terça-feira, 30 de setembro de 2008
Se eu sei de mim?
Nem sei dos meus pedidos
Muito menos do meu amor.
Não, eu não acredito
Não sei mais o que é o sorriso.
O cheiro daquela flor.
Ai, aquele vazio,
Sem cessar o frio;
Derramo lágrimas de solidão.
Ah, meu amigo!
O que será de mim?
Eu que vago perdido
Às vezes meio indeciso,
Tão faltoso de atenção...
O que seria se não fosse o que foi?
Aquele abraço aquecido,
Devaneios devidos de uma alma sem cor.
Eu choro sim,
Torno o copo sem prestígio
Mais um gole, um trago,
Garçom, agradecido, traga outra, por favor!
Desamor, nesse vazio perdido, numa desilusão desmedida;
Em cada gole uma saída de um desencontro casual...
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
O redentor
daqueles que se esgoelam de chorar ,
dos que cantam sua amada na madrugada, bêbados.
Dos que erram, correm atrás, são pisados, e ainda o gostam.
Sim, serei um daqueles qualquer,
mas não qualquer um daqueles,
serei o mais errado, o mais gasguito,
o mais inflado.
O mais ciumento,
o de menos lamento, e o de mais complicado.
O infante mais triste, o bem mais querido,
o rubi mais brilhante, a estrela cadente,
o sim camuflado, o não de mentira,
o abraço apertado, O poeta mais simples,
o amante safado, que grita tua saudade,
chora teus lamentos e ama teus pecados.
Serei aquele que corre na tua busca,
que não descansa, e quando não te alcança,
se esconde pra te fazer surpresa,
que te rir de qualquer besteira,
que se encanta fácil, que baba
com teu sorriso sereno.
Serei teu anjo, demônio, e redentor,
que te cura as feridas, e as põe expostas.
Serei por que já sou, e sinto-me sendo,
sem sossegar,
quando contigo estou; pleno em sentidos,
com a alma em êxtase
e o corpo em chamas.
Entre abelha e uma flor.
"ah, tudo vai ser leve, como uma dia inundado de luz, claridade nos inebriando e nos envolvendo, fazendo com que nosso amor possa ser levado pelo vento, semeando o restante do mundo, e nos envenenando de alegria... E ninguém vai mais matar uma flor, irão admirirá-las, querê-las bem, cantar ao planeta sua beleza"
- Acho que vão me arrancar do pé.
Margarida.
domingo, 28 de setembro de 2008
Sentidos
Matizada,
Divergia de claro a rubra;
Era agradável ao ouvido nu.
Balanceada por segmentos de intenção,
Percebia-se que não era somente aquilo,
Seguiam ainda estáticas
Os movimentos de ondas que vinham do som.
E os meus olhos refletiam os azuis que se queria ouvir
De alguma forma o compromisso cintilava:
Tipo uma ilusão clara
Que logo foi assassinada por uma nota maior.
E de tal variável acabei por me ferir
Escutando o crepúsculo da paixão,
Vendo aquela linha gradual
Cingir no céu um aroma de solidão.
Os meus olhos refletiam os azuis que não se queria ouvir.
Meus sentidos desviavam a trepidação:
Tateei o verde azul necessário
E mesmo contrariado prossegui o tom.
Mas do mar amar
Ouvi o canto das sereias, meio zonzo, sei que cheguei ao fim:
Seduzido, extasiado, induzido; senti, agradavelmente, minha vida decair.
sábado, 27 de setembro de 2008
Show

Gritos apaixonados ecoam:
Muso! Muso! LiiIndoo!..
Eu no me canto me envolvo,
Embalado pela canção, sorrindo.
O teu cheiro-corpo me acena
Tece carinhos ao te tocar.
E naquela cena,
Não era sentimento frívolo,
Era um êxtase, um conforto a se contemplar.
Eis aquele presente dos deuses?
Uma confiança, certa, de não errar.
No palco ele canta Carolina,
Na mesa, a lua a cintilar.
Sei que é tu minha menina,
A mulher que eu posso amar.
Amigos por todos os lados;
E um show para se rememorar.
Hope
quis sê-lo apenas, ali
naquela hora,
naquele bendito momento,
quando a saudade era completa
e por fim senti-la novamente,
mas não,
não era tão fácil assim,
ter denovo, o que já não é meu,
trazer o passado e fazê-lo presente,
como um nova dádiva,
Não! Não aos mortais,
talvez a Deus seja simples,
a nós não,
a nós; a culpa,
o adeus
arrependimento,
e consolar-se.
A nós; a dor secreta,
as lágrimas escondidas,
cada segundo de solidão,
toda frase não dita,
cada silêncio gritante,
todo impulso contido,
cada medo bastante,
todo e qualquer sorriso,
e cada riso, semblante.
E de tanta força medida
tanto atrito de antes
ficaram marcas
duelos maçantes
mas se ódio eram antes,
hoje são esperança,
rima e poesia,
sentimento novo,
cativado e experiente,
que sabe aos poucos se consolidar,
parece nem sentimento ser,
visto que,
não explode como vulcão,
mas vai
lenta
mente
feito
flor.
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
Eu queria dar-te um pedaço de mim.
Um pedaço mínimo.
Arrancar de mim um pedaço sensível,
O que te fizesses entender e me perdoar.
Com isso, meu sentimento se tornaria tangível,
Mesmo entrevado e suspenso no ar.
Daí, dores e prazeres percebidos;
Os desalinhos poderiam cessar.
Ah seu pudesse inscrever-te em meu corpo
Um pouco torto, um afeto assim:
Co-sentimento, compaixão, pró-amor.
