quarta-feira, 26 de maio de 2010

Agora que sinto amor
Tenho interesse nos perfumes.
Nunca antes me interessou que uma flor tivesse cheiro.
Agora sinto o perfume das flores como se visse uma coisa nova.
Sei bem que elas cheiravam, como sei que existia.
São coisas que se sabem por fora.
Mas agora sei com a respiração da parte de trás da cabeça.
Hoje as flores sabem-me bem num paladar que se cheira.
Hoje às vezes acordo e cheiro antes de ver.

___________________________________________________


O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.


Alberto Caeiro

sábado, 22 de maio de 2010


Existe algo...
atinge a alma,
regenera o coração,
Acaricia os sentidos;
faz calmaria

em mares bravio,
lança um ritmo
em tom de prazer.
Lembram um...
AMOR,
nos traz lembranças felizes.
levam-me a você
numa noite de solidão.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Minha poesia inacabada.

És tão lindo aos olhos de minh’alma,
que não ousam importar-se
os meus olhos biológicos.

O barroco mais perfeito
e uma delicada contradição.

Um diamante a ser lapidado,
carrega em sua (im)perfeição
o mais intenso brilho.

Você, Meu amor.

De tão (im)perfeito
encaixa-se perfeitamente
em minha (im)perfeição

O inacabado que há em você
completa-me...

E juntos,
somos um só.

Uma só poesia.

Uma só alma.

Um só diamante.

O que há de mais precioso.

Minha doce e imperfeita pedra nua,
serás o meu amor
enquanto a poesia existir.

Por todas as luas e
por todos os sóis...

A poesia não tem fim.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Palavras

As coisas são realmente muito mais do que as expressões... Entretanto, compreendemos apenas aquilo que possamos alcançar. Uns vão mais longe, outros não se arriscariam tanto. O que está cartografado, classificado, torna-se cômodo para um bom entendedor. Ora, se meia palavra basta, alguém faria esta pergunta: será que existem apenas os algarismos em uma palavra ou há algo mais?
Sim, ando pensando no que deixamos vazio nas palavras, no que se perde. Penso, por exemplo, nas dificuldades que encontramos quando vamos falar das coisas belas, das coisas que realmente nos importa (como é difícil falar do que realmente sentimos). Às vezes, é fácil perceber nas pessoas o descompasso entre o que sai da boca e a vontade pulsante no seu corpo. Existem coisas que saltam dos (aos) olhos, existem coisas que esses velam. Coisas que ficam mesmo nesse sentindo vago no qual emprego aqui. Coisas...
Ah, como faltam palavras e sobram comunicações. Tudo caminha pelo terreno do mal entendido. Continuando o exemplo: como é difícil falar das coisas belas. Não é que não falamos, é que existem situações nas quais as palavras tonam-se difíceis. Elas forçam o leito dos sentimentos sinceros, usurpam o próprio valor sentido; pois, muitas vezes, o interlocutor não percebe ou sente os significados das tensões corporais. Seria possível organizar o que se vai dizer, preparar a resposta, desvendar o silêncio, ver os olhos longos desvelando um pedaço de intenção; ao mesmo tempo, sentir as vibrações corporais, a densidade da pele, perceber a respiração ofegante, medir a pressão do corpo, os batimentos do coração e ouvir?
Na existencia de todas essas coisas paira ainda um vazio que só poderá ser superado pela sicronização dos sentimentos, do pensamento e da intuição. Esse vazio existe porque, no tempo em que tudo isto foi feito, algo escapa à percepção simples. Mas não escapa a outras formas de comunicação…

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Jaula noturna.

Adoro tudo nela quando dorme.
Sua sonoridade austera, seu balançar de pernas, suas mãos com força cavalar que se mexem, que machucam.
Eu adoro.
Seu rosto amassado, seu cabelo que mais parece um rolo de lã que um gato acabou de brincar...
Adoro como, as vezes, no meio da noite, ela morde os lábios, geme baixo - algo grandioso se anuncia em sua mente, e eu, expectador medícore dos sonhos alheios, espero ansioso o desfecho. Parece que pressente: de repente as expressões se voltam calmas, por vezes esboça um sorriso, quase um desdém. Até essa frustração que me dá, eu adoro.
Adoro tudo nela quando dorme.
É o tipo de paz, o tipo de amor, o tipo de calma que ela nunca - nunca! Nem no maior dos meus sonhos - vai conseguir me transmitir quando está acordada.
Eu a odeio quando está acordada.
Odeio quase tudo nela quando está acordada.
Mas adoro tudo - tudo! - quando ela está dormindo.
Um amor que nenhum outro alguém vai conseguir despertar nas minhas entranhas - sim, o amor é nas entranhas -.
De modo que vivemos de escalas: eu durmo durante o dia, ela durante a noite.
Nosso amor é feito de silêncios e sombras. E só.

Na pior das hipóteses, se ela acorda e eu não tenho sono, corro pra rua.
Ando, sem saber para onde, mas com a certeza de que qualquer pesadelo é melhor do que estar do seu lado quando ela está acordada.

A odeio quando está acordada.
A quero dormindo.
A quero calada.

Dormindo, ninguém ameaça.
Dormindo, ninguém foge.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Ora essa, eu não sei rir a toa.

Tem dias, longos dias, que guardo pra mim. Não os empacoto, não há fitas vermelhas que o abraçam, nem lindos cartões com frases pré-escritas mostrando como bons e claros são estes dias. Eu os guardo simplesmente por que me foi uma tarefa dada. Quase uma voz celestial que disse ‘Faz destes teus dias... Pois não há nada neles que vai interessar qualquer outro alguém’. Sim, são somente meus não por que os quero, por que os fiz assim, mas por que são tão vazios e inúteis que se eu não os guardo, e os cuido, neles mesmo me acabo. Se não os cuido, eu mesma me vou. Vazia, como eles.

São longos, longos dias de cinco sentidos quase mortos, quase seis – sentido nenhum, o ultimo deles.

Às vezes esses dias duram séculos de uma semana, ou de duas ou de mês. Não importa. Os levo, os guardo, os deixo passar como querem. Não os interrompo. Tenho medo do estrago de uma pausa concreta. Freios também causam acidentes...

O que importa é que, em forma de gratidão ou apenas compaixão, a mesma voz que me leva a segurar estes dias com as mãos, os juntando pelos dedos, também me anuncia seu fim.

Quando eu acordo e sei que sonhei com um encontro ao acaso. Acasos sempre me animaram. Um encontro ao acaso, um olhar descuidado, um sorriso compassado, um cigarro apressado... Sim, os dias de agouro se vão ao simples anunciar de uma possibilidade nunca antes pensada, e agora quase nunca esquecida.

Te seguro, dia estúpido. Amanhã te jogo no ralo, e vou à praça esperar meu amor para que nele possa esbarrar, chamar para um café, e rirmos dos dias estúpidos que ele também deve ter ao me esperar no esbarro.

Um dia, um dos meus acasos planejados há de dar certo. Com o amor do esbarro na praça, ou com a mão sem querer no mesmo livro da livraria, ou com o cara que pediu os últimos pães da padaria e insiste em dividir comigo...

Nesse dia, então, rio a toa.

domingo, 2 de maio de 2010

Vai entender?

Quem vai entender qualquer coisa assim?
Se tudo que eu ainda sinto é o amor ou ainda tudo que