Eu sou você amanhã: Sobre paredes e cercas.
As pessoas tem uma mania vital de evitar, em certo grau, as outras.
Ninguém consegue se dar e receber outra pessoa totalmente.
Temos o instinto de construir paredes ao nosso redor como modo de proteção dessa selvajaria que é o Outro.
A altura do muro depende, logicamente, de cada um.
Alguns constroem muros baixos, onde de um só pulo se chega no seu interior; esses são aqueles que mais se machucam: constroem muros baixos pelo seu imenso amor à todos e não percebe a brutalidade animalesca que um pulo alheio no seu próprio interior pode causar.
A grande maioria constroem muros regulares, onde não se dá pra ver do lado de fora como é dentro, e isso obriga os visitantes a baterem em uma porta pré-estabelecida, como um contrato, uma cláusula que deve ser aceita para o conhecimento posterior. Assim, tenta-se controlar mais o fluxo, e dá uma (falsa) impressão de segurança. Não adianta de nada ter um olho mágico: a qualquer momento vem alguém e assalta o seu forte.
Alguns outros levantam muros enormes, e nem sequer constroem portas, ou janelas ou clarabóias pra luz entrar... Assim se sentem totalmente seguros.
Pobres! Pobres destes!
Ninguém vê o que acontece lá dentro, mas ele também perde toda a dinâmica de fora.
Fica murcho, fraco, frágil. Se tentarem demolir suas quatro paredes, em segundos desmoronam todo o seu ser.
Por ser tão incomodada com quatro paredes, levantei grades.
Criei cercas ao meu redor. Cercas altíssimas.
Ninguém pula, não há mágica no olhar pra fora nem risco de assalto pela porta; não me escondo de ninguém, nem perco a festa dos outros de vista.
Vivo em plena luz.
Observo-os de longe e mantenho-os assim.
Essa é a (falsa) segurança que criei pra mim.
A cerca que sempre me rodeou me fez paradoxal: estive sempre à mostra, mas nunca estive realmente livre.
Memórias de Sabina.
Comentários
será?
Seria uma boa leitura..