Bons encontros, um bom amor.


Se não me engano, era a terceira noite do ano. Ou o quarto dia. O que importa é que estávamos todos à beira da piscina, recém conhecidos, conhecidos e curiosos querendo saber o quê estaria por vir. Ou mesmo, não nos encontrávamos mais em um meio físico, pairávamos interligados e estávamos lá por puro prazer, por sentir algo bom. Éramos tecidos de sensibilidades. Nossos olhos se encontravam à procura de uma reciprocidade curiosa, um aconchego fraternal. Na verdade, chegávamos a um ponto extasiante no qual a figura do outro se tornava um elo de uma rede de nós mesmos. Todas aquelas palavras, olhares, gestos jogados saiam do patamar do desconforto para o da sublimação. Estávamos interligados. O eu e o outro se fundiam no social. Naquele momento, éramos de uma mesma essência múltipla dissonante daqueles que não se encontravam ali: à beira da piscina, banhados pelo sol. Agora, imagino como tudo se tornou bom, um bom encontro.

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A questão é que toda uma discussão, uma análise, um diálogo perpassava a figura do desejo. Vimos a noite cair, dançar inebriada pelos corpos. Corpos cansados, vibrantes, jogados ao chão. “Vocês são dadinhos.”. Falava a Bailarina sem sal. A questão é que todos que resistiram até aquela manhã jogaram. E do jogo à teia das relações, firmava-se algo transcendente. Maravilhoso. Por instantes estávamos viciados em nós mesmos. Uns, talvez, se perguntavam como chegaram a tal ponto. Como sair então? A noite foi agradável, e se prolongava além do dia, das horas.

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Você chegou, no momento em que coloquei meus pés no chão. Estávamos lá com a noite incompleta. Sentíamos o que não se conseguia dizer, o que não se podia, as teias que não ligavam. Eu podia sentir um pouco a angústia por outros momentos, que nascia aos poucos em cada abstração. Deixávamos algo inaudito, embora perceptível. O sol coroava aquela noite com sua luz e com o dia. A noite resistia em não terminar. Você estava ali em meio a tudo, até sair todos. Era como se você ajudasse o dia a transformar, a estender aquela rede de relações. Restaríamos então só nós dois. Pairávamos, procurando um ao outro, despertando, ambos, para outro dia. Eu vinha do jogo, você retornava do sono. Ainda à procura; estávamos próximos. “Não desista meu bem, alcance as pontas de meus dedos.”. Dançávamos dentro dessa nova configuração: enquanto nós procurarmos, vamos nos amar.
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Eu gosto de senti-la perto de mim. Você era o elo mais forte da rede, mesmo quando não estava presente. Ainda é meu conforto e prazer. Foi então que percebi que aquela noite, aquele dia e o ano que passou foi presente seu. Naqueles dias, você era meu ponto de partida e minha chegada. E todas as teias que traçasse me levariam a você. Eu me distraia com os bons encontros, evitava os maus. Eu lhe desejava em todos os percursos. Em todos os desenhos, em todos os quadros, em todas as vidas. Eu a encontrava. Isso acontecia porque nos procurávamos. Qual era o meu desejo senão você. Uma boa vida, um bom encontro. Um bom amor.

Comentários

Unknown disse…
uma boa vida, um bom encontro. um grande amor!

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