Na estrada...

Viagens são todas iguais em alguns aspectos. Os sentimentos que elas despertam, são um exemplo disso. A ansiedade dos preparativos, a euforia da partida, a curiosidade que atiça os olhos para cada detalhe, o desejo por novos horizontes. É sempre assim. Viagens são especialistas em alterar a temporalidade real. Um tempo diferente passa a reger nossos dias, um tempo mais doce, cadenciado e algumas vezes onírico.
Como é gostoso viajar com amigos, seja qual for o motivo da viagem. A bagunça deliciosa ameniza o desconforto de passar dois dias dentro de um ônibus. Pela janela observo a diversidade da paisagem. Acompanho encantada e, ao mesmo tempo, nostálgica a lenta substituição da vegetação seca pelo verde altivo e vibrante das lindas árvores que emolduram a estrada. As serras crestadas dão lugar a rochedos aveludados cor de esmeraldas. O céu azul com seu teto de capuchinhos de algodão prende meus olhos castanhos em sua vastidão.
Enquanto saboreio a viagem pela janela uma música sibilante toma conta do ambiente, as pessoas se divertem, cantam, brincam, bebem. Eu permaneço calada, como se minha mente quisesse guardar cada momento, deixar registrado no álbum de minha memória cada riso, cada rosto, cada voz. Mais tarde, quando toda essa juventude se dissipar, eu vou querer lembrar com riqueza de detalhes a algazarra que fazíamos.
O cansaço e a falta de comodidade deixam todos extremamente desejosos pela chegada ao destino planejado. Principalmente no meu caso, insone inveterada, mal consigo cochilar na poltrona levemente reclinada. O interessante das viagens é que todos os nossos problemas são deixados para trás, as brigas com a família, a prestação da moto que ficou em débito, as provas e projetos profissionais, nada disso coube na mala. O que permanece, nos que já possuem, ou nasce, nos desprovidos, é um intenso espírito aventureiro, em terra de outro Santo somos forasteiros, desbravadores das Minas Del Rei.
O primeiro impacto é o clima gélido, suplantado pelo encantamento, pela novidade. Depois a confusão de escadas, malas e salas. Mais confusão, mais uma pitada generosa de bagunça e em humildes acomodações montamos nosso lar temporário. A partir daí é só festa, conhecer, explorar e deslumbrar-se com a cidade, com a imensa massa de estudantes de diversas partes do país.
Deslumbramento! Acho que essa é a palavra adequada para definir o brilho de nossos olhares. E como não cair de amores pelo barroco destes castelos sacros? Respira-se arte e história por entre ladeiras e esquinas. Tudo parece possuir alma própria. A visão extraordinária da cidade elevada, como se estivesse suspensa, é quase uma miragem grega. O requinte arquitetônico de museus, a beleza ímpar de praças, jardins, casarões, monumentos.
Além da riqueza histórica e do deleite da alma só de olhar o pôr-do-sol, como esquecer as pérolas humanas deste lugar? Essa gente tão afável, de uma meiguice tocante, de uma candura pungente. Ah, Gerais! Quem te conhece não te esquece jamais! Mas a saudade aperta e chega a hora de voltar. Para alguns as malas voltam mais cheias, de novas amizades, de amores e de lembranças, cheias de vida. Para outros as malas também voltam cheias, de presentes, de lembranças da culinária e até, em alguns casos principalmente, de bebidas típicas.
De ti Minas, levo comigo o teu arrebol, a doçura de teus filhos, a loucura dos amigos, o carinho dos queridos, a amargura de um lado sombrio, a saudade do que fui e do que sou e levo também o desejo de um dia novamente poder fitar tuas lindas ladeiras, acompanhada por uma cerveja mineiramente gelada!

Comentários

REAVF disse…
Muito bommmm
;]]
conte-me mais...
bjo

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