Eu queria dar-te um pedaço de mim;
Assim possível meu choro entender,
Meus "vacilos" desculpar.
Pois, pedaço de mim,
Leva os sentimentos meus,
Minha poesia e o meu penar.
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Ode a Flor.
todos os olhares teus,
qualquer pedaço do teu sorriso.
retira-me os espinhos,
e cala-me a voz.
Qualquer desabrochar,
mais ou menos inocente,
de qualquer pétala tua
serena, lisa, cadente,
me põe em prantos,
desesperando-me, por inteiro
da tua presença.
O Cacto.
Poupar.
Poupar um vida de uma dor
Fazer com que o dia seja claro
não falando do nosso amor.
Não se preocupe
nem mesmo espere
nada mais faço
De ti, nada mais levo
não mais me entrego em versos
ou linhas erradas, com peso.
Agora minha leveza não mais em ti paira
Não mais a ti procura.
Não mais de ti precisa para rememorar.
Hoje encontrei a cura.
A cura foi te poupar
e não mais me lembrar
de algo que, aparentemente,
nunca existiu.
Espero que tenhas guardado tudo
e já tenha uma gorda poupança
Meu amor, meu bem, você não mais ganha
nem de graça, nem de herança.
E eu só peço ainda "Me poupe, coração".
ou ainda dormia.
Realidade?
Fantasia?
O lugar era lindo.
Muitas cores.
Não havia nada pela metade.
Tudo era muito e
por inteiro.
As cores tinham um brilho tão intenso
que ofuscavam o olhar de quem ousava fitá-las.
O lugar:
Desconhecido.
Tinha um cheiro bom...
Cheiro de felicidade nova,
dessas que acabara de brotar
d'um jardim regado a sorrisos bobos
de apaixonados que passavam por lá.
O som...
Aconchegante como a voz de uma mãe
em uma cantiga de ninar...
Abriu e fechou os olhos:
O lugar ainda estava lá.
Um travesseiro e um cobertor.
A febre cessou.
A cantiga era real.
E o lugar?
Quem saberá?!
(Suzan Keila)
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegando atrasado
andasse mais adiante
carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisa que os valha
ópios édens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra
Paulo leminski
terça-feira, 23 de setembro de 2008
O perdão das horas.

Te darei todos os teus perdões,
inclusive aqueles que não mereceu,
aqueles que perdeu,
os mais doídos perdões te darei,
pois às vezes,
mesmo o sangue quente nas veias,
os dentes rangendo,
e o nós na garganta,
sucubem ao divino perdão.
Nem sei se é de todo divino,
pode ser primazia erronia da culpa,
do ego erro, sarcasmo do destino,
secreto, indefeso.
talvez correto e coeso,
é o perdão que te dou.
Findo nosso amor, pois, te perdoando,
deixando todas às mágoas pra tu chorar,
ou esquecer,
em mim, guardo só o mais bonito,
o que realmente ficou,
infindáveis minutos de desejo,
horas perpétuas de amor.
sábado, 20 de setembro de 2008
Reencontro...
È, aquela era uma dessas noites que se sai de casa à procura de algo, algo que não sabemos o que é, algo que modifique nosso dia, algo inusitado que também pode não acontecer. O que poderíamos perder se não acontecesse? Eu estava lá com meus olhos atentos, olhos que iam além daquelas conversas bobas de quem não tem nada a dizer, somente a necessidade de se comunicar e achar algo para se divertir, nem que esse algo fosse o seu interlocutor. Conversas bobas são boas para potencializarmos o tempo que se arrasta. Mas eu buscava o novo. Por isso sai e fiquei sentado do lado de fora do bar. Vendo quem passava, uns arrastados outros arrastando, pessoas eufóricas querendo aparecer para o mundo. Amigos furtivos de copo de cruz, de outras farras a fio, de um encontro qualquer. Foi quando a vi caminhar como uma dançarina ferida, cambaleando com um litro em umas das mãos e na outra os sapatos vermelhos. Assim sem direção sem rumo, como se andasse para esquecer, andasse para fugir, como se estivesse entalada pelo grito. Mas ao mesmo tempo observando a realidade, a procura de um olhar, de um sorriso, de um rosto amigo; alguém que pudesse lhe confortar.
Eu encontrava a lembrança naquele bar, a lembrança e outro trago de vodca. Hoje, sou eu que grito um grito mudo de quem precisa achar alguém e não se sabe quem é.
Talvez, eu não queira encontrá-la, como reagiria se descobrisse que minha idealização era real e que sua beleza de tão pura, de tão linda, pudesse ser postiça? Mas eu a encontrei em passos firmes, com um ar altivo. Eu a olhei de longe, fitando-a como se fosse alguém esperando reconhecimento. Já era maio e eu não tinha esquecido nosso encontro. Sim, eu esquecia e lembrava que esquecia. Ela me olhou, evitou, tornou a olhar:
“Eu te conheço de algum lugar?”. Perguntou.
“Talvez.” Respondi
“Não, Sérioo.” Com encanto quase infantil.
“Da vida, nos encontramos nesse bar.”
“Não acredito, obrigada!, eu sinto um pouco de vergonha agora.”...
Artur Furtado
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
Fragmentos
Triste Chora
Seria pior a solidão?
A lua pela janela
Brisa leve, sem espera;
Só amor ao sabor do mar.
_______________________________
Vento no rosto
Sorriso exposto
"Sem emprego nem patrão".
_____________________________
Triste fim madrugada,
Alvorada, antes você do que mais nada.
______________________
Duas doses,
Um amor a tira gosto.
______________
Há mar doce de amor
Eu em seus braços, te colhendo menina flor.
