O Produto.

“Vou me desprender de mim. Um exercício um pouco inseguro, pois eu posso gostar. Vejamos... Concentração... Um passo de cada vez, leve alma a flutuar.”
- kkkkkkkk... Você não está brincando de roleta russa? Ou estar?
- Não, na verdade eu não costumo brincar. Sabe, na minha idade, as coisas são tão sérias que a própria imaginação pode causar algum prejuízo. Por isso, eu tenho que sair de mim um pouco. E como outro poder viver novas experiências que já não sou capaz.
- Conversa. – Com um tom sarcástico perfilando a boca.
- Sim. Eu perdi uma certa inocência, uma certa brandura. Tudo é um teatro ou circo e a realidade é o que a maioria passa a acreditar. – Um ar de desilusão preenchia aquelas palavras.
- Coisa mais batida! Não vamos entrar aqui nesse papo de ilusão. Eu quero o produto. Chegou o momento. Podemos mudar agora o que era destruição.
- Meu amigo, eu só posso lhe entregar em pequenas gotas. Temo que, tomando todo, seu corpo não venha a suportar. Nada de súbito é verdadeiro ou perdura, não seriam lentas as transformações?
- Você é um covarde! Nunca irá vencer. Quero agora. Agora é o momento.
- Teu corpo quebradiço não suportaria tão grande afeto. Dou-lhe em gotas, um pouco a cada dia. Assim, lhe darei minha vida.
“Ao retornar, sinto que fui consumido. Que ao sair, tiraram um pouco da minha seiva bruta, mas não conseguiram tirar o que paira em torno de mim.”

Comentários

Patrícia disse…
"Eu perdi uma certa inocência, uma certa brandura"

Era tudo que eu queria ler hj... obrigada!
REAVF disse…
As coisas se encaixam de uma certa maneira. (textos e contextos)
Nininha disse…
Quando se perde as duas já não existe mais o sonhador, retomar isso é importante, mas é difícil...

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