Soneto da Ausência.
Se não fossem esses tempos tristes, todos os dias, essa
gente toda faria diferença
Mas são, e não fazem. Talvez aqui, na poesia muda eu
encontre calado o alivio
que não pousa na rotina, o descanso que tesa sobre ombros e
não pesa sobre os olhos,
que não finda ao dormir e nem esmorece ao levantar...
Se não fossem esses tristes dias, esse tempo todo, talvez a
gente, faria a diferença,
Mas são, e não fazemos mais. Quem sabe aqui, no papel
silencioso eu cure a ferida
que não cessa na tarde hora, a chaga que lateja exposta sem
parecer escondida,
que não deita ao anoitecer, e nem vai embora de manhã.
Ah, que soneto lindo eu faria, todo errado na métrica, todo
errado na rima,
se não fossem esses, tristes tempos, de driblar o coração,
e permanecer constante na saudade.
Ah, que soneto lindo seria, todo certa na prosa, todo certo
na lira
se não fossem esses, dias tristes, de partir o coração,
de manter-se inconstantemente solitário.
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