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
não me queira mal
outra vez,
como um samba triste a doer,
a penar e a sofrer.
Pra te rever.
Sem roer,
entregar,
meu amor,
pra você.
Mas nunca foi,
realmente, o que eu quis,
nem se quer,
o que fiz,
Fui somente,
encontrar, um porque
nos teus braços.
esquecer um pouco de minha dor,
nos teu abraços,
e desfazer todo o mal,
de um amor,
doentio,
que passou.
Covardia, eu sei,
despertar assim teu amor de menina,
e depois fugir, na hora santa da saudade.
Voltar somente, ao me abater,
quando me queria,
consolar.
Mas não, não me queira mal minha criança,
que nos breves instantes de meu egoísmo,
eu fui eternamente teu, como nunca de ninguém.
Eu sou você amanhã: a noite dos 24 anos.
Eu comemorava mais uma primavera (Como costumava dizer nos meus aniversários), mas a noite estava fria, como se o inverno não quisesse passar. Eu esperava-o numa rua do subúrbio, e nos arredores da cidade sempre parece fazer mais frio. Eu batia os queixos e começava a ficar aborrecida, mas ele dizia que estava chegando. Ele vinha de táxi me pegar para irmos comemorar em algum lugar escuro, como sempre.
Nosso caso sempre foi assim. Meio obscuro, desenrrolado no escuro, cheio de impulsos e escondido dentro de cada um. Eu o conheci em uma noite também. Escura noite. Não me lembro tão bem como desenrrolou-se tudo, mas sei que foi algo ligado à pele, à olhares, à sorrisos. Foi tudo com sentidos estremecidos, almas consentindo em se perder e em esconder.
Eu me lembro quando ele chegou naquela noite dos 24 anos. O táxi parou bem perto do portão preto da minha casa, e ele estava atrás. Quando entrei, ele me puxou bem perto, e quase em seu colo, eu escutei ele dizer-me, como quem brinca para se desculpar: Sabina, vamos a Paris!
Sim, nosso caso era em outros lugares, em outros corpos, em outras fantasias. Nunca completamente vivido, à mostra.
Eu sorri penosa, mal dizendo aquele emaranhado de confusões, mas rindo da alma infante daquele amigo. Nós cruzamos a cidade quase toda, aproveitamos cada minuto da noite, e do começo da manhã também.
Eu me lembro da noite dos meus 24 anos; não tanto o que conversamos, não tanto o que mal disse sobre nossa relação, nem mesmo lembro que roupa usava. Só lembro que estava frio, que ele me puxou e quase em seu colo fez passar minha impaciência com uma brincadeira de fugir, e com sua mão quente, por debaixo da minha blusa, passeando em minhas costas, esquentou um pouco os meus sentidos.
É meio sem sentido lembrar disso, da noite dos meus 24 anos, visto que tantos já comemorei... Mas estava realmente frio, e um garoto amigo - já perdido depois de tantas décadas - me pôs em seu colo e me aqueceu.
Eu me lembro daquela noite.
Naquela noite o frio me envolveu, mas o calor chegou de táxi e me salvou.
Memórias de Sabina.
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
O Sonhador
Ela era Linda...
“Ela dormiu em meus braços.” Era o que eu falava a Pedro naquela manhã nublada, na praia.
“Cara, a menina capotou, dormiu profundamente em meus braços, com os sapatos vermelhos nas mãos.” Ele me escutava com um sorriso de canto de boca.
“Tu não pegaste nem um número do telefone nem nada quando ela acordou?”
“Não. Eu estava muito impressionado ou talvez bêbado para isso. Ela simplesmente acordou, disse que tinha que ir embora, me agradeceu por ouvi-la e foi.”
“Tu de besta não fez nada?”
“Não tive reação, não tinha como ter. Mas antes dela ir, eu ganhei um beijo no cangote – Especificamente naquele lugar que fica entre o pescoço e a face, quase na orelha.”. Com ar de zombaria ele continua:
“Macho, tu é muito mole.”
“Que nada, ela era linda”
“Era não, é. Ela não morreu nem ficou feia. È linda e tu nem para pegar o número do telefone serve."
“Não é bem assim.”
O que ele não sabia que ela passara o tempo todo chateada com outro cara, por tê-la deixado ali, por fazê-la quebrar o salto. Eu era somente, somente ninguém, um ouvinte qualquer, se fosse um cachorro ou um poste ela falaria do mesmo jeito, até chamaria para dançar também. Não se interessou por nada em mim. Estava passando, chateada, bêbada e enraivecida, tropeçar e cai ao meu lado com um litro de vinho nas mãos foi só um acaso. Poderia cair em qualquer lugar, talvez cair e dormir fosse o melhor para ela naquela noite. Não, naquela noite para ela o melhor era falar. Lembro agora o quanto me agradecia por ouvi-la: obrigado por meu o-u-v-i-r era o que mais repetia, além da porra do salto. Uma voz sôfrega, rouca, macia contrastava com explosões de raiva e dose de sedução, ímpeto ferido de uma linda mulher. Não, eu não poderia me aproveitar daquela situação. Se me aproveitasse poderia arriscar perdê-la. Porra! Como posso perder quem nunca tive. Ela era linda. Era porque não posso saber se ainda é. Não sei se vou encontrá-la. Acho que tem pessoas que existem somente para conhecermos e admirar, se convivermos poderia perder o encanto, poderia perder a beleza? E ela era Linda.
Artur Furtado
Continua..
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Eu sou você amanhã: "Cuidado, menina!"
Eu fingia que não escutava, me ria e pensava que mamãe precisava se dar mais pra essa vida, precisava afrouxar as suas amarras. Pensava que ela queria estar vivendo essas minhas noites sem fim, e por isso me repreendia tanto.
