segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Sei lá

Agradeça aqui,
assobio
Agradeço ali,
assobia
canto cada canto canta a vida
cada vida canta no assobio
passarinho
passaria
canta na janela todo dia
acalanto
acaricia
cada canto cada vida
cada encanto canta amor:
alegria.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Grita


só quem aparenta sabe a dor das aparências....


por isso  rasga o que sente como bem quiser: grita, bate, morde, chora, escreve,
conjuga todos os verbos que te serve, mas tece com cuidado as tuas ações;
a loucura das tuas mãos e a força das tuas unhas marcam todo o meu corpo.

a angustia age como o ácido,
o álcool  age sedativo
 alivia ou amplia, plácido,
 a ferida que corrói sem cansaço
o tal problema sem solução.

Como posso ser culpado por não ouvir o teu silêncio?
Só ouço ecos;
lamento.

                    Dor guardada não sabe falar.











domingo, 9 de dezembro de 2012

Domingo


E se eu imponho a condição de ficar sem ti?
Que mal tem nisso? Será bom? Será ruim? Como será?
Vai então já que quer ficar sem mim!
Fica! Mas não liga, esqueça, e se ausente de mim por completa.
Eu também estarei out. 

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O paletó.


No velho paletó preto,
No cabide mudo, da parede fria,
Desgastado feito o sujeito que às vezes o vestia,
Repousava uma carta triste, amassada pelo tempo,
De folhas tortas e cinzas.
Esquecida no bolso interno anos a fio,
Se guardando no terno, lapidando sua dor.
Perpetuando ariscos rabiscos, que a tinta da vida escreveu:
- Sou para ti, como são os teus. E amo-a tão profundamente só,
Que não raro, em toda solidão me vejo, e no teu gasto leito,
Deito-me inseguro como um menino...
E repouso forte como um Deus:
Farto de todo o amor que existe!

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Imagem

antes não havia nada
distante sempre
sempre igual a alguém
distante de si


alguém igual a nada
solvido em tudo
perto e mudo

em todo lugar

 alguém 


como as estrelas
e a imaginação
um pouco além
longe e astuto


 não igual a antes
um pouco ninguém
numa luz distante

que se aplica a tudo.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Fluxo de consciência

Ainda ontem lembrei dessa sensação de tempo vivido, do fluxo, da distância, da velocidade física:
"não há nenhuma intenção que não seja vinculada a uma "segunda intenção". São os tempos desiguais para  nós, mesmo padronizados,  só vem ao mundo para anunciar o caos.

 - O homem isolado é abstração, nem partícula nem fluído (nem matéria nem espírito), o homem é síntese das suas iterações com o mundo -

 Ainda ontem, alguns segundos antes da primeira palava, acessei o blog. Escrevo hoje tendo cuidado com os tempos verbais, mas tento quebrar o fluxo de consciência, expressão formulado por W. James. Assim faltam palavras para eu compor o quadro e desenhar em retalhos o que penso.

- As propriedades, o caráter, do homem só pode ser observadas nas relações com o outro, seja esse outro coisa viva ou não. -

Porém minha "segunda intenção" é desconhecida, mas sei que perpassa a comunicação. Eis uma dúvida complexa e múltipla sobre os meus objetivos de convivência. Quebra-se a aqui a linha, interrompo o fluxo - o primeiro pensamento eu esqueci, busco o primeiro paragrafo para lembrar.

- O que conhecemos não é a natureza do homem propriamente dita, mas o homem no mundo em seu tempo exposto aos nossos questionamentos. -

Lembro do caos que foi a manhã de ontem, quando minha rotina foi quebrada e eu não sabia para onde ir. Em volta a uma relação espaço temporal desconhecida, um sentimento de saudade e desejo tomava-me, forçava minha consciência a medida do meu corpo, eu era uma matéria integrada à distância.

- Não somos tão objetivos assim, as externalidades não compõe a realidade completamente, teríamos que estudar física quântica para sair da imagem. Ou não. -

Hoje, estou certo que o problema foi a comunicação, não quero mais saber de ontem. Questões como tempo, consciência e distância se organizam em um momento. Tenho corpo. experiência e energia para seguir minhas intenções, vou sintetizar tudo. Um ator  contemporâneo à vida.



quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Ressaca da alma.

