Ora essa, eu não sei rir a toa.
Tem dias, longos dias, que guardo pra mim. Não os empacoto, não há fitas vermelhas que o abraçam, nem lindos cartões com frases pré-escritas mostrando como bons e claros são estes dias. Eu os guardo simplesmente por que me foi uma tarefa dada. Quase uma voz celestial que disse ‘Faz destes teus dias... Pois não há nada neles que vai interessar qualquer outro alguém’. Sim, são somente meus não por que os quero, por que os fiz assim, mas por que são tão vazios e inúteis que se eu não os guardo, e os cuido, neles mesmo me acabo. Se não os cuido, eu mesma me vou. Vazia, como eles.
São longos, longos dias de cinco sentidos quase mortos, quase seis – sentido nenhum, o ultimo deles.
Às vezes esses dias duram séculos de uma semana, ou de duas ou de mês. Não importa. Os levo, os guardo, os deixo passar como querem. Não os interrompo. Tenho medo do estrago de uma pausa concreta. Freios também causam acidentes...
O que importa é que, em forma de gratidão ou apenas compaixão, a mesma voz que me leva a segurar estes dias com as mãos, os juntando pelos dedos, também me anuncia seu fim.
Quando eu acordo e sei que sonhei com um encontro ao acaso. Acasos sempre me animaram. Um encontro ao acaso, um olhar descuidado, um sorriso compassado, um cigarro apressado... Sim, os dias de agouro se vão ao simples anunciar de uma possibilidade nunca antes pensada, e agora quase nunca esquecida.
Te seguro, dia estúpido. Amanhã te jogo no ralo, e vou à praça esperar meu amor para que nele possa esbarrar, chamar para um café, e rirmos dos dias estúpidos que ele também deve ter ao me esperar no esbarro.
Um dia, um dos meus acasos planejados há de dar certo. Com o amor do esbarro na praça, ou com a mão sem querer no mesmo livro da livraria, ou com o cara que pediu os últimos pães da padaria e insiste em dividir comigo...
Nesse dia, então, rio a toa.
Comentários
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muito boa