sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

ai um cais!

Não me espantei,
era só mais uma lágrima.
que tirava de letra
da dor esguia
que dizia não sentir.
ela latente...
era um perdão.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Dois Animais

Agora vias com calma a velocidade do ímpeto:
De um “logo querer” ele se alimentava...
Não esperava nada pois além disso,
Apenas ia faminto farta-se dela,
Alimentar-se do que podia,
Comendo cada migalha da sua atenção
Como se fosse um pão derradeiro,
Mas não era.
Certo:  ele ia rápido com quem fugia
Mas não porque tinha pressa,
Ou ainda porque queria, ou não queria
Ele só ia, rápido, somente ia...
E nesse passo apressado talvez perdia
O encanto das ausências,
As belezas da distância,
A virtude das demoras...
Era teimoso, tomava suas chances,
Acostumou--se correr os riscos do exagero, tolo.
Ah mas se ela soubesse pasmada,
Das montanhas de ausências que sentira,
Das demoras infindas por que passara,
As noites, cem noites que ermou,
Talvez ela visse em sentido contrário,
Toda essa pressa de viver,
E quem sabe até achasse lento seu passo,  
Que ele seguia demasiado arrastado,
- Quase pausado: reiterou!
Já que ela também sabia
Quão são longínquas,
As estradas do encontro,
As curvas de encantamento que permitimos ou não transpassar ...
Para saber o que tem lá do outro lado.

domingo, 20 de novembro de 2016

Enfim

Enfim uma palavra que não está sendo escrita fincada na tristeza, embora ainda passeie pela ausência e caminhe pela saudade.
Enfim um rabisco desenhado no novo, no que pode há de vir, mas mesmo que talvez não venha, ensaia e anseia passos e caminhos diferentes.
Enfim uma lágrima que não é só de dor, que é também sonho e superação, ação separada, esguios encontros, luz acesa, prantos salgados.
Enfim a poesia que não rima direito, que não muda o tom, e que muda, emula um som, ficando a letra nua, descortinada, aberta, quase ensaiada.
Enfim encontramos ao fim da história, o instante mesmo em que cessam as lacunas, aquele aceno derradeiro que não veio, o adeus que não foi dito.
Enfim chegamos ao início da história, o instante se fazendo, aquele beijo prático, descobridor, aquele não saber do outro, aquele recuo, a rapidez.
Enfim cobrimos mundos inteiros, com passos lentos, quase bêbados, cheirados, ritmos de baile, andando a pé por nossos caminhos secretos.
Enfim achamos angústias sendo esquecidas, e problemas no horizonte, no agitado mar dos encontros, encantos de afogar-se.
Enfim vivemos um sonho, tão indizível e indolor, que na falta de qualquer lamento, o acaso aparece emprestando-se do tempo do improvável.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

18

Dia 18 de um mês qualquer de um tempo futuro, acordo mais uma vez com a obrigação de ir trabalhar. 18 minutos para 6h00 o alarme do celular toca, minha cabeça dói, pesa, e meus olhos não abrem.

São 18 minutos de trânsito para 3 quilómetros percorridos. São 18 minutos de notícias falsas que ouço pelo rádio enquanto dirijo. Eu chego, quase sempre, 18 minutos, atrasado.

Na sala em que trabalho, convivo forçadamente com 10 pessoas, são 8 horas por dia escutando o que não me diz respeito, o que não me interessa, o que eu não quero saber.

Escutar é algo valioso, bons ouvintes são promovidos, principalmente os que demonstram interesse pelo assunto exposto. Isso por que ninguém mais quer ouvir as paranoias do outro. São 18 reis por minuto. É o preço da atenção. 

Ninguém sabe exatamente quando as pessoas ficaram tão repetitivas, como se houvesse uma consciência coletiva, com as mesma informações. Falam sempre as mesmas coisas: a perda do eu, o clima, o fim das quatro estações. 

Na verdade, todos temos as mesmas fontes, o mesmo padrão... Faz 18 dias que estou neste emprego, tempo demais,  tenho que pedir demissão.

18 pessoas acabaram de escrever o mesmo que eu. 18 pessoas gostaram, 18 não gostaram, e todo o resto eu não sei. Infelizmente, tudo que escrevo em minha consciência é compartilhado. Peço perdão. 

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Caminhar?

Vida de poeta: boemia e solidão...
Sem versos te dou, cem rimas te faço.
Nó seco na garganta, choro engolido.
Métrica fraca e passos incertos...
O caminho é diferente toda vez eu passo
e o erro, mais cômodo que o acerto,
parece ser sempre aonde piso.
Se já não sou prioridade, 
porque não continuar estrada a fio,

e deixar a vida, teimosa, seguir adiante?

sábado, 24 de setembro de 2016

ahh, o amor?



Se nada há, ora, substantivo,
um signo, um verbo de ação.

Se te sigo e não te alcanço
ora, me canso, e o amor é desilusão.

Se tu vens e não espero,
oras, de certo, é decepção.

Se só há distância, ora, no ponto,
o amor é imaginação.

Se há encontro, ora, de pronto,
o amor é satisfação.

Se já não há, que horas?
Que história de paixão?

domingo, 28 de agosto de 2016

Lua



Vida de poeta: boemia e solidão...
Sem versos vou, cem rimas faço,
Nó seco na garganta, choro engolido.
Métrica fraca e passos incertos...
O caminho é diferente toda vez que eu passo
E o erro parece sempre mais cômodo que acertar.
Mas restam ainda duas horas de escuridão.
Dá menos trabalho errar. Falta luz e sobra vela,
A esperança é uma reza, a oração das expectativas...
O bicho homem foi feito para tudo,
Menos para a poética solidão em que se coloca.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Os sentimentos antigos...