Embriaguei-me com palavras vãs. Ele não falou nada que acalmasse o meu coração e eu não ouviria nada daquilo que não fosse exatamente o que eu desejaria ouvir, ou o que eu não ousaria ouvir. Uma verdade para ser dita e ouvida, deve vir inteira. Se vier pela metade, transforma-se em palavras ocas, bobas que não convencem nem mesmo o mais ingênuo dos ouvintes. Mentiras sinceras não me interessam. Prefiro a dor de cabeça e a ressaca cruel de uma verdade derramada à uma mentira bem contada para acalmar o coração de alguém. Na bagunça do meu coração saracoteiam as mentiras mais doces, enquanto dormem em paz as verdades mais árduas... Prefiro dormir em paz...
Estilhaça-se
como um cristal...

E espalham-se
por todo o recinto..

Fios de confiança...

Onde outrora
teci com fios de ouro
e embalei em promessas de amor eterno.

(Promessas dos homens e
promessas de Deus.)

O quão grave deve ser a queda
para estilhaçar tudo?

Resta-me algo abstrato...

Arrumar os fios e
embalar com fé.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A História toda é

Uma fraude,
por isso ao comer poesia
numa tarde de som
sem a norma nem a métrica,
sem a fala do concreto...

Os sopros de sentimentos
na tela, não mais papel,
sem ao certo o que colher,
desenham uma arte difícil e social:

A vida em silêncio redigida,
numa fraude,
formulada em tons objetivos.

A história escondendo o sentimento
da abstração do corpo,
sem o vento da  ilusão verdadeira.

O artifício do oficio de viver a história, de
ir além do que existe nas consequências,
é a forma que engana os olhos
nas letras dançantes das palavras preguiçosas.

No início, temos a poesia e falta a matéria;
no fim, a matéria sem poesia toma conta do ser.

Começamos a dar conselhos pelas experiências vividas.
Chegamos ao objetivo, uma fraude cheia de vida.

domingo, 4 de novembro de 2012

Além


não abarca minha alma
não há passos para abraça
não nego nem chega
se estou, ela vai
se seguro-a num tempo
no outro, ela se esvai
minha alma, meu amor
os meus eus que não sou
não tente jamais
só abarca o pedaço
o corpo que ficou

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Reprodução


A poesia nasce, levanta imperiosa!
Dá luz e cabo de tudo,
e todos vão seduzidos encantar-se,
e cantar-se-ão enamorados a rima tola,
a palavra fria, a corte e o gesto,
o corte e a faca.

A poesia oriunda
na roda funda,
do tempo esguio,
que é mansa e habita,
a carne divina,
e a alma profana.

A poesia é morta, entranhas expostas,
tão rude que choca o atrito dos nossos eus!

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Essa noite.


Sono, não venha!
Não chegue logo!
Não fuja de mim,
Nem me traga sonhos vis,
Tolos vãos,
que vão em vão de encontro a ti ...
et ad te current,
feito loucos,
correntes, que amarram
como num sim sagrado,
nossas mãos.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A fila


Havia algo de sonho naquela fila fatídica.
Do dia a dia, do dia qualquer do supermercado, do caixa, do banco, 
toda fila é uma espera qualquer, qualquer fila uma surpresa, demorada, efêmera de se conhecer assim,
sem mais, de supetão, sem travessão – atravesso, não travesso não,
de família, de pressa, de comunhão assim, sei lá, sem saber dizer.
Assim comum, aqui acolá, lá, talvez, trazendo uma incógnita de outrora afinal,
por que sempre pondera o incerto, o que se sabe improvável,
que de alguma forma flerta com o almejo confuso.  

Triste


Vai que chega a noite, e as estrelas já são poucas p'ra te consolar.
Mas é noite então, e se fria senão, traz a luz de irradiáveis possibilidades,
Mas cada sorriso é um vão, um mergulho profundo p’ra encontrar o teu,
E todos os olhos em vão; só busca,
dos teus, que hora nem tristes, nem alegre, vejo mais.
E sigo, sendo o que posso, o que devo talvez, e o que sou:  
parecido com alguma melancolia feliz, que busca sempre se lapidar,
condicionando sua imperfeição natural,
erguendo minha história, 
transformando-me em tempo, 
o que agora sou. 