Mamãe dizia: Cuidado, menina! E eu me ria.
Hoje eu entendo.
Hoje eu me rio de fraqueza ao me olhar no espelho; de raiva quando vejo aquele reflexo opaco do outro lado, que me ri de volta, ironicamente. Eu envelheci dobrado, somando todas as noites que teimei em não escutar minha mãe. Passou algumas décadas, e boa parte de mim se perdeu na poeira das tortuosas ruas que andei, rindo e cantando com os companheiros de mesa de bar, encondendo na fumaça os erros que tentava fazer se esvair.
"Cuidado, menina!"
Hoje eu sei do que ela falava.
Ela não falava do álcool, da nicotina, do sexo, dos amores perdidos.
Ela falava dos meus excessos. Daquela minha pressa desmedida de viver. Ela sentia em mim o cheiro da bebida, do cigarro, dos quartos escuros; ela via o sorriso sereno se perder entre uma noite e outra, já rememorando um novo velho amor.
O grande problema não era isso, mas perceber isso em mim todos os dias.
Minha pouca saúde que resta, me obriga a continuar respirando e continuar lembrando da voz forte da minha mãe dizendo: "Cuidado, menina!".
Eu passo o dia inteiro nesse saudosismo enfadonho e doloroso, até que a noite cai. Eu me visto, saio do apartamento no terceiro andar, paro na mercearia do lado do prédio, compro um vermelhinho, sento na mesa da esquina, e peço uma: "Não tão gelada, heim!".
Eu sento sozinha, entre burburinhos conhecidos e gargalhadas já vividas, e escuto minha mãe, que diz: "Cuidado, menina! Olha a tua saúde". Dessa vez eu me rio desafiadora, como se aquela áurea me trouxesse a velha mania de revidar, de se atrever, e solto baixinho: "Ora, mamãe... Nascer acabou com a minha saúde".
Memórias de Sabina.
Vamos costurar?
Aquele bonito, vistoso, que você acha que cairia direitinho em você, e você escolhe à dedo. Depois você vai na lojinha da esquina e compra uma linha que combine, para então fazer o modelo que quiser.
Chega então a parte chata... Marcar as medidas.
Pega-se um alfinete e começa a espetar daqui, espetar dali. Pega-se o alfinete para dar a tua forma àquela malha que escolheste.
Parte chata e difícil.
Dolorida.
O alfinete corre solto à tua mão, querendo dar forma ao teu desejo, querendo transformar tuas idealizações no que tu anseia. Ficamos tão presos a forma, ao nosso querer, que esquecemos que por dentro do tecido existe carne, osso, sangue e poesia; esquecemos o quão forte pode ser a dor que este alfinete causaria se não formos cuidadosos, se esquecemos da nossa força e desembestamos a alfinetar. Há que se ter cuidado com os caminhos da agulha, com os nós da linha, mas principalmente com a força com que alfinetas.
Se você não estiver usando um dedal, você também se machuca.
Cuidado, companheiro.
Costurar é complicado.
Exige paciência, delicadeza e cuidado.
Alfinete com a suavidade com que sonhas, não com a fúria que tu sentes.
Não adianta de nada o vestido ficar bonito, e o corpo não usá-lo, pois não vai ousar bailar com tanta dor.
Depoimento de Dirceu
Penso que quem está na chuva é pra se molhar. Quando me envolvo com alguém não dou garantia que vai dar tudo certo, que vai ser “pra sempre”. É uma roleta. Mas parece que tenho sempre sorte e elas azar. Talvez por conhecer bem minhas “parceiras” de jogo. Por exemplo, mulheres em noite de lua cheia são um perigo. Estão dispostas, com libido a flor da pele, e teimam em não calar. Falam, falam demais. Eu as escuto. Elas não calam. Eu calo, escuto, observo, dou aquele sorriso de canto de boca, comedido, mas que denuncia atenção. Atenção que elas tanto procuram. E assim começa mais uma relação. Só que a vida não é feita só de uma fase e, aos poucos, as coisas vão mudando. Antes atenção bastava. Tudo bem! Depois atenção e sexo. Tudo bem! Atenção, sexo e carinho. Tudo bem! Atenção, sexo, carinho e amor. Chega! “Olha, não dá mais. Você é linda, foi ótimo esse tempo que passamos juntos, mas acho melhor nos separamos.” Pronto! Começa a choradeira. Essa é a primeira reação de todas. Mas depois de algum tempo as atitudes se diferenciam. Umas não querem me ver até hoje. Outras teimam em “falar em saudade” e ligam pra saber se estou bem, se ando pelas mesmas ruas, “como vai você, meu bem?”, é assim que elas iniciam a conversa.
As mais fortes (ao menos aparentemente) superam. E se ligam é pra dizer “não me peças perdão”. Outras descobrem a felicidade longe de mim, dos meus calcanhares, muito embora meu “sorriso ainda cause disritmia”. A última mulher com quem terminei ainda está na “fase do choro”. Uma das mais passionais com quem já me relacionei. Tentei acalmá-la. Após horas, desisti, levante-me e saí. Ela seguiu-me. Correu desesperadamente e só parou quando seu salto quebrou. Agora cá estou. Noite de lua cheia, sentado à mesa de um bar, copo e cigarro na mão assassinando “mais um grande amor da minha vida”.
Sem remorso."
Dirceu Vidal
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
SAFENA
Sabe o que é um coração
amar ao máximo de seu sangue?
Bater até o auge de seu baticum?
Não, você não sabe de jeito nenhum.
Agora chega.
Reforma no meu peito!
