Lá vai ela...

Lá está ela, sentada no banco da praça. Olhos no chão, a ponta dos dedos brincando com a velha pulseirinha de figuras japonesas. Relembra cada passo de sua trajetória, repassa sua história na cabeça latejante, algumas palavras insistem em permanecer. Lá vai ela! Passos largos, gestos breves e um sorriso, aparentemente, doce. Ela se esforça, ergue a fronte, ensaia uma escusa, ensaia uma esquiva mas, seus olhos ainda úmidos denunciam a mágoa dorida que carrega.
Ela não consegue ouvir o que eles conversam, está distante, mas de longe vislumbra os sorrisos, ou seriam risos? Ela não consegue ouvir a conversa, ela não quer ouvir. Hoje pela manhã ela acordou com o coração estranhamente descompassado. Ela sabe que aperto no peito é sinônimo de notícia ruim a caminho, é prenúncio de desalento. Ela queria não saber, queria não ouvir seu coração batendo travado, mas disso ela não pode fugir.
Por fim, aqui está ela novamente, com o sonho extirpado precocemente, palavras duras em voz de veludo e tudo muda, sonhar só não dá nada. Ela viu os sinais mas, recusou-se a acreditar, teimou em não perceber o início do engodo. Agora ela entendia as conversas sussurradas, os encontros sem convite, a alegria não compartilhada, ela ficara de fora da festa. O que ela não entendia era o porquê de todos saberem de seu desterro e ela ser a última a saber. E ela continua sem entender, afinal, ainda nada foi dito, ela não sabe se é coragem que falta ou se é desprezo que sobra. Enfim, ela caiu em si.
E a tristeza, com a qual ela duelou bravamente, contra a qual ela investiu com violência, irrompe alma adentro, instala-se e parece não ter pressa em partir. Lá vai ela! Olhos no chão, sorriso docemente melancólico, e um nó na garganta, cantando “descansa coração e bate em paz...”

Comentários

Pétrig disse…
Adorei, um pouco de Caio Fernando Abreu, de Lya Luft, de Clarisse lispector, e muito muito de Sibila...
lindo mulher.

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