Ela era Linda...
Continuando...
“Ela dormiu em meus braços.” Era o que eu falava a Pedro naquela manhã nublada, na praia.
“Cara, a menina capotou, dormiu profundamente em meus braços, com os sapatos vermelhos nas mãos.” Ele me escutava com um sorriso de canto de boca.
“Tu não pegaste nem um número do telefone nem nada quando ela acordou?”
“Não. Eu estava muito impressionado ou talvez bêbado para isso. Ela simplesmente acordou, disse que tinha que ir embora, me agradeceu por ouvi-la e foi.”
“Tu de besta não fez nada?”
“Não tive reação, não tinha como ter. Mas antes dela ir, eu ganhei um beijo no cangote – Especificamente naquele lugar que fica entre o pescoço e a face, quase na orelha.”. Com ar de zombaria ele continua:
“Macho, tu é muito mole.”
“Que nada, ela era linda”
“Era não, é. Ela não morreu nem ficou feia. È linda e tu nem para pegar o número do telefone serve."
“Não é bem assim.”
O que ele não sabia que ela passara o tempo todo chateada com outro cara, por tê-la deixado ali, por fazê-la quebrar o salto. Eu era somente, somente ninguém, um ouvinte qualquer, se fosse um cachorro ou um poste ela falaria do mesmo jeito, até chamaria para dançar também. Não se interessou por nada em mim. Estava passando, chateada, bêbada e enraivecida, tropeçar e cai ao meu lado com um litro de vinho nas mãos foi só um acaso. Poderia cair em qualquer lugar, talvez cair e dormir fosse o melhor para ela naquela noite. Não, naquela noite para ela o melhor era falar. Lembro agora o quanto me agradecia por ouvi-la: obrigado por meu o-u-v-i-r era o que mais repetia, além da porra do salto. Uma voz sôfrega, rouca, macia contrastava com explosões de raiva e dose de sedução, ímpeto ferido de uma linda mulher. Não, eu não poderia me aproveitar daquela situação. Se me aproveitasse poderia arriscar perdê-la. Porra! Como posso perder quem nunca tive. Ela era linda. Era porque não posso saber se ainda é. Não sei se vou encontrá-la. Acho que tem pessoas que existem somente para conhecermos e admirar, se convivermos poderia perder o encanto, poderia perder a beleza? E ela era Linda.
Artur Furtado
Continua..
“Ela dormiu em meus braços.” Era o que eu falava a Pedro naquela manhã nublada, na praia.
“Cara, a menina capotou, dormiu profundamente em meus braços, com os sapatos vermelhos nas mãos.” Ele me escutava com um sorriso de canto de boca.
“Tu não pegaste nem um número do telefone nem nada quando ela acordou?”
“Não. Eu estava muito impressionado ou talvez bêbado para isso. Ela simplesmente acordou, disse que tinha que ir embora, me agradeceu por ouvi-la e foi.”
“Tu de besta não fez nada?”
“Não tive reação, não tinha como ter. Mas antes dela ir, eu ganhei um beijo no cangote – Especificamente naquele lugar que fica entre o pescoço e a face, quase na orelha.”. Com ar de zombaria ele continua:
“Macho, tu é muito mole.”
“Que nada, ela era linda”
“Era não, é. Ela não morreu nem ficou feia. È linda e tu nem para pegar o número do telefone serve."
“Não é bem assim.”
O que ele não sabia que ela passara o tempo todo chateada com outro cara, por tê-la deixado ali, por fazê-la quebrar o salto. Eu era somente, somente ninguém, um ouvinte qualquer, se fosse um cachorro ou um poste ela falaria do mesmo jeito, até chamaria para dançar também. Não se interessou por nada em mim. Estava passando, chateada, bêbada e enraivecida, tropeçar e cai ao meu lado com um litro de vinho nas mãos foi só um acaso. Poderia cair em qualquer lugar, talvez cair e dormir fosse o melhor para ela naquela noite. Não, naquela noite para ela o melhor era falar. Lembro agora o quanto me agradecia por ouvi-la: obrigado por meu o-u-v-i-r era o que mais repetia, além da porra do salto. Uma voz sôfrega, rouca, macia contrastava com explosões de raiva e dose de sedução, ímpeto ferido de uma linda mulher. Não, eu não poderia me aproveitar daquela situação. Se me aproveitasse poderia arriscar perdê-la. Porra! Como posso perder quem nunca tive. Ela era linda. Era porque não posso saber se ainda é. Não sei se vou encontrá-la. Acho que tem pessoas que existem somente para conhecermos e admirar, se convivermos poderia perder o encanto, poderia perder a beleza? E ela era Linda.
Artur Furtado
Continua..
Comentários
Ah, acasos crueis.
Mas ela era linda..
Penso que é só na convivência que sabemos se as pessoas são verdadeiramente lindas, nada como "a beleza do erro, do engano, da imperfeição"...
tanto faz,