido. De chorar desesperadamente. Foi a primeira vez, que eu me lembro, de ter tido um sonho. De desejar algo com muita força. O meu pedido foi nunca mais ver uma criança na rua, com frio, com fome, sozinha, chorando.
No aniversário de 15 anos de uma amiga minha, em um buffet, eu cheguei um pouco atrasada e antes de entrar vi três garotos sentados na esquina, sem mexer com ninguém. Acho que nem força tinham, de fome. Eu não consegui ficar no aniversário. Até hoje minha amiga conta a história de uma amiga desnaturada que foi emborado seu aniversário de 15 anos. Ela nunca soube o motivo, só via que eu chorava.
Entre vários desses imorais acontecidos, um aconteceu ontem. Eu estava em um ônibus, e um menino de rua subiu. Ele estava sujo, com roupas rasgadas, e me lembrava muito o garoto dos meus 8 anos, não fosse alguns anos a mais - talvez tivesse uns 11. Ele tinha um pacote de biscoito de chocolate em uma das mãos, e na outra tinha dinheiro pra passagem. Passagem inteira, lógico. Ele não tinha carteirinha. O cobrador não quis aceitar o seu dinheiro. Eu perguntei ao cobrador porque o menino não podia passar, e como se a minha pergunta ferisse a sua moral, ele deixou-o passar. Algo não estava normal com aquela criança. Ele tinha um andar trôpego, e eu escutei a mulher que estava sentada ao meu lado dizendo: "Deve estar bêbado, né?".
Como pode você estar em um coletivo e sentir que é a única pessoa que consegue ver a imoralidade daquela cena? Como pode alguém olhar pra uma criança, e não vê-la? Tratá-la como se fosse um bêbado qualquer?
Ele é só uma criança.
Eu chorei e meus olhos ficaram vermelhos, como os dele.
Ele tinha olhos de fogo.
Pequenos olhos de fogo, pois ele é só uma criança.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Deletério

Eu sou um saco de defeitos querendo amor
Me deixaram quando eu mais queria amar.
Eu penso em carinhos e lhe digo grosserias
Eu lhe mando flores e chegam espinhos.
Eu me canso, eu me rasco, eu me choro;
Eu não sou bom para mim.
Carrego todos os males do coração:
Ciúme, raiva, desilusão.
Meu acerto é um desacerto
Meu perdão é um recomeço
De tudo que foi ruim.
Estou cansado do meu peso,
Do que carrego, do que não mereço.
Eu me retalho em pedaços esperando um fim.
Eu me recomponho e passo a chorar.
Sei que tudo volta ao fim,
Sei que chegarei ao lixo,
Meu destino, descaminho, eu me recordo.
Eu não demoro a ser perfeito.
Um velho vício para o que é bom existir.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Homenagem aos 50 anos da bossa nova!

Andam dizendo na noite que eu já não te amo
Que eu saio na noite e já não te chamo
Que eu ando talvez procurando outro amor
Mas ninguém sabe querida o que é ter carinho
Que eu saio na noite mas fico sozinho
Bem perto da lua bem perto da dor

Perto da dor de saber
Que esse céu não existe
Que tudo o que nasce
Tem sempre um fim triste
Até meu carinho
Até nosso amor.

Tom jobim e Vinicius de Morais (aí é covardia meu prezado)

O cãosolo

Pediu vodka e sentou-se a mesa,
cigarro, conversa, e fumaça
descreveu para o amigo,
que nem lhe dava tanta atenção
suas dores e seu desatino,
contou da mulher amada,
da vida sofrida,
dos calos nas mãos,
e da esperança finda.

Vodka, cigarro e fumaça.
Dançou com uma moça,
disse-lhe as mesmas que para o amigo,
essa sim, deu até mais atenção.
Contou segredos,
fez promessas a si mesmo e a ela,
chorou no seu ombro,
acostumada estava com as lágrimas de bêbados.

Vodka cigarro e fumaça,
desceu a rua estreita do bar,
pisou na lama,
sentou-se a calçada,
e contou as mágoas
(as mesmas que para o amigo),
(as mesmas que para a moça),
ao cachorro mais próximo,
este, o observou sem latir,
então o cão, lambendo seu rosto,
naquele momento,
parecia até entender,
antes do amigo, da vodka, do cigarro e da moça
e o consolara melhor.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Se eu sei de mim?