Pedreiros, pintores, raspadores de mágoas
aproximem-se!
Rolos, rolas, tinta, tijolo
comecem a obra!
Por favor, mestre de Horas
Tempo, meu fiel carpinteiro
comece você primeiro passando verniz nos móveis
e vamos tudo de novo do novo começo.
Iansã, Oxum, Afrodite, Vênus e Nossa Senhora
apertem os cintos
Adeus ao sinto muito do meu jeito
Pitos ventres pernas
aticem as velas
que lá vou de novo na solteirice
exposta ao mar da mulatice
à honra das novas uniões
Vassouras, rodos, águas, flanelas e cercas
Protejam as beiras
lustrem as superfícies
aspirem os tapetes
Vai começar o banquete
de amar de novo
Gatos, heróis, artistas, príncipes e foliões
Façam todos suas inscrições.
Sim. Vestirei vermelho carmim escarlate
O homem que hoje me amar
Encontrará outro lá dentro.
Pois que o mate.
Elisa Lucinda
Pequena homenagem que faço as mulheres da lua cheia.
domingo, 14 de setembro de 2008
Ela dormiu em meus braços.
Era o que ela repetia: obrigado por me ouvir. Já eu, maravilhado com sua beleza, responderia quantas vezes fosse preciso: por nada, minha querida.
“Eu não sei o que anda acontecendo comigo... eu acho que eu quebrei o salto! – entornando mais um gole depois de falar – sabe?
Você sabe?”
Sei... sem saber ao certo o que tinha ocorrido, eu queria que ela ficasse calma.
“Eu quebrei o salto, a porra do salto! Agora estou sem ninguém e sem salto”
Calma!
“Os homens são como os saltos: eles nos dão beleza e quebram”
“Como assim?”
“Não importa, mas obrigado por me ouvir – tremia-se toda, uma mulher linda e confusa – eu não sei como você me ouve”
Era inicio de semestre, março eu acho, naquele tempo eu andava com vários planos e o principal deles era conhecer:
Eu conheceria de tudo e todos se a recíproca fosse verdadeira, acho fácil conhecer pessoas, o difícil é conviver. Tem outra coisa, ( : ] ) ela era linda. E ficar naquele bar ouvindo-a me enchia de alegria e prazer. Embora não compreendesse bem onde ela quisesse chegar ou ir, eu a escutava.
“Sabe?”
“Sei...”
“Você não sabe nada, vocês não sabem de porra alguma, não sabem tratar as mulheres”
Talvez lágrimas saíssem dos seus olhos naquele momento. Eu achei um pouco clichê, porém respondi:
“Então diga, para eu saber”
“Por que diria?”
Com um tom meio irritado e com os olhos radiantes. Olhos amendoados ”
“Não, eu não, mas eu gosto de você... Você sabe me ouvir. Meu salto porra! Tu sabes quanto custaram meus sapatos? Maldito!” Bebeu mais um gole, “uma vez eu conheci um cara, desses daí igual a você, porte mediano, chamoso, com boa con... – a interrompi subitamente: “Mas eu só faço ouvir” – Cala boca porra, deixa eu falar, será que é tão difícil um homem que saiba escutar?”
Soltou um sorriso:
“ Já estou gostando de você.” Sorrindo .
Eu já estava impaciente com aquela dor de cotovelo, toda beleza no mundo não pagaria ficar ali... mas era linda, continuei calado.
“charmoso, prestou atenção que eu te chamei de charmoso”
“Não, o outro igual a mim que era charmoso”
“Deixa de bobagem e me escuta: – ao falar isso balançava levemente os cabelos – pois é, super atraente ele, só que ele não sabia me ouvir.”
Eu não queria saber dele, eu tinha raiva dele, desse maldito do qual ela falava. Como não ouvir uma mulher linda como ela, como não dá atenção, eu esqueceria até de mim.
“Por favor vamos dançar comigo, meus saltos, eles estão quebrados, sabe como eu quebrei os saltos?”
Já falava com uma voz chorosa, meio inebriada.
“Sabe como eu quebrei os saltos? Ah! Obrigado por me ouvir – já chorando dizia – eu quebrei os saltos correndo atrás dele quando, quando me deixou... aaquele bosta, ele é um bosta, não é?”
“é”
“Ele me deixou aqui.”
Ela dormiu em meus braços, desprotegida, chateada. Eu não entendi direito o que aconteceu com ela: sei que ela quebrou o salto, teve, talvez, uma desilusão amorosa e precisava de alguém para conversar e eu estava disposto a ouvir. Ela dormiu em meus braços.
Continua...
Artur Furtado
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
subproduto humano
Um subproduto;
Um homem comum,
Eu vou ao trabalho.
Já sei trabalhar,
Eu vou progredir.
Acesso meu site,
Faço meu dessing;
Virtualmente eu já sinto prazer.
Eu acompanho os processos
Escuto os inquéritos,
Eu posso te ouvir em Macapá em Gibaltrar;
O que vou fazer?
Eu tenho meu sítio,
Conheço meus acasos,
Tenho meus casos,
E sei consumir.
Eu sou produto subproduto de mim – quando você me ler.
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Utopia sensitiva.
E se tudo fosse calmo, como um bloco de carnaval? E se sol raiasse em todos os momentos de prazer? E se a bebida fosse o motor, e o cigarro o amor?
A calmaria somaria a alegria, que seria constante, ao som de sambas e evoluções; os dias seriam eternos, com belos raios solares alheios, uma aurora sem fim; tudo seria mais livre, sem tantos arreios, e o nosso coração acabaria como cinzas em um cinzeiro.
