Ensaio sobre a velhice segunda
Quando anoitecer,
e me tornar confuso,
quero voltar
e ser poeta inseguro.
Que cante mais as paixões,
se iluda mais com o amor,
e nas madrugadas, se puder chorar,
chore aos berros.
Quero anoitecer,
e me torna mais carinhoso,
intenso, atrevido
um pouco mais
que devo ser.
Sim talvez, estando longe
em pensamentos tão distantes,
em pensamentos: tanto faz.
Onde anoitece-se assim?
Podendo coisas, assim
sem sentido.
Só nos cantos da revistas?
Sim.
Estar velho já é paz.
Fruta de certa cor esquecida,
que nem toda poesia,
vai dá conta de contar.
Comentários
"Preparado naquela noite para tudo, me deitei de barriga para cima à espera da dor final no primeiro instante de meus noventa e um anos.Ouvi sinos distantes, senti a fragrância da alma de Delgadina dormindo de lado, ouvi um grito no horizonte, soluços de alguém que talvez tivesse morrido um século antes naquela mesma alcova. Então apaguei a luz com o último suspiro, entrelacei meus dedos com os dela para levá-la pela mão e contei as doze badaladas da meia-noite com minhas doze lágrimas finais, até que os galos começaram a canta, e em seguida o repicar dos sinos de glória, os foguetes de festa que celebravam o júbilo de haver sobrevivido são e salvo aos meus noventa anos.