Estou de volta ao meu recanto. Meus olhos levam um certo tempo para reconhecer o ambiente, antes tão familiar. Está tudo em seu respectivo lugar, numa perfeita desordem que figura um caos organizado. Penso em desfazer as malas mas minha mente recusa-se a dissipar as lembranças da viagem, e por segundos penso como seria bom não ter voltado. Um desejo ébrio de tornar indestrutíveis os momentos vividos estanca minhas reações perante o retorno a uma vida insossa. Mas, sabendo que por bem ou por mal algumas coisas desvanecem, ainda tenho o consolo das conquistas que não podem ser invalidadas, os lugares que agora também estão em mim, os novos velhos amigos, que tanto me surpreenderam, que astutos ladrões invadiram minha vida, sem nenhuma sutileza, sem qualquer aviso, entraram e já fizeram morada, rendendo-me e obrigando meu coração a desejar que jamais partam, que nunca, em hipótese alguma, se arribem para longe de mim.
Meu corpo está de volta mas , inegavelmente, minha alma lá ficou, estimando as eternas madrugadas entre batuques e palpites, e para alguns, entre o Papa e Cuba, ou melhor, entre o Ceará e a Bahia no meio da Paraíba, entre canções e gargalhadas. E hoje, entre o real e a utopia. Momentos que jamais poderão desaparecer de nossas vidas, e digo “nossas” porque agora sinto como se não fosse um só, sinto-me parte de algo, de alguns, como numa simbiose, e fico feito criança que tem medo do fim do mundo, suplicando chorosa a piedade de Deus, num medo terrível da dissolução do meu mais novo e extraordinário tesouro.
A vontade que fica é de guardar tudo numa caixinha de camafeu para que nada se perca no tempo, mas as coisas herméticas dificilmente perduram, morrem lentamente, murcham e perdem a maior magia permitida ao ser humano: A Liberdade. Liberdade de ser, de fazer, de falar, de pensar, de amar. E quem irá julgar nossa libertinagem, nossa voracidade de viver, nossa total entrega ao fascínio que a vida exerce? Quem irá censurar nossa capacidade de pensar sem escravizar, de falar sem precisar que haja nexo? Somente quem não viveu, quem não amou, quem a alma já morreu...
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Das dunas fiz um porto.
Diante de ti tremo e tenho tudo e remo tanto para não falar que minha rima fraca e cansada de repouso e de descanço de um trabalhador da p...
Um comentário:
Salve Salve EREH!
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