Eu que ando tão desiludido
Nem sei dos meus pedidos
Muito menos do meu amor.

Não, eu não acredito
Não sei mais o que é o sorriso.
O cheiro daquela flor.

Ai, aquele vazio,
Sem cessar o frio;
Derramo lágrimas de solidão.

Ah, meu amigo!
O que será de mim?
Eu que vago perdido
Às vezes meio indeciso,
Tão faltoso de atenção...

O que seria se não fosse o que foi?
Aquele abraço aquecido,
Devaneios devidos de uma alma sem cor.

Eu choro sim,
Torno o copo sem prestígio
Mais um gole, um trago,
Garçom, agradecido, traga outra, por favor!

Desamor, nesse vazio perdido, numa desilusão desmedida;
Em cada gole uma saída de um desencontro casual...

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O redentor

Serei sempre um daqueles amantes apaixonados,
daqueles que se esgoelam de chorar ,
dos que cantam sua amada na madrugada, bêbados.
Dos que erram, correm atrás, são pisados, e ainda o gostam.
Sim, serei um daqueles qualquer,
mas não qualquer um daqueles,
serei o mais errado, o mais gasguito,
o mais inflado.
O mais ciumento,
o de menos lamento, e o de mais complicado.

O infante mais triste, o bem mais querido,
o rubi mais brilhante, a estrela cadente,
o sim camuflado, o não de mentira,
o abraço apertado, O poeta mais simples,
o amante safado, que grita tua saudade,
chora teus lamentos e ama teus pecados.

Serei aquele que corre na tua busca,
que não descansa, e quando não te alcança,
se esconde pra te fazer surpresa,
que te rir de qualquer besteira,
que se encanta fácil, que baba
com teu sorriso sereno.
Serei teu anjo, demônio, e redentor,
que te cura as feridas, e as põe expostas.
Serei por que já sou, e sinto-me sendo,
sem sossegar,
quando contigo estou; pleno em sentidos,
com a alma em êxtase
e o corpo em chamas.

Entre abelha e uma flor.

- E você, o que acha que vai acontecer?

"ah, tudo vai ser leve, como uma dia inundado de luz, claridade nos inebriando e nos envolvendo, fazendo com que nosso amor possa ser levado pelo vento, semeando o restante do mundo, e nos envenenando de alegria... E ninguém vai mais matar uma flor, irão admirirá-las, querê-las bem, cantar ao planeta sua beleza"

- Acho que vão me arrancar do pé.



Margarida.

domingo, 28 de setembro de 2008

Sentidos

Aquelas cores transpareciam algo,
Matizada,
Divergia de claro a rubra;
Era agradável ao ouvido nu.


Balanceada por segmentos de intenção,
Percebia-se que não era somente aquilo,
Seguiam ainda estáticas
Os movimentos de ondas que vinham do som.


E os meus olhos refletiam os azuis que se queria ouvir
De alguma forma o compromisso cintilava:
Tipo uma ilusão clara
Que logo foi assassinada por uma nota maior.

E de tal variável acabei por me ferir
Escutando o crepúsculo da paixão,
Vendo aquela linha gradual
Cingir no céu um aroma de solidão.

Os meus olhos refletiam os azuis que não se queria ouvir.
Meus sentidos desviavam a trepidação:
Tateei o verde azul necessário
E mesmo contrariado prossegui o tom.

Mas do mar amar
Ouvi o canto das sereias, meio zonzo, sei que cheguei ao fim:
Seduzido, extasiado, induzido; senti, agradavelmente, minha vida decair.


sábado, 27 de setembro de 2008

Show


A canção resplandece ao som.
_
"Meu amor minha flor minha menina
Solidão não cura com aspirina
Tanto que eu queria o teu amor"
_
Gritos apaixonados ecoam:

Muso! Muso! LiiIndoo!..

Eu no me canto me envolvo,
Embalado pela canção, sorrindo.

