Mergulhos

Já gastei tantas palavras e de fato nada dizendo que hoje quero gritar tantas coisas que nem lembro. São coisas sobre o mundo, a vida e, sobretudo, o amor. Porém, nos rearranjos que passo, eu sigo num barco navegando num imenso mar. Hora metáforas, muito embora palavras no silêncio de uma manifestação. Os açoites e as carícias constituíram um ser além das feições. Apesar de compartilhar convosco, sou eu quem ouve, depois de pronto, o meu recado escancarado num mural virtual. E o prazer que sinto em saber que a mentira do poema é a verdade que busco diante de mim, traz-me satisfação. Porque, na verdade, eu busco preencher as palavras com os sentimentos ininteligíveis, e a merda é que escrever é uma racionalização. Na verdade, esse imenso mar que navego, no qual posso me afogar, é só a superfície de todas as maravilhas das quais eu posso encontrar.

Ah, viver na superfície para ser visto é a mentira sistemática do mundo. Ou se  mergulha ou o  eu é só o  que existe. Viver é muito mais do que ser prático...  é   ir até onde acaba o fôlego, gritar e não conseguir; é voltar pedindo ajuda ou não, pegar ar e seguir novamente em busca. Viver não é material, o material é perecível. A vida, apesar de momentânea, é eterna. Algo raro como um amor solidificado. Acho que vivemos ¼ de toda nossa existência por que compartimentamos tudo. Dizem: esse é o momento, quando na verdade só é a oportunidade. E a oportunidade de mergulhar, se conseguirmos, tem de ser agarrada com todo o fôlego do ser, porque mergulhar é maravilhoso, entretanto alerto: perigoso é emergir.

Viver não é fácil e não é para todos. Para estes que não conseguem inventaram os espetáculos e os espetaculares. São projeções de vida e de seres. Também inventaram a mentira e a arte, não a mentira do sistema (onde possa ser verdade) como afirma Pessoa, “mas a verdade de um poema ou de uma novela - verdade em saber que é mentira, e assim não mentir.”. Deixamos cada qual com o que o corpo suporta (pois a alma suporta tudo, o corpo é que não resiste), cada qual com o seu fôlego de vida. Mas que estes não venham limitar quem almeja águas mais profundas. E que estes saibam respeitar a partida e o retorno dos mergulhadores.

Ao mergulhar em busca do amor
Toda as vezes faltou-me ar
Sempre o  dito afogou-se
E eu emergi trazendo marcas
De um amor que pensei que fosse. 


Comentários

Postagens mais visitadas