O sentimento antigo
é a mais nova
invenção
antes do sonho.

As memórias afetivas,
 um retorno quase possível
 surge um pouco antes de dormir.

Penso: sou eu realmente antes do sono,
a essência aflora antes de adormecer.
Sou diante do eterno retorno possível.

Encaro-me sem peso ou culpa.
Vivo o mal feito direito feito,
não cabem pedidos de perdão.

Em um labirinto, mal visto, surge o sonho.
Vem com força o meu desejo daquilo que não foi,
meu desejo por aquilo que ainda é possível.

Por que eu volto?
Eu queria ser o que sou hoje quando vivi.
Entretanto, desconheço o sonho, impossível,
eu me esqueço ainda que haja desejo.

Apesar de existir amor,
aquele que fui, não o conheço.
Só conheço quem eu sou.

Eu sou o sonho antes do sono...
ignorante e fascinado
com o que
é
foi, e
está
por vir.











domingo, 12 de junho de 2016

A poesia que não devia ser.



Angústia, anseio e dor... a poesia não devia ser sobre isso, mas hoje é.
Tornou-se fria, forjada na separação, um para lá outro para cá.
As dores do mundo, o choro engasgado...  Ah, que parto sofrido é o de morrer de amor!
Fincando rimas ruins de uma mão vazia, no caminhar solitário de um só pé.
A poesia nunca devia ser sobre isso, mas ontem foi.
Vãos agouros impuros, desleais tormentos mil, agonia e aflição
Arrancam qualquer paz do sujeito, num voo raso de um pássaro leve.
De apaixonada à inconclusa, escreveu-se a poesia que nunca bastou.
Escreveu-se fria na pedra, cunhada muda para a eternidade.
Aquela poesia nunca deveria ser só sobre isso, talvez amanhã ela não será.

sábado, 21 de maio de 2016

...e no teatro da minha vida,
a maior peça de todas
teve o seu enredo tecido
em meio ao caos...

...e no palco escuro,
quando as cortinas se fecham
e as luzes se apagam,
é chegada a hora
de caminhar na linha tênue
entre as virtudes e os pecados...

...e enquanto sou julgada,
aplausos calorosos
transbordam e anunciam
o drama da minha alma.

Suzan Keila

domingo, 3 de abril de 2016

Se reta fosse...

Existem críticas perfeitas aos poderes sem sentidos
Um grande desequilíbrio em alianças sombrias
Existem recortes mal feitos desses retratos distorcidos
Uma parte de toda, pequenas partes das fotografias.

O que era esperança centralizou com velhos inimigos
Coalizão perigosa, trocas escusas, sem base ideal.
Nas manobras, bandidos assaltam o planalto central?

Para continuar como antes um pouco de transformação
Patina o patinho pobre proletário pago pelo patrão
Flexibilizam, negociatas cunham  e temem um novo padrão.

Assim, quem dorme com o inimigo corre o risco de ser traído.
E o que nos resta, além do divórcio dentro do devido processo legal:
Um voto? Uma democracia frágil, uma direita fortalecida num golpe,
Uma esquerda se agarrando a uma esperança antiga ou
Chamando à briga o governo central e a direita enraivecida.


“Não há contradição em defender a democracia contra as ofensivas reacionárias, fundamentalmente antidemocráticas, e combater as políticas neoliberais do governo.” Michael Löwy.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Caro poeta,

Não há tristeza no tempo, são teias do momento.
Vão tecendo espaço e tempo, tristeza gravidade adentro.

São faltas de conceitos e empatia no coração.
Não há poeta tristeza que prega mais amor
Crer-se agora, sacia a sede, a paixão.

Por alento se faz ser ou não sabor.

Não há tempo na tristeza, poeta no papel.
Não há papel neste tempo no momento que é amor.
Uma sélfie  talvez que não sinta um registro da solidão.
Há tempos o poeta vivendo na contramão,

Há felicidade quando se encontra tempo.
Quando não esconde, por dentro, do mundo.
Um mundo sem papel.

domingo, 13 de março de 2016

Soneto da Ausência.




Se não fossem esses tempos tristes, todos os dias, essa gente toda faria diferença
Mas são, e não fazem. Talvez aqui, na poesia muda eu encontre calado o alivio
que não pousa na rotina, o descanso que tesa sobre ombros e não pesa sobre os olhos,
que não finda ao dormir e nem esmorece ao levantar...

Se não fossem esses tristes dias, esse tempo todo, talvez a gente, faria a diferença,
Mas são, e não fazemos mais. Quem sabe aqui, no papel silencioso eu cure a ferida
que não cessa na tarde hora, a chaga que lateja exposta sem parecer escondida,
que não deita ao anoitecer, e nem vai embora de manhã.

Ah, que soneto lindo eu faria, todo errado na métrica, todo errado na rima,
se não fossem esses, tristes tempos, de driblar o coração,
e permanecer constante na saudade.

Ah, que soneto lindo seria, todo certa na prosa, todo certo na lira
se não fossem esses, dias tristes, de partir o coração,
de manter-se inconstantemente solitário. 

Das dunas fiz um porto.

Diante de ti tremo e tenho tudo e remo tanto  para não falar que minha rima fraca e cansada de repouso e  de descanço de um trabalhador da p...