O teu cheiro-corpo me acena
Tece carinhos ao te tocar.
E naquela cena,
a certeza,
Não era sentimento frívolo,
Era um êxtase, um conforto a se contemplar.

Eis aquele presente dos deuses?
Uma confiança, certa, de não errar.

No palco ele canta Carolina,
Na mesa, a lua a cintilar.
Sei que é tu minha menina,
A mulher que eu posso amar.
_
"Vem me trazer calor, fervor, fervura
Me vestir do terno da ternura
Sexo também é bom negócio
O melhor da vida é isso e ócio"
_
Amigos por todos os lados;
E um show para se rememorar.

Hope

Não pude então, ser outra vez teu
quis sê-lo apenas, ali
naquela hora,
naquele bendito momento,
quando a saudade era completa
e por fim senti-la novamente,
mas não,
não era tão fácil assim,
ter denovo, o que já não é meu,
trazer o passado e fazê-lo presente,
como um nova dádiva,
Não! Não aos mortais,
talvez a Deus seja simples,
a nós não,
a nós; a culpa,
o adeus
arrependimento,
e consolar-se.

A nós; a dor secreta,
as lágrimas escondidas,
cada segundo de solidão,
toda frase não dita,
cada silêncio gritante,
todo impulso contido,
cada medo bastante,
todo e qualquer sorriso,
e cada riso, semblante.

E de tanta força medida
tanto atrito de antes
ficaram marcas
duelos maçantes
mas se ódio eram antes,
hoje são esperança,
rima e poesia,
sentimento novo,
cativado e experiente,
que sabe aos poucos se consolidar,
parece nem sentimento ser,
visto que,
não explode como vulcão,
mas vai 
desabrochando
lenta
mente
feito
flor.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008


Eu queria dar-te um pedaço de mim.
Um pedaço mínimo.

Arrancar de mim um pedaço sensível,
O que te fizesses entender e me perdoar.
Com isso, meu sentimento se tornaria tangível,
Mesmo entrevado e suspenso no ar.

Daí, dores e prazeres percebidos;
Os desalinhos poderiam cessar.

Ah seu pudesse inscrever-te em meu corpo
Um pouco torto, um afeto assim:
Co-sentimento, compaixão, pró-amor.

Eu queria dar-te um pedaço de mim;
Assim possível meu choro entender,
Meus "vacilos" desculpar.

Pois, pedaço de mim,
Leva os sentimentos meus,
Minha poesia e o meu penar.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Ode a Flor.

Arranca-me suspiros,
todos os olhares teus,
qualquer pedaço do teu sorriso.
retira-me os espinhos,
e cala-me a voz.

Qualquer desabrochar,
mais ou menos inocente,
de qualquer pétala tua
serena, lisa, cadente,
me põe em prantos,
desesperando-me, por inteiro
da tua presença.

O Cacto.

Poupar.

Poupar um amor de um briga
Poupar um vida de uma dor
Fazer com que o dia seja claro
não falando do nosso amor.
Não se preocupe
nem mesmo espere
nada mais faço
De ti, nada mais levo
não mais me entrego em versos
ou linhas erradas, com peso.
Agora minha leveza não mais em ti paira
Não mais a ti procura.
Não mais de ti precisa para rememorar.
Hoje encontrei a cura.
A cura foi te poupar
e não mais me lembrar
de algo que, aparentemente,
nunca existiu.
Espero que tenhas guardado tudo
e já tenha uma gorda poupança
Meu amor, meu bem, você não mais ganha
nem de graça, nem de herança.


E eu só peço ainda "Me poupe, coração".
Acordou
ou ainda dormia.

Realidade?

Fantasia?

O lugar era lindo.

Muitas cores.

Não havia nada pela metade.

Tudo era muito e
por inteiro.

As cores tinham um brilho tão intenso
que ofuscavam o olhar de quem ousava fitá-las.

O lugar:
Desconhecido.

Tinha um cheiro bom...

Cheiro de felicidade nova,
dessas que acabara de brotar
d'um jardim regado a sorrisos bobos
de apaixonados que passavam por lá.

O som...

Aconchegante como a voz de uma mãe
em uma cantiga de ninar...

