Enquanto Apago as Luzes

Hora de dormir. Como sempre, vou ao quintal e apago as luzes. Mas assim que faço isso não fico no escuro, a luz de uma amiga de muitas noites, a lua mutante, ilumina a cena. Nem cheia nem minguante, ela sempre me chama a atenção, me hipnotiza. Parece que, ao olhá-la, conseguimos manter uma comunicação ocular.
Neste momento começo a lhe transmitir todas as minhas dúvidas, as comprovações que tiro do meu dia e minhas teorias! Sempre a elogio. Para mim ela sempre está bonita, até mesmo quando veste seu vestido de sombra e se mostra apenas como um fiozinho de luz.
De uma maneira bem misteriosa ela parece sempre me responder. Há dias em que não tenho vontade de dormir, a conversa é tão boa como a que tenho com minhas outras amigas enquanto tentamos dormir.
Coloco uma música, tomo um grande copo d’água, olho as nuvens passando, as estrelas... Às vezes uma coruja branca passa e me faz ter menos vontade de sair dali.
Esta noite o céu está límpido, tendo minha amiga como destaque, com um brilho encantador e em sua volta uma aura multicor. Observo as estrelas do manto azul escuro, quase negro que, esta noite particularmente, perece ter se enfeitado para que eu o olhasse mais um pouco, pois admito sinceramente que não o estou dando muita atenção, como dava antigamente e como um amigo ciumento ele compete com a lua. Mas, para mim, eles complementam um ao outro, sempre.
Elis e Tom cantando baixinho em meus fones. E no espaço o silêncio reina. Águas de março! Mas já é quase julho! A percepção de que o tempo passa cada vez mais rápido me vem. Bebel Gilberto: “...Take my hand... Take my heart... you and me…” As estrelas hoje resolveram arrumar-se em pares. E que lindos pares! Algumas, além de seus pares têm outras em seus encalços, parecem Reticentes.
Lembro do lugar onde gosto de ir para observar o céu noturno. Um suspiro de saudade, lembrança de momentos maravilhosos que passei com amigos e parentes. Férias, feriados, fins de semana, aniversários, tudo era mais um motivo para arrumarmos as malas e fazermos uma curta viagem até lá.
Fecho os olhos, filmes dos ótimos momentos me vêm. Mais uma profunda respiração, mais um copo d’água e Chico canta pra mim. A sensação de estar de novo sobre a areia, deitada ou sentada, pensando, conversando ou cantando, é renovada.
Cazuza, mais um copo, mais uma lembrança, uma última olhada, mais uma pergunta, mais um devaneio. A vontade não se sobrepõe à vozinha que diz: “Menina vai dormir!”.
Mais um dia se aproxima, já é quase segunda. "Já vou dormir, até amanhã!"
Como ela consegue estar diferente, parece que o olhar com que me despeço é o de que está vendo pela última vez. Levanto-me, vou até meu cachorro, ele me olha como quem diz um carinhoso “Boa noite”. O acaricio, fecho a porta, e, se a cabeça deixar dormir: “Boa noite! Até amanhã!”

Comentários

REAVF disse…
Muito Boa..
ê lua de todas as noites, quando te falta no céu é sinal de trovoadas nos corações inquietos.
Pois quando estais, acalma, acalenta e consola com seu luar as almas dos apaixonados.
porque o corpo...
aí do corpo de quem ama,
de quem queima,
de quem tem sede por carne e
fome de amor.
este corpo tu ilumina, deixando alvo fácil pro seu par.
como se fosse presa fácil na surdina de quem anseia por se consumir.
Ê Lua, ah luar..
tira das trevas as almas sedentas de paixão.
amém!
Nininha disse…
Que assim seja, hj e sempre!
Obrigada!
Não consigo usar tão lindas palavras para agradecer!
Nesse caso lamento a minha falta de habilidade!

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