Perfume

Entrei no ônibus e me derramei despreocupada em um dos bancos traseiros. Segui o ritual de sempre, fones de ouvido e livro em punho. Desta vez divertia-me com o humor suave de Fernando Sabino, tão sutil e espontâneo que deixei escapar uma risada sonora dentro do coletivo. Um outro passageiro sentou-se ao meu lado, um estudante talvez, e o perfume que usava perturbou minha concentração.

Era uma fragrância que me lembrava alguém, algum lugar, alguma época esquecida de minha vida. Fiquei durante todo o trajeto tentando lembrar em que lugar da minha memória aquele cheiro havia sido armazenado. Era um aroma forte, amadeirado, daqueles que dificilmente a gente esquece.

Talvez me lembrasse um antigo amor que, por algum motivo, eu gostaria de esquecer. Talvez fosse um grande amigo que eu não via há muito, aquele cheiro poderia perfeitamente lembrar um forte abraço, aquele abraço que somente os amigos sabem dar. Podia ser o perfume que alguém usou numa das festas de um dos congressos de estudantes, afinal esses congressos são sempre inesquecíveis, sempre deixam na gente uma nova história e sempre nos levam um pedaço.

Tentei sem sucesso entender porque aquele perfume perturbou tanto meus pensamentos, juro que tentei. Quem sabe ele não lembrava o cheiro de alguém que dormiu ao meu lado há um tempo, esses são os perfumes que mais permanecem na gente, o cheiro do corpo de quem amamos. Mas não é esse perfume, esse aroma eu lembro bem, ainda está em meu corpo. esvai-se aos poucos querendo sair... mas ainda consigo sentir.

Quem sabe esse cheiro tão instigante não é de alguém, algum lugar, algum tempo que ainda virá? E se assim for, a perturbação então dará lugar a uma doce saudade, algum dia...

Comentários

Pétrig disse…
O primeiro cheiro a gente nunca esquece...
REAVF disse…
Qum sabe poderíamos sentir só o aroma do que virá?

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