Abriu e fechou os olhos:
O lugar ainda estava lá.

Um travesseiro e um cobertor.

A febre cessou.

A cantiga era real.

E o lugar?

Quem saberá?!

(Suzan Keila)

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Um homem com uma dor

um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegando atrasado
andasse mais adiante

carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisa que os valha

ópios édens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra

Paulo leminski

terça-feira, 23 de setembro de 2008

O perdão das horas.


Te darei todos os teus perdões,
inclusive aqueles que não mereceu,
aqueles que perdeu,
os mais doídos perdões te darei,
pois às vezes,
mesmo o sangue quente nas veias,
os dentes rangendo,
e o nós na garganta,
sucubem ao divino perdão.

Nem sei se é de todo divino,
pode ser primazia erronia da culpa,
do ego erro, sarcasmo do destino,
secreto, indefeso.
talvez correto e coeso,
é o perdão que te dou.

Findo nosso amor, pois, te perdoando,
deixando todas às mágoas pra tu chorar,
ou esquecer,
em mim, guardo só o mais bonito,
o que realmente ficou,
infindáveis minutos de desejo,
horas perpétuas de amor.

sábado, 20 de setembro de 2008

Reencontro...

Eu estava novamente naquele bar, rememorava uma noite sombria, um pouco fria. Essas noites que só uma paixão ou uma forte bebida poderia esquentar. O que teria aquele dia e esse bar de extraordinário – um bar sujo com boa música e gente interessante são poucos.
È, aquela era uma dessas noites que se sai de casa à procura de algo, algo que não sabemos o que é, algo que modifique nosso dia, algo inusitado que também pode não acontecer. O que poderíamos perder se não acontecesse? Eu estava lá com meus olhos atentos, olhos que iam além daquelas conversas bobas de quem não tem nada a dizer, somente a necessidade de se comunicar e achar algo para se divertir, nem que esse algo fosse o seu interlocutor. Conversas bobas são boas para potencializarmos o tempo que se arrasta. Mas eu buscava o novo. Por isso sai e fiquei sentado do lado de fora do bar. Vendo quem passava, uns arrastados outros arrastando, pessoas eufóricas querendo aparecer para o mundo. Amigos furtivos de copo de cruz, de outras farras a fio, de um encontro qualquer. Foi quando a vi caminhar como uma dançarina ferida, cambaleando com um litro em umas das mãos e na outra os sapatos vermelhos. Assim sem direção sem rumo, como se andasse para esquecer, andasse para fugir, como se estivesse entalada pelo grito. Mas ao mesmo tempo observando a realidade, a procura de um olhar, de um sorriso, de um rosto amigo; alguém que pudesse lhe confortar.

Eu encontrava a lembrança naquele bar, a lembrança e outro trago de vodca. Hoje, sou eu que grito um grito mudo de quem precisa achar alguém e não se sabe quem é.
Talvez, eu não queira encontrá-la, como reagiria se descobrisse que minha idealização era real e que sua beleza de tão pura, de tão linda, pudesse ser postiça? Mas eu a encontrei em passos firmes, com um ar altivo. Eu a olhei de longe, fitando-a como se fosse alguém esperando reconhecimento. Já era maio e eu não tinha esquecido nosso encontro. Sim, eu esquecia e lembrava que esquecia. Ela me olhou, evitou, tornou a olhar:
“Eu te conheço de algum lugar?”. Perguntou.
“Talvez.” Respondi
“Não, Sérioo.” Com encanto quase infantil.
“Da vida, nos encontramos nesse bar.”
“Não acredito, obrigada!, eu sinto um pouco de vergonha agora.”...


Artur Furtado

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Fragmentos

Bate Volta
Triste Chora
Seria pior a solidão?
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A lua pela janela
Brisa leve, sem espera;
Só amor ao sabor do mar.
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Vento no rosto
Sorriso exposto
"Sem emprego nem patrão".
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Triste fim madrugada,
Alvorada, antes você do que mais nada.
______________________
Uma gota
Duas doses,
Um amor a tira gosto.
______________
È doce amar
Há mar doce de amor
Eu em seus braços, te colhendo menina flor.