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O mundo dos sonhos

Os coitados às pressas precisam de cuidados
Os safados depressa fraquejam culpados
Levantam as armas contra aqueles que amam
Depressivos,  arrependidos dos crimes de cama.

Dormem mais do que amam
Sonham mais do que realizam
Quase mortos na quase vida
Arquejam, fracos, em chamas.

Foi a febre que os pariu
nas entranhas de suas mentiras
nas façanhas de suas irás
nas traições de sua vida.

Aparentemente fraco
eles procuram o seu corpo
acusa-o de não ser
o que jaz nele mesmo.

Deliram e repreendem o mundo,
porque este não coube em seus sonhos
por que seu corpo não pôde vencer?

Cantam melodias da infância,
as que faziam eles crescerem
quando crer e serem era a esperança
da liberdade vencer.

O corpo era a liberdade que se modificava a cada dia:
as transformações das idades, as descobertas nas melodias.
Chegaram a pensar em modificar o mundo com a liberdade.
O mundo transformou-lhes em alguém preso aos seus ideias.

Assim:

Há o mundo
Há  quem viva
há quem sonha
Há quem morra
sem sonhar viver
Há quem morra
sem sonhar morrer
Há quem viva
sem viver seu sonho;
Há quem morra feliz nos sonhos de alguém.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A vida toda



O cara coloca
Assopra
Mas não papoca.

O cara insiste
Persiste
Porém só entorta.

O cara assusta
Empurra
No entanto só surra.
O cara cega.
Emperra
E não escorrega.
O cara fica
à toa,
querendo lá.


CHEGAR
Quando chega,
se prepara feliz,
morre realizado
o pobre infeliz.

domingo, 26 de agosto de 2012

Tenha fé


Reza.
Estamos  no tempo da angustia.
O corpo, na ansiedade, flui sem desculpas.
E continua, ao sabor das dúvidas, amando à distância a matéria que se dissipou.

Em mim,
Reza as propriedades do amor que saudade concedeu.
No espaço  entre a certeza de unir e o tempo de sentir, sei que não é só...

Reza.
O amor já está tão perto.

Mesmo assim, o futuro carrega o passado nas costas.
Cultivado pelo presente momento que se esgota.
Cultivado pelo amor pesado na saudade.

Esta,
Dói.
Mexe.
Aperta.
Arde, ao querer sair como suor.

Saudade é o presente que o amor me deu.
Portanto, reza.
Eu quero te saudar com a minha saúde.
Mesmo ao ansiar morte das lembranças.
Quero viver os dias ao  lado teu.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Sinceramente, prefiro as palavras não ditas...


Acordado, sem matar o desejo, na madrugada, eu procuro os sonhos. Existe anseio pela vida que o espaço não traz. Assim, a cada dia mais preso ao lugar de conveniência, os sonhos passam por trás de uma cortina leve. Quanto mais fixo, o mundo se distancia. Eu estou entre eles, porém, cada vez mais, estou dentro... Penso que quando faltam ações contínuas, você se volta para si. Ou se volta para o descanso de sentir a pulsação da natureza. Isso se não estivermos abatidos, pois se, nos voltamos para televisão.  Ando meio avesso às críticas e as reclamações. Vejo com clareza a mediocridade. Acho que esse é o patamar dos nossos gênios atuais. Por isso, prefiro os simples, aqueles que lutam os que não julgam os que seguem sem afirmação.  Falar anda difícil, desculpe-me, falar não é um verbo em movimento. Falar é um verbo de ligação. Ouço o silencio esperando ser salvo pelo amor. 

domingo, 5 de agosto de 2012


Cansaço de alma
transformado em poesia.

Grito da alma.

Tristeza materializada,
outrora abstrata...

Sabe
         DOR
                    ia

Sabe DOR?
                     ia...

                         
Foi!

Dorme o riso
e as lágrimas velam seu sono...

Dorme a fantasia
e a incredulidade assombra sua noite...

Dorme a menina
sem sonho, sem fé, sem fantasia...

Amanhã,
quiçá,
o riso acordará
vestido de fantasia
saracoteando
nos sonhos
da menina
de fé.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Trovador errante.


