segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Tempo, temo, te amo

Temo morrer sem tempo
Te amo e morro por ter
de esperar por dentro
e ir embora por fora
daquilo que guardo.

Temo, te amo e não prático o amor suicida
que se gasta na memória;
nos sonhos mais infames;
nas noites impróprias.

Te amo nas noites
que marcam e passam
Como a vida que se esvai...

Pouco a pouco,
como aquele amor,
temo mais um pouco
não amar mais nada
e esperar dissolver as migalhas
daquilo que não digeri.

Temo e te amo,
o que não quer dizer nada
quando o tempo desaba,
sem deixar vestígios
da vida que passou.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Coisas do tempo perdido


Eu esqueci o relógio no tempo e agora não me lembro quando o tempo voltou a passar. Por isso fico aqui olhando as paredes, suas rachaduras me contam o tempo desta casa: seria algo em torno de quatro frestas na cozinha e outras quatro na sala. Grito por querer saber às horas, ecoa a resposta empoeirada pelo tempo e esquecida pela memória. Quanto tempo pra pensar... Ah! Às vezes, o que eu digo, de tão batido, mais tão batido, me deixa com a cara amassada.




sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sobre amor e liberdade.

Azul...

Imensidão...

Dois pássaros.

Livres!

Crias do Criador.

Só o vento em seus caminhos
e nada mais...

Uma poeira hostil
e uma mudança de trajetória:

Até os pássaros têm seus obstáculos.

domingo, 15 de agosto de 2010

Sincretismo

Nos espaços vazios guardei, cheia de intenções, lembranças carentes por cuidados. Isso me completava da forma como éramos, do saboroso gosto de tempos atrás. Essas lembranças no vazio contaminavam o que já estava preenchido e, como se fosse remédio, devolvia a força que jamais perdi. Eu era outra ou eu mesma antes de ser o que sou agora. O meu corpo contorcia-se com essa transformação. Eu tinha certeza e desejo. Caia convalescida ao ar.

Ao mesmo tempo, faria falta, como fez, ao encontro aquele tempo resguardado para acalentar a alma. Mas o momento de tão intenso firmou, pesadamente, seus anseios em meu corpo. Sua loucura, razoável, em temer o próximo instante deixou-me tensa. Não poderia eu suportar por nós dois os descuidos e destemperos fortuitos de uma noite em que tudo seguiria num caminho inimaginável. Sem controle, muito mais do que a dor na falta de tempo,o meu delírio vinha da sua transformação.

Eu já não era mais carne, pois flutuava ao som de canções afros e Iansã protegia meus passos ao calor da luta. Lutaria por aquilo que me seria. Num redemoinho de fogo eu forjaria o nosso amor. Decidida na sensualidade fina de mulher perdida eu me acharia em seus braços nada material, mas parte e extensão do ritual de união. Nessa fração, com outros aspectos, seríamos sim como éramos, pois éramos a fração do aspecto. Além da matéria, eu voltaria a enxergar nossos sonhos. Nos reconheceríamos, talvez, por instantes e instantes; e tudo seria novo, teria o sabor gostoso do velho e a delícia do recente.

- No entanto, eu já não era ela, eu era o observador, meus olhos tremiam ao vê-la dançar volúvel; esvaindo-se na fusão de nosso corpo. Eu me vi tragado e repelido ao ar por várias vezes. Ela me envolvia; eu penetrava em seus poros. Num processo intenso, éramos um em dois corpos, sem nada ser para um novo recomeço...




quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Pão e queijo


Eu vejo como esta,

 corto,
fatio em pedaços,
rogo que me faças bem,
limpo o canto e sento,
lavo as minhas mãos,
lá fora um sereno:
or-valho
nada pela manhã.
Pois...
Depois dessa noite quente,
não vale nada oração.
Mas creio ainda...
ouço o som da chaleira,
preparo o queijo,
abro o pão ainda quente.
Como na noite anterior,
fatiado por unhas
o meu corpo sedia por um final feliz,
quase ao ponto de se deixar levar
pelas astúcias tuas,
tirando a culpa das entranhas da consciência
de quem nada fez,
de quem nada vale,
de quem nada lembra,
e só merece
pão e queijo antes do adeus,
como uma última consideração.



domingo, 1 de agosto de 2010

Hipoteticamente falando:

Eu não deixaria de fazer algo
por achar que seria algo
o que eu nunca fiz.

Viver o que não existe
já não cabe em meus sonhos...
Aliás, se fosse talvez quiçá práticas do que não é,
o hipotético amor seria tão real quanto a ilusão.

Entretanto,
nas circunstância que nos encontramos,
a pele e o tato gritam bem mais.

E a dor que sinto quando te vejo,
naquele misto de repulsa e desejo,
me deixa confuso num amor que já foi ou é.

Não sei como pedes definição do que não é tangível.
Poderia eu dizer: é algo tipo assim, uma coisa que já deixou de ser.

Ora, e o tesão da vida onde fica nos seus princípios?

Aqui seria uma conversa pra noites inteiras;
chegaríamos sim em lugar algum,
passaríamos o tempo falando besteiras,
desfrutaríamos algo comum,
beberíamos na mesma taça.
Ainda, sem concordarmos,
teríamos uma noite agradável de pele e prazer.

Mas isso é algo que você não se deixa permitir porque o se
de um outro dia imaginário te preenche, cala tua boca,
Mata tua carne e te enterra viva.



Das dunas fiz um porto.

Diante de ti tremo e tenho tudo e remo tanto  para não falar que minha rima fraca e cansada de repouso e  de descanço de um trabalhador da p...