A margarida, amiga do cacto sem nome.
o assassino
abriu todas as garrafas como se fosse o último dia na terra,
entornou de um gole só, todas as angústias que o álcool poderia curar,
acendeu um cigarro, cuspiu no chão e de quebra assassinou mais um grande amor da sua vida.
O Cacto ( Ainda sem nome )
Produzir.
do que incertezas aqui dentro,
do silêncio, das coisas e das ressacas,
da poesia estranha e timida,
sentida a poucos, olhada por uns,
venerada por outros,
que o poeta não sabe o desfecho,
nem mesmo o começo ele sabe,
ele escreve apenas,
e vê na sua crença,
algo belo que vai nascer,
ou virar cinza e pó,
e cair nas lástimas impiedosas do esquecimento.
A poesia fraca, sem rima,
ganha tanta força quando anima,
quando cala, esquece,
quando entristece,
a mim pois, é assim,
via de regra,
não precisa ser bela,
nem feia, nem métrica,
nem alheia,
precisa entristecer,
fazer chorar,
fazer lembrar,
e nunca fazer dormir.
Necessita fazer sorrir,
fazer sentido,
fazer valer a pena,
a pena que traz na mão,
e na dança das palavras,
tirar pra dançar os sentimentos mais ofuscados,
nos cantos mais obscuros da alma triste
do poeta chato.
terça-feira, 9 de setembro de 2008
Olhos quebrados...
Olho-me no espelho e me deparo com o reflexo inquietante de castanhos olhos quebrados, irritados com o sal da tristeza. A imagem de alguém que pega carona no sonho alheio, recolhendo os resquícios dos sorrisos, chorando a dor das despedidas, colando os pedaços que ficam pelo caminho...
Um pedaço de mim se perdeu nas andanças da vida, talvez esteja num canto qualquer do mundo que sou, perdeu-se numa esquina desse meu labirinto. E, perdido, deseja encontrar-se. "É preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê..."
Tu vens, tu vens. Eu já escuto os teus sinais...
Não, não posso crer no que sinto agora. Não posso permitir que voltes a me assombrar os sonhos, que voltes a me assolar a alma. Acreditei que o gigante havia adormecido. Eu já havia transfigurado esse amor imenso em remanso mas , o que há agora? Por que tua figura insiste em inundar minha cabeça, feito a maré que engole o quebra-mar? Não! Não é justo, não comigo, não de novo! Não achas que já retalhaste o bastante meu coração? Não achas que já me fizeste soluçar o suficiente?
Não é possível que esse teu sorriso ainda cause disritmia. Eu aprendi a viver sem ti e descobri que é possível ser feliz longe de teus calcanhares. Não, em hipótese alguma, vou deixar o nó se refazer. Dessa vez eu não aposto minhas fichas, eu aprendi a jogar, a blefar, a ganhar. Por muito tempo estive presa ao teu cheiro, aos teus olhos, há muito tempo atrás. E agora sinto novamente meus lábios sequiosos por teus beijos, minha pele cálida em busca da tua. Acordo em sobressalto, mais um sonho e o resto da noite insone.
Pessoas repetem teus gestos, andam nos lugares onde andamos nós, cantam nossa história numa canção. Sinto uma pressão esmagadora no peito, sinto o ar fugir de meus pulmões, não quero sentir. Leio as cartas que nunca te enviei, releio os cartões guardados, provas irrefutáveis de um amor dorido, um amor no banco dos réus, culpado, criminoso. Uma história que o tempo insiste em reinventar e eu persisto em arquivar, deixar pra lá, fazer de conta que passou. Tua lembrança me persegue, tu não me deixas esquecer teus olhos.
“Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi”
Chico Buarque
Fala!
se não me for permitido falar
o que será dessa minha alma
já corroída, sem saída, perdida
nessa estrada torta da nossa relação?
Não calo.
Sei que nosso trem já parou em uma estação
e você desceu sem olhar pra trás
seguindo com devoção um novo caminho
justamente por que calei
por que deixei passar,
esperando a proxima parada.
Não calo.
O meu querer-te grita
me agita as entranhas
me embrulha o estômago
e no âmago do meu desejo
me desespero pra mostrar, pra provar
o que tu continua dizendo que não.
Não calo.
Se calasse, poderias dizer que são só escritos
só idealizações, um jeito distorcido de amar.
Não calo, por que não posso dar-te a razão
de deixar-me aqui.
Se calasse, estarias comprovando
o que eu teimo em dizer que não
o que não quero admitir.
Não calo.
As estações podem ir e vim
e eu continuar a descer em todas,
mas se um dia eu descer na tua,
na que me deixastes sozinha,
eu de novo falarei, direi em alto e bom som: Não calo.
Pode virar e de novo me deixar.
Não calo.
Você vai, mas saberás.
As estações podem ir e vim, mas não se pode calar.
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
Não me peças perdão
Por favor não te arrependas,
nem me peça perdão se quiser,
pois ao partires, nada levaste,
nem discórdia, nem verdade
apenas em minh'alma deixaste,
um tanto assim de tristeza,
e um tanto assim de saudade,
Por suplicio, não te arrependas
nem me peça perdão outra vez,
pois ao sumires, nada restou,
nem esperança, nem certeza,
apenas em meu peito ficaste,
apenas em meu peito deixou,
um tanto assim de ojeriza,
outro tanto assim de rancor,
Não te arrependas te peço,
assim não vá proceder,
pois ao correste dos braços meus,
tudo se fragmentara,
tudo aqui se quebrou,
um pouco de tudo acabara,
um pouco de tudo morreu,
do que me fazia humano,
do que me fazia ser eu,
Se pensares porém,
num dia qualquer regressar,
não o faça sem me consultar,
pois poderá encontrar nos meus braços,
braços que um dia deixou,
tanta alegria contida,
e o requinte de um novo amor,
e teus erros já serão tão pequenos,
diante da tua imensa dor.