Essa alvorada serei vento,
e soprarei o chamado frio da natureza.
No inverno que corre lento,
e vem atento despertar teu leito.

Na manha seguinte, serei fogo,
queimarei tuas vilas, e cidades,
restará só cinza de teus lares,
um fio miúdo do teu grão,
 uma vaca magra a agonizar!

No fim da tarde arderá teu sangue e filhos
e na noite fria de então, serei a Morte,
e te farei a cama... e servirei teu chá.

No caminho p’ro leito eterno.
Te envolverei em lençóis bardos,
que riscaram infernos tristes,
e céus amenos e
somar-se-ão a ti, 
fantasmas e lobos famintos.
Naquela mesma madrugada
sereis livre para vagar no infinito dos teus sonhos.

sábado, 7 de julho de 2012

Sambabom




De tristeza, nessa noite nada tenho,
sinto só o vão pretérito,
como um vento,
que vem vindo lá de longe
assobiando o futuro incerto.
Sei ao menos, no entanto
que o caminho é curto,
e que o destino é lento,
e que longe são meus passos...
sem os teus pra caminhar, 
tão solitários, são só enlaço,
de um falso eu a exaltar.
Mas que só vão ao teu encalço
p’ra inflamar nossa união.

Guarda contigo uma saudade,
um abraço, uma amizade,
um barzinho, um violão...
Vem ! Vamos embora,
essa é a hora:
vai sambar meu coração...

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Teu


Sou todo teu:

A pele, o seio substância

O meu corpo, o teu

Nuca, o meio de ser

Crua, tua nua paixão

Amor carne e fé

Sou todo o teu amor

Sua distração de mel

Mete fé e não esquece mais

Sou o teu todo substância

A pele do corpo seio meu

Nua paixão tua crua fé

E carne no amor

Toda distração fiel.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Feita de neve


Quão sincero é teu olhar
quando me fita atravessado
e rancoroso, de ninar e de dar dó?
Quão robusto é teu pesar,
quando me queixas a vida
escancarada,desiludida?

Quanto tempo nos é dado juntos,
esquecido no vai-e-vem calmo
dos teus quadros e quadris,
 um a um, a se postar sobre mim?
Que distúrbios provoquei na tua sina,
a tentar desvairado e louco
sussurrar compreensivo,
canções de amor nos teus ouvidos?
Quantas coisas quis sonhar, na tua alma,
acordado em si mesmo,
no áspero dia-a-dia que passa pesado,
denso e camuflado, quando não estas. 
Dias de esperança e de razão?
Quantos “ais” quis te dizer, e não te disse?

E me calando, fui sorrateiro
compreendendo corpo e faces,
mil disfarces da tua harmonia,
entendendo a graciosa e cálida
forma do teu sorriso. 

domingo, 17 de junho de 2012

Hoje

Eu não consigo fazer o que eu devo, porque realmente não desejo, eu quero um pouco de prazer. Não no exato momento que eu espero, mas na obrigação de ser racional.  Ser bem feito exato mistério nas ilusões que vão me servir;  prazer sem coma, sem dano sincero, sem o eu gritando por mim.
Eu não posso morrer por dez segundos esperando viver um pouco mais. Só por que agora é o tal do momento ideal, eu não preciso ser capaz de matar minhas ilusões. Não sou mais o prazer que sempre quis. Eu já me conheci na minha solidão. E minha solidão espera por ti.

sábado, 2 de junho de 2012

Oração.



Cadê a poesia de todos os dias,
Onde estará? Aonde foi parar
o amor de todos nós, unido,
semi-puro, selvagem,
 natural, intrigante.
Será que passou? Que irá passar?
Quando os dias são estranhos
e os sentimentos confusos
lembrem-se das voltas
que nos trazem a tona
de novo, p’ra rota
de nós mesmos,
do nosso oriundo
profundo,
do que
somos
em essência:
herdeiros dum tempo que
nos é dado;
prisioneiros da fortuna
incerta de um dado
 girando, rodopiando, compondo-nos
meros acúmulos
de  comiserações
e que seguem a diante,
vivos,
erguendo-se firmes e bambos,
todos os dias,
findando nosso particular hedonismo
 na busca espiritual
de sermos humanos.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Um dia quase.


