Tu vens, tu vens. Eu já escuto os teus sinais...
Não, não posso crer no que sinto agora. Não posso permitir que voltes a me assombrar os sonhos, que voltes a me assolar a alma. Acreditei que o gigante havia adormecido. Eu já havia transfigurado esse amor imenso em remanso mas , o que há agora? Por que tua figura insiste em inundar minha cabeça, feito a maré que engole o quebra-mar? Não! Não é justo, não comigo, não de novo! Não achas que já retalhaste o bastante meu coração? Não achas que já me fizeste soluçar o suficiente?
Não é possível que esse teu sorriso ainda cause disritmia. Eu aprendi a viver sem ti e descobri que é possível ser feliz longe de teus calcanhares. Não, em hipótese alguma, vou deixar o nó se refazer. Dessa vez eu não aposto minhas fichas, eu aprendi a jogar, a blefar, a ganhar. Por muito tempo estive presa ao teu cheiro, aos teus olhos, há muito tempo atrás. E agora sinto novamente meus lábios sequiosos por teus beijos, minha pele cálida em busca da tua. Acordo em sobressalto, mais um sonho e o resto da noite insone.
Pessoas repetem teus gestos, andam nos lugares onde andamos nós, cantam nossa história numa canção. Sinto uma pressão esmagadora no peito, sinto o ar fugir de meus pulmões, não quero sentir. Leio as cartas que nunca te enviei, releio os cartões guardados, provas irrefutáveis de um amor dorido, um amor no banco dos réus, culpado, criminoso. Uma história que o tempo insiste em reinventar e eu persisto em arquivar, deixar pra lá, fazer de conta que passou. Tua lembrança me persegue, tu não me deixas esquecer teus olhos.
“Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi”
Chico Buarque
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D
O
R
E
I
. (PONTO)
Ah, metade amputada de mim.
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