_______

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

não me queira mal

Eis-me aqui,
outra vez,
como um samba triste a doer,
a penar e a sofrer.
Pra te rever.
Sem roer,
entregar,
meu amor,
pra você.

Mas nunca foi,
realmente, o que eu quis,
nem se quer,
o que fiz,
Fui somente,
encontrar, um porque
nos teus braços.
esquecer um pouco de minha dor,
nos teu abraços,
e desfazer todo o mal,
de um amor,
doentio,
que passou.

Covardia, eu sei,
despertar assim teu amor de menina,
e depois fugir, na hora santa da saudade.
Voltar somente, ao me abater,
quando me queria,
consolar.

Mas não, não me queira mal minha criança,
que nos breves instantes de meu egoísmo,
eu fui eternamente teu, como nunca de ninguém.

Eu sou você amanhã: a noite dos 24 anos.

[...] E eu me lembro da noite dos meus 24 anos.
Eu comemorava mais uma primavera (Como costumava dizer nos meus aniversários), mas a noite estava fria, como se o inverno não quisesse passar. Eu esperava-o numa rua do subúrbio, e nos arredores da cidade sempre parece fazer mais frio. Eu batia os queixos e começava a ficar aborrecida, mas ele dizia que estava chegando. Ele vinha de táxi me pegar para irmos comemorar em algum lugar escuro, como sempre.
Nosso caso sempre foi assim. Meio obscuro, desenrrolado no escuro, cheio de impulsos e escondido dentro de cada um. Eu o conheci em uma noite também. Escura noite. Não me lembro tão bem como desenrrolou-se tudo, mas sei que foi algo ligado à pele, à olhares, à sorrisos. Foi tudo com sentidos estremecidos, almas consentindo em se perder e em esconder.
Eu me lembro quando ele chegou naquela noite dos 24 anos. O táxi parou bem perto do portão preto da minha casa, e ele estava atrás. Quando entrei, ele me puxou bem perto, e quase em seu colo, eu escutei ele dizer-me, como quem brinca para se desculpar: Sabina, vamos a Paris!
Sim, nosso caso era em outros lugares, em outros corpos, em outras fantasias. Nunca completamente vivido, à mostra.
Eu sorri penosa, mal dizendo aquele emaranhado de confusões, mas rindo da alma infante daquele amigo. Nós cruzamos a cidade quase toda, aproveitamos cada minuto da noite, e do começo da manhã também.
Eu me lembro da noite dos meus 24 anos; não tanto o que conversamos, não tanto o que mal disse sobre nossa relação, nem mesmo lembro que roupa usava. Só lembro que estava frio, que ele me puxou e quase em seu colo fez passar minha impaciência com uma brincadeira de fugir, e com sua mão quente, por debaixo da minha blusa, passeando em minhas costas, esquentou um pouco os meus sentidos.
É meio sem sentido lembrar disso, da noite dos meus 24 anos, visto que tantos já comemorei... Mas estava realmente frio, e um garoto amigo - já perdido depois de tantas décadas - me pôs em seu colo e me aqueceu.
Eu me lembro daquela noite.
Naquela noite o frio me envolveu, mas o calor chegou de táxi e me salvou.


Memórias de Sabina.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O Sonhador


Sonhei um dia em te querer
Entrar forte em tua mente
Consumir-te em fogo ardente
Até com pouco me conter.


Há sonhos tão doentes
Mas julgo este tão decente
Que me nego adormecer.


Sonhei um dia diferente,
Em ti meu corpo queimar,
E das cinzas tão contentes,
Teu peito seco adubar.


Sonhei que era um sonhador,
Sonhei pecados meus pagar,
A recompensa era te desejar,
Ao traçar esse sonho de amor.


Sonhei, sem me deter,
No seu  coração instalar,
A chama que me faz viver,
O fogo que se faz desmaiar.


Mas no teu peito o ar não passa.
Ô realidade sem graça...
È que sou eu um sonhador.

Ela era Linda...

Continuando...