E por falar em saudade...
Me pego pensando como vai sua vida
Onde andam seus olhos e se ainda brilham
do mesmo jeito que me brilhavam quando a lua ainda era minha.
Onde anda seu sorriso? Para quem sorri?
Ainda andas nas mesmas ruas?
Ainda lembras do que lhe fiz?
Como anda a escrita? Ainda fala sobre as feridas?
Ou agora se cala por que transparece,
e busca saída entra falas e preces de amém?
Como anda o teu jeito de menino?
Continua moleque ou agora estás sério,
no ardor desse tédio amoroso
desses tempos de casos de amor?
Como vai você, meu bem?
Como vai teus caminhos, tuas indas e vindas,
teus sentidos aguçados, o emaranhado dos teus sentimentos?
Tenho saudade da tua voz, tua presença,
da nossa convivência, do silêncio consentido,
do desejo desmedido, das 24 horas pra me amar.
Como anda a sua força, sua fé, seu escudo?
Ainda se veste com as armas de jorge para se salvar?
Como anda o teu desejo mudo de mudar?
E as loucuras pensandas de noite na cama...?
Ainda pensa em me amar?
Me diga... Como vai você, meu bem?
Seu cheiro, risada, sua pele?
Ainda são como me eram?
Ainda transpira até pingar tua essência em outro corpo,
e depois embala a amada com canções de ninar tão antigas
quanto o nosso tempo, pouco tempo?
Como vai você, meu querido?
Eu queria saber de você...
Dos seus dias e noites, dos seus quereres,
o que tu sentes, se ainda mentes.
Eu queria saber de você...
Como anda você?
Me diga entre os dentes, baixo, no ouvido;
ou mesmo distante, por uma carta, ou no telefone.
Ah, meu bem... eu preciso saber de você.
Como anda você?
Espero te ver, de novo te ter
ou só te escutar.
Me diz, eu preciso saber se ainda vou te querer
depois que disser as histórias que tem pra me contar.
Me fale, meu bem... Como anda você?
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
2 de abril só tinha dois
naquela época eram só duas, agora só dois,
agora nenhuma, alguém agora são 3,
entre tantos e nenhum,
era assim todos os dias,
quando éramos só nós,
e nunca vocês,
e agora que não somos, ?
quantos nós iremos ser?
por que sempre tens a rima,
e o poder de escrever...
poetas sempre são assim, ?
intestinos e paixões,
engasgos, medos imbreagos?
muito erro de português,
Um blog de experiências,
congenitas sem rimas, das almas unidas
na arte de sonhar com 6...?
talvez até imaginários, talvez reais nem sei,
mas sinceros, sem mentiras...!
eu garanto que os são!
O quereres
Onde queres dinheiro, sou paixão!
Onde queres descanso, sou desejo;
E onde sou só desejo, queres não!
E onde não queres nada, nada falta;
E onde voas bem alto, eu sou o chão;
E onde pisas no chão,
Minha alma salta: e ganha liberdade na amplidão...
Onde queres família, sou maluco;
E onde queres romântico, burguês!
Onde queres leblon, sou pernambuco;
E onde queres eunuco, garanhão!
E onde queres o sim e o não, talvez;
Onde vês, eu não vislumbro razão!
Onde queres o lobo, eu sou o irmão;
E onde queres cowboy, eu sou chinês!
Onde queres o ato, eu sou o espírito;
E onde queres ternura, eu sou tesão!
Onde queres o livre, decassílabo;
E onde buscas o anjo, eu sou mulher!
Onde queres prazer, sou o que dói;
E onde queres tortura, mansidão!
Onde queres o lar, revolução;
E onde queres bandido, eu sou o herói!
Eu queria querer-te amar o amor,
Construírmos dulcíssima prisão;
E encontrar a mais justa adequação:
Tudo métrica e rima e nunca dor!
Mas a vida é real e é de viés,
E vê só que cilada o amor me armou:
Eu te quero e não me queres como sou;
Não te quero e não me queres como és...
Onde queres comício, flipper vídeo;
E onde queres romance, rock'n roll!
Onde queres a lua, eu sou o sol;
Onde a pura-natura, o inseticídeo!
E onde queres mistério, eu sou a luz;
Onde queres um canto, o mundo inteiro!
Onde queres quaresma, fevereiro;
E onde queres coqueiro, eu sou obus!
O quereres e o estares sempre a fim,
Do que em mim é em ti tão desigual...
Faz-me querer-te bem;
Querer-te mal:
Bem a ti, mal ao quereres assim:
Infinitivamente impessoal;
E eu querendo querer-te sem ter fim!
E querendo-te,
Aprender o total...
Do querer que há;
E do que não há em mim!
- Caetano
Sem querer querendo.
querendo te ter e que tu me quisesses.
Te olhei por entre sorrisos alheios
te senti por debaixo da mesa - acidentalmente.
Teus olhos de menino me fazem falta
nesse mundo de adulto sem sal.
Me peguei querendo teu olhar fixo no meu
em uma cama em meio à suor.
Me peguei com meu corpo querendo ser seu
querendo querer tua mão na minha carne e sem isso ter, acabo só tendo disso uma parte.
Acabo com o delírio da noite sozinha.
Na cama eu me viro, reviro, e se me divirto até conseguir, é por pura tentação.
O que eu queria mesmo era você por entre os dedos;
era ter a sensação de cansaço, descansar depois em teus braços e escutar tua respiração, antes ofegante, agora tranquila.