Não, não tente me enojar de ti,
com teu jogo quase limpo,
quase sujo,
quase torpe,
igual a tudo que um dia detestou.
Não o faça! Não queira ser o que fui,
quase fraco, quase bêbado,
quase só,
igual a tudo que um dia detestei.
Mas, contudo, se fizerdes e quiserdes,
quase não magoar,
quase não destruir
o quase pouco que temos,
que somos, e fomos
faz rápida,
por que quase me sangra
e quase não dói.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Rotineira.

Nesses dias vazios,
quietos e distantes de ti,
tudo parece silencioso,
uma hora parada no tempo,
como um encanto torpe de nada,
um passe de mágica,
e tudo pára,
e eu fico pensando em você ...

sexta-feira, 20 de abril de 2012

1ª Carta ao eu.

Sabe quando ternura é raro,
e o comum é o erro:
o desvio superior do ser,
onde a desarmonia reina impiedosa,
e o senão é o total.
É quando o copo está sempre meio vazio,
e a vida segue rumando incomodada...
Espetada em carne viva,
aguda feito linha costurando.
Tecendo coisas do dia-a-dia,
nos bares dos mestres,
nos goles da solidão,
como diria outrora o poeta esquecido,
entre tensões epistemológicas e traição social,
terrenos inexplorados de uma rotina casual,
eternamente cotidiana.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Argh!

Me sinto cheia de nada
Nadando num tudo que eu não entendo
Se corro ou fico parada
Nem de longe alcanço o que pretendo
Se brava perco a coerência
Se mansa perco minha essência
Se mordo é brutalidade
Se assopro é condescendência
No caos dessa realidade
Eu grito e calo numa só tacada
Tentando uma boa saída
Não mato meio coelho com uma cajadada
Tropeço no meio da lida
E volto pro nada... pro começo
Daí me pergunto: Será que mereço?

Sem a cadência do samba não posso ficar

Já dizia Vinícius: “Mas pra fazer um samba com beleza/ É preciso um bocado de tristeza”. Então era isso que faltava... Um bocadinho de tristeza. A gente vai seguindo assim nessa pressa de tudo e quando pára sente e sente fundo essa pontada. Você sente? Pois é, mas só se sente quando se pára, quando se freia. Aí vem tudo... tudo que falta, e tava faltando faz tempo e você nem notou porque a correria dos coletivos, a buzina dos carros, a fumaça das ruas te adormecem os sentidos, te amortecem as pancadas surdas da vida.

Mas aí basta um segundo, aquele segundo em que você percebe que o mundo ao seu redor parou e você sente que tem alguma coisa que não está no lugar que deveria, você sente o seu próprio deslocamento e vê que mesmo você não está onde deveria. E fica tão pior quando seu porto também foi deslocado, quando o peito onde você encosta a cabeça pra fugir dessa sujeira do mundo não está ali.

Porque é preciso um porto, um peito, um descanso, um pouquinho de saúde. Mas como ter isso se só você percebe, se você sente? Se é só pra você que faz falta. Aí fica ainda maior o vazio, fica oco, fica o vácuo. E você lá parado enquanto ninguém parou, ninguém sentiu, ninguém notou.

E o que você faz? Fala? Não, melhor não vai, deixa isso quieto, a gente não vai brigar por besteira. Você chora? Ah não né?! Não faz drama, você deve estar louco, que bobagem, engole esse choro. E aí? Faz o quê com isso? Isso o quê? Mas do que você tá falando? Não tem nada! É tem razão, deve ser coisa da minha cabeça...

Eu digo o que você faz: é melhor tapar o buraco com outra coisa porque não vai adiantar, eles não vão perceber, não vão entender. Já te disse. É só você que sente, a falta é toda sua. O buraco é seu, cava mais fundo ou tapa... Tapa ou pelo menos tenta... Com o tempo passa, você acaba esquecendo que ele existe, a vida te entorpece de novo, a maldita rotina.

E haja samba pra tapar, são pás e mais pás de Vinícius, Tom, Chico, Toquinho, João, Noel... Porque o bom samba é uma forma de oração...

“Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não”

sábado, 31 de março de 2012

Pé dante não ser

Se acha e me acha,
me acho se achas
que sou todo certo de mim.

Não acho que sou,
 porém já não procuro ninguém pra ser
.
Deixa livre a imaginação, esqueçamos os ídolos.
O legal é não ser nada daquilo que o outro inventou;
ou ser,
se é mesmo definido por outro o seu suporte de vida

Ninguém não o é sem o pão, como não o é sem a vida
.
Legal é ser o que ainda está por vir.
Mas
porém
entretanto
todavia,
ou
quiçá,
talvez,
sem pão
toda metafísica se tornaria mentira
e a matéria gritaria pedindo atenção
ao seu suporte de vida.
Eu não me acharia todo crítico,
se se achar se resumisse a sobreviver

 colocar medo em quem só se acha com ídolos.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Para...

...Ser feliz para mim,

tem que ser aos pouquinhos,

assim devagarzinho,

para não gastar rápido a raridade que é,

que escorre todos os dias de nós

nos caminhos incorretos dos nós,

ou ainda nos retos que seguimos cientes,

onde ela não há, só sua busca de estar....

Onde o ar, respira a alegria de ter esperança.

E não vemos tristeza,

nem lágrima, nem dor,

porque dela,

é a beleza de ser inquieta,

viva, vida.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Padre Antônio Tomás

Desenganos


Muitas vezes sonhei nos tempos idos
Acalentando sonhos de ventura,
Então a voz da lira suave e pura
Era-me um gozo d'alma e dos sentidos.

Hoje, vejo meus sonhos convertidos
Num acervo de dores e de amargura
E percorro da vida a estrada escura
Recalcando no peito os meus gemidos

E se tento cantar como remédio
Minhas mágoas ao sombrio tédio
Que lentamente as forças me quebranta

Os sons que ira que arranco agora
Mais parecem soluços de quem chora
Do que a doce toada de quem canta.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Cronologia

Hoje Chico, amanha Francisco e nenhum francês

Aqui Paulo, ali João, um pequeno em desunião

Onde Pedro é Damião, que acalma a grande rocha

e José não.

Um bom homem não o é.

Daniel o julgará?

Em ti, a gosto são dádivas.

Como de André, o viril.

Simão, Tadeu, Matias.

Filipe Tomé e Mateus,

Todos filhos de um vão

o vazio de tudo,

onde tudo há

como um inexistir eterno.

quarta-feira, 14 de março de 2012

De tudo, fragmentos

Eu necessito ser incompreendido. Eu te deixo uma dúvida entre a dúvida e a certeza. Eu te deixo só, perdida na linha do raciocínio e acabo sendo tão claro como a luminosidade que te cega. E tudo isso é tão banal quanto a mania de explicar o querer e o sentir, os desejos inúteis causados pela ânsia do não ter, o imaginário e os romances astrais. Ficamos assim nesse papo cabeça afunilando o que nos diverge e deixando o tempo correr – se é que ele corre para algum lugar.


Eu fico olhando o teu corpo, tuas curvas e seios. Imagino que tudo reside aí no corpo que se transforma. Além do corpo, derreto-me em teus pensamentos e viajo em teus sonhos que se confundem com os meus. O teu corpo é tua casa – uma bela casa. Tu és o sonho e os pensamentos bons, substancia e a matéria de tudo que é amor.


Eu não tento compreender nada, vivo nosso futuro e passado. Pela janela, o coqueiro dança embalado pelo vento que assobia canções inéditas para casais apaixonados. Percebo que não somos os únicos a amar. Todos os verbos conjugam-se no plural quando falamos de humanidade. Eu me sinto humano demasiadamente humano. Eu me sinto carne, sinergicamente feliz.


Eu te li em trechos de livros, eu te leio agora e te sinto. As páginas são bem mais saborosas. Eu sou todo sorriso que dizes não entender.



quarta-feira, 7 de março de 2012


A “gente” é grande e
o tempo é curto.

Falta é tempo
pra “gente grande”
ser tão grande.

No tempo do meu tempo,
sobravam horas,
pra “gente de pouca idade” correr na rua
e brincar “do que vai ser quando crescer”.

“Quando crescer eu quero ser...”

“Quando crescer eu penso nisso!”