“Ela dormiu em meus braços.” Era o que eu falava a Pedro naquela manhã nublada, na praia.
“Cara, a menina capotou, dormiu profundamente em meus braços, com os sapatos vermelhos nas mãos.” Ele me escutava com um sorriso de canto de boca.
“Tu não pegaste nem um número do telefone nem nada quando ela acordou?”
“Não. Eu estava muito impressionado ou talvez bêbado para isso. Ela simplesmente acordou, disse que tinha que ir embora, me agradeceu por ouvi-la e foi.”
“Tu de besta não fez nada?”
“Não tive reação, não tinha como ter. Mas antes dela ir, eu ganhei um beijo no cangote – Especificamente naquele lugar que fica entre o pescoço e a face, quase na orelha.”. Com ar de zombaria ele continua:
“Macho, tu é muito mole.”
“Que nada, ela era linda”
“Era não, é. Ela não morreu nem ficou feia. È linda e tu nem para pegar o número do telefone serve."
“Não é bem assim.”
O que ele não sabia que ela passara o tempo todo chateada com outro cara, por tê-la deixado ali, por fazê-la quebrar o salto. Eu era somente, somente ninguém, um ouvinte qualquer, se fosse um cachorro ou um poste ela falaria do mesmo jeito, até chamaria para dançar também. Não se interessou por nada em mim. Estava passando, chateada, bêbada e enraivecida, tropeçar e cai ao meu lado com um litro de vinho nas mãos foi só um acaso. Poderia cair em qualquer lugar, talvez cair e dormir fosse o melhor para ela naquela noite. Não, naquela noite para ela o melhor era falar. Lembro agora o quanto me agradecia por ouvi-la: obrigado por meu o-u-v-i-r era o que mais repetia, além da porra do salto. Uma voz sôfrega, rouca, macia contrastava com explosões de raiva e dose de sedução, ímpeto ferido de uma linda mulher. Não, eu não poderia me aproveitar daquela situação. Se me aproveitasse poderia arriscar perdê-la. Porra! Como posso perder quem nunca tive. Ela era linda. Era porque não posso saber se ainda é. Não sei se vou encontrá-la. Acho que tem pessoas que existem somente para conhecermos e admirar, se convivermos poderia perder o encanto, poderia perder a beleza? E ela era Linda.

Artur Furtado

Continua..

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Eu sou você amanhã: "Cuidado, menina!"

[...] E eu me lembro da minha mãe dizendo: Cuidado, menina!
Eu fingia que não escutava, me ria e pensava que mamãe precisava se dar mais pra essa vida, precisava afrouxar as suas amarras. Pensava que ela queria estar vivendo essas minhas noites sem fim, e por isso me repreendia tanto.
Mamãe dizia: Cuidado, menina! E eu me ria.
Hoje eu entendo.
Hoje eu me rio de fraqueza ao me olhar no espelho; de raiva quando vejo aquele reflexo opaco do outro lado, que me ri de volta, ironicamente. Eu envelheci dobrado, somando todas as noites que teimei em não escutar minha mãe. Passou algumas décadas, e boa parte de mim se perdeu na poeira das tortuosas ruas que andei, rindo e cantando com os companheiros de mesa de bar, encondendo na fumaça os erros que tentava fazer se esvair.
"Cuidado, menina!"
Hoje eu sei do que ela falava.
Ela não falava do álcool, da nicotina, do sexo, dos amores perdidos.
Ela falava dos meus excessos. Daquela minha pressa desmedida de viver. Ela sentia em mim o cheiro da bebida, do cigarro, dos quartos escuros; ela via o sorriso sereno se perder entre uma noite e outra, já rememorando um novo velho amor.
O grande problema não era isso, mas perceber isso em mim todos os dias.
Minha pouca saúde que resta, me obriga a continuar respirando e continuar lembrando da voz forte da minha mãe dizendo: "Cuidado, menina!".
Eu passo o dia inteiro nesse saudosismo enfadonho e doloroso, até que a noite cai. Eu me visto, saio do apartamento no terceiro andar, paro na mercearia do lado do prédio, compro um vermelhinho, sento na mesa da esquina, e peço uma: "Não tão gelada, heim!".
Eu sento sozinha, entre burburinhos conhecidos e gargalhadas já vividas, e escuto minha mãe, que diz: "Cuidado, menina! Olha a tua saúde". Dessa vez eu me rio desafiadora, como se aquela áurea me trouxesse a velha mania de revidar, de se atrever, e solto baixinho: "Ora, mamãe... Nascer acabou com a minha saúde".