E eu, sem saber como, achando que já não podia
me faço menina de novo.
Eu, que já nem me lembro de casa de boneca
me encontro criança nos teus olhos de ciranda que me chamam pra dançar.
Ontem eu me peguei te querendo.
Querendo ser tua
querendo que tu fosse meu.
Sei que não devo, não posso
mas sinto dizer, devoro o que quero
acabo queimando no inferno por satisfazer meu prazer.
Não me sinto culpada quanto ao querer
mas só tu me fazes sentir assim
querendo querer abolir esse meu desejo por ti.
Por que só tu alcança minha quase morta consciência
e quando me olha, penetra a existência
parece que com a mão me abaixa a cabeça, me afaga e pede para que não erre
para que não peque.
Só tu me dá sentimento de culpa
por que sei que também a sente
e talvez seja só por isso que ainda perdura
o nosso querer escondido
calado na nossa mente.
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Lá vai ela...
Ela não consegue ouvir o que eles conversam, está distante, mas de longe vislumbra os sorrisos, ou seriam risos? Ela não consegue ouvir a conversa, ela não quer ouvir. Hoje pela manhã ela acordou com o coração estranhamente descompassado. Ela sabe que aperto no peito é sinônimo de notícia ruim a caminho, é prenúncio de desalento. Ela queria não saber, queria não ouvir seu coração batendo travado, mas disso ela não pode fugir.
Por fim, aqui está ela novamente, com o sonho extirpado precocemente, palavras duras em voz de veludo e tudo muda, sonhar só não dá nada. Ela viu os sinais mas, recusou-se a acreditar, teimou em não perceber o início do engodo. Agora ela entendia as conversas sussurradas, os encontros sem convite, a alegria não compartilhada, ela ficara de fora da festa. O que ela não entendia era o porquê de todos saberem de seu desterro e ela ser a última a saber. E ela continua sem entender, afinal, ainda nada foi dito, ela não sabe se é coragem que falta ou se é desprezo que sobra. Enfim, ela caiu em si.
E a tristeza, com a qual ela duelou bravamente, contra a qual ela investiu com violência, irrompe alma adentro, instala-se e parece não ter pressa em partir. Lá vai ela! Olhos no chão, sorriso docemente melancólico, e um nó na garganta, cantando “descansa coração e bate em paz...”
De todas as maneiras.
Nós já nos amamos
Com todas as palavras feitas pra sangrar
Já nos cortamos
Agora já passa da hora,
tá lindo lá fora
Larga a minha mão,
solta as unhas do meu coração
Que ele está apressado
E desanda a bater desvairado
Quando entra o verão
De todas as maneiras que há de amar
Já nos machucamos
Com todas as palavras feitas pra humilhar
Nos afagamos
Agora já passa da hora,
tá lindo lá fora
Larga a minha mão,
solta as unhas do meu coração
Que ele está apressado
E desanda a bater desvairado
Quando entra o verão.
Francisco Buarque de Hollanda.
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Talvez
Talvez você conseguisse
Talvez você quisesse alguém do seu lado
Alguém que lhe dissesse sim.
Talvez eu devesse lhe dá a mão,
Tocar seus dedos, sentir seu cheiro,
E lhe chamar de amor;
Esquecer de mim.
Se eu fizesse um pouco do impossível
Ultrapassaria o umbigo da própria solidão.
Talvez se eu lhe ouvisse,
Se eu conseguisse e ficasse ao seu lado,
Se eu dissesse sim, se déssemos as mãos.
Alcança meus dedos, meu coração.
Talvez não fosse amor.
Talvez, ser diferente, com disposição para amar,
Fosse suficiente.
Sentíssemos corpo, sentíssemos desejo,
Sentíssemos bem;
Se eu conseguisse me sentir.
Talvez nós exigimos do amor algo tão completo que não encontramos em nós.
Talvez se chorasse, doesse, magoasse fosse amor.
Talvez o amor “só se dá para quem se deu”
Pra quem viveu, pra quem chorou, pra quem sofreu.
Talvez se não quiséssemos suprir nossas carências,
Bajular nosso amor próprio, não se encheria de máscaras nosso coração.
Talvez se me ouvisse, me sentisse e me chorasse um pouco
Eu ouvisse, sentisse e chorasse um pouco você.
Talvez por amar: doesse, vivesse, chorasse e sofresse por nós.
Talvez se não fosse amor próprio, fosse amor?
Talvez nada disso fosse, se não fosse nós.
ass: Amor Próprio
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
O cacto
É um cacto pequeno ainda, mas que sente como gente grande. Vou aproveitar e deixar ele transpor suas intravenosas histórias aqui também no nosso "cantinho" on-line.
a primeira poesia dele, foi chamada de Sol. Ele ainda precisa amadurecer, como poeta, confesso.
Minha vida, meu astro,
Quando te sinto, me benzo todo em cruz,
Só lamento, o cair da noite,
que leva teu o calor, tua energia e tua luz.
A trágica escuridão, da tua falta,
me leva por sinuosos caminhos,
é de noite, que afloram em mim, os espinhos,
de dor e de saudade dos teus raios.
Mas apesar de tudo, de toda negra noite,
você sempre vem, de dia, clareia e dá vida,
sempre, todos os dias. Com espinhos ou não.
O cacto.
Gostaria de receber dos amigos, leitores, e pensadores deste blog,
sugestões, para dá nome ao cacto, eu pensei, em Intacto Cacto.
Das dunas fiz um porto.
Diante de ti tremo e tenho tudo e remo tanto para não falar que minha rima fraca e cansada de repouso e de descanço de um trabalhador da p...