Cresceu a menina, cresceu o menino,
o tempo transcorreu, correu...

Alguém corre e alcança o danado do tempo....

Outrora era correr na rua,
agora é correr contra o tempo!

sexta-feira, 2 de março de 2012

Calma


Paciência pá
Suicida
Parida para
engolida
no  lar.
A ciência tá
precavida
contada para
paciência  para 
pestanejar.

Paciente tá
nessa vida
na ida para
participa
 nu  lá.
 O ciente tá
na ciência
para paciência
para trafegar.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Saudadinha

Um dia rabisquei de ti pequenos versos
e de improviso te fiz letra e canção,
um samba rouco talvez,
por hora triste,
em noite de lua
em roda de bar
pandeiro e violão.

Canto hoje ele turvo,
esquecido das horas,
deixando a saudade
senhora de mim.
Amanha porém,
há de ser alegria,
riso frouxo,
gargalhada
brincadeira,
como de criança.

Ninguém chora no ombro do carrasco.

Eu não vou deixar, nem contrariado, as mágoas presas em mim. Irei vomitar todo o ciúme que sinto. Vou sujar os teus pés. Eu terei a alma limpa quando me recuperar da ressaca. Vou olhar tua cara tremer, e dar-te-ei um banho de sinceridade. Coisas que só se dizem no fim, sem medo de perder... Mas, por enquanto, sai... deixe-me em paz com todo os ais duma decepção. 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Ditadores fora do poder, greves, manifestações, revoltas, polêmicas... Alguma coisa a "população menos influente" tinha que lucrar com a globalização, além da cultura e do "fast food": Internet, o poder abstrato. Em fração de segundos o mundo todo interage. Globalização e internet. Aliados distintos e fiéis. De mãos dadas, fazem a própria revolução. Quando a "população menos influente da história" começou a ganhar força e a aprender/aperfeiçoar a usar a tal arma imaginária, a "população mais influente da história"- hipócritas que lucram com a globalização e a internet-, resolvem frear o que já não é mais tão interessante à finança dos mesmos. A terceira guerra mundial será virtual. As armas são invisíveis, mas têm poder. A comunicação sempre proporcionou mudanças. E a nível mundial? São megamudanças. Comportamento, pensamento, cultura, política, direitos humanos... Municipais, estatais, globais...que venham as leis. Todas. Lei? Na democracia, o poder emana do povo. "Escolhemos" pessoas para legislar por um bem geral e porque os nossos (população menos influente da história) interesses não são levados a sério? Como diria um grande chefe de Estado: As leis são feitas para serem violadas...

domingo, 22 de janeiro de 2012

O face é nosso!

Marcado em minhas digitais, tenho agora, quase involuntariamente, todo o mundo em meus dedos. Eu faço parte do ato, criticando o tato, faço parte do circo, criticando o risco. Possuo o silêncio em minhas mãos digitando assim, sem incluir o que dizer. E mesmo pensando ter, sinto a necessidade de nada dizer, só por querer, talvez, aparecer um pouco nessa era de redes sociais. Assim expresso, disperso, a liberdade de pensamento, sem nada mais a acrescentar, além do mesmo eu sobre o que é o mesmo lugar: na mesma praça, em vários bancos, mas no mesmo jardim da ignorância além mar.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Repouso

De um breve sopro
que vem e vai,
como onda arrebentando
tardiamente nas pedras da praia,
somos vida, a toda prosa,
descalços numa busca eterna de sê feliz.

Noutrora porém somos brisa,
vento que passa fora,
e que corre amiúde,
carregando tempo e memória,
do instante imediato
que somos morte,
e de forte, unicamente iguais.

E agora, na dor dessa hora,
é que a cura se esvai,
nessa turva batalha de existir.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Poesia muda.

Esvai-se entre
críticas e cotidiano...

Encontro-a...

Inerte...

Intrínseca amiga de outrora,
de saudade que transborda,
de amor e desamor,
de pele e de alma...

Somos uma.

Assim como o corpo
coexiste com a alma,
para mim não há vida
sem a poesia.


Das dunas fiz um porto.

Diante de ti tremo e tenho tudo e remo tanto  para não falar que minha rima fraca e cansada de repouso e  de descanço de um trabalhador da p...