Memórias de Sabina.

Vamos costurar?

Começa com o tecido.
Aquele bonito, vistoso, que você acha que cairia direitinho em você, e você escolhe à dedo. Depois você vai na lojinha da esquina e compra uma linha que combine, para então fazer o modelo que quiser.
Chega então a parte chata... Marcar as medidas.
Pega-se um alfinete e começa a espetar daqui, espetar dali. Pega-se o alfinete para dar a tua forma àquela malha que escolheste.
Parte chata e difícil.
Dolorida.
O alfinete corre solto à tua mão, querendo dar forma ao teu desejo, querendo transformar tuas idealizações no que tu anseia. Ficamos tão presos a forma, ao nosso querer, que esquecemos que por dentro do tecido existe carne, osso, sangue e poesia; esquecemos o quão forte pode ser a dor que este alfinete causaria se não formos cuidadosos, se esquecemos da nossa força e desembestamos a alfinetar. Há que se ter cuidado com os caminhos da agulha, com os nós da linha, mas principalmente com a força com que alfinetas.
Se você não estiver usando um dedal, você também se machuca.
Cuidado, companheiro.
Costurar é complicado.
Exige paciência, delicadeza e cuidado.
Alfinete com a suavidade com que sonhas, não com a fúria que tu sentes.
Não adianta de nada o vestido ficar bonito, e o corpo não usá-lo, pois não vai ousar bailar com tanta dor.

Depoimento de Dirceu

"Não posso dizer que me sinto bem ao terminar mais um relacionamento, mas também não tenho remorso. Não entendo essa dor, esse choro das mulheres quando chegam ao ponto final de uma relação.
Penso que quem está na chuva é pra se molhar. Quando me envolvo com alguém não dou garantia que vai dar tudo certo, que vai ser “pra sempre”. É uma roleta. Mas parece que tenho sempre sorte e elas azar. Talvez por conhecer bem minhas “parceiras” de jogo. Por exemplo, mulheres em noite de lua cheia são um perigo. Estão dispostas, com libido a flor da pele, e teimam em não calar. Falam, falam demais. Eu as escuto. Elas não calam. Eu calo, escuto, observo, dou aquele sorriso de canto de boca, comedido, mas que denuncia atenção. Atenção que elas tanto procuram. E assim começa mais uma relação. Só que a vida não é feita só de uma fase e, aos poucos, as coisas vão mudando. Antes atenção bastava. Tudo bem! Depois atenção e sexo. Tudo bem! Atenção, sexo e carinho. Tudo bem! Atenção, sexo, carinho e amor. Chega! “Olha, não dá mais. Você é linda, foi ótimo esse tempo que passamos juntos, mas acho melhor nos separamos.” Pronto! Começa a choradeira. Essa é a primeira reação de todas. Mas depois de algum tempo as atitudes se diferenciam. Umas não querem me ver até hoje. Outras teimam em “falar em saudade” e ligam pra saber se estou bem, se ando pelas mesmas ruas, “como vai você, meu bem?”, é assim que elas iniciam a conversa.
As mais fortes (ao menos aparentemente) superam. E se ligam é pra dizer “não me peças perdão”. Outras descobrem a felicidade longe de mim, dos meus calcanhares, muito embora meu “sorriso ainda cause disritmia”. A última mulher com quem terminei ainda está na “fase do choro”. Uma das mais passionais com quem já me relacionei. Tentei acalmá-la. Após horas, desisti, levante-me e saí. Ela seguiu-me. Correu desesperadamente e só parou quando seu salto quebrou. Agora cá estou. Noite de lua cheia, sentado à mesa de um bar, copo e cigarro na mão assassinando “mais um grande amor da minha vida”.
Sem remorso."

Dirceu Vidal

Das dunas fiz um porto.

Diante de ti tremo e tenho tudo e remo tanto  para não falar que minha rima fraca e cansada de repouso e  de descanço de um trabalhador da p...