Em nome do pai, do filho e do avô.

Zé Hamilton era um bom funcionário público, casado com Luzia e pai de dois filhos.
Pouco se sabe sobre ele...
Se gostava de café, se cantava quando tomava banho ou se era de peixes, como eu.
Não sei em quem mês ou dia nasceu, mas sei que foi pela década de 30.
Se gostava de ler, jogar bola ou dormir; se sentiu muita dor com o câncer, ou se foi rápido... Não se sabe.
O que se sabe é que toda vez que Zé Hamilton passava em frente à uma igreja, ele fazia três vezes o sinal da cruz. Ninguém nunca soube exatamente o por quê. Se era por fé, por mania, por obrigação...
Sempre pensei, no entanto, que era para as três pessoas que ele mais amava no mundo. Sempre imaginei que era pela sua mulher, pela sua primogênita e pelo seu filho pequeno - meu pai.
Pouco sei sobre Zé Hamilton, embora ele seja meu avô.
Nunca toquei o seu rosto, nunca senti seu cheiro e tampouco pedi dinheiro pra comprar caramelo.
Mesmo assim, mesmo nunca tenho conhecido Zé Hamilton, trago comigo sua marca.
Eu faço três vezes o sinal da cruz ao passar em frente à uma igreja, assim como minha avó, minha tia, meu pai e meu irmão.
Dele pouco sei, muito ouvi, mas é inebriante pensar que eu tenho um completo estranho correndo nas minhas veias e ditando minhas manias.
Sinto como se fosse ele que guiasse minha mão para cima e para os lados, e talvez só por isso, eu saiba que nunca vou deixar de fazer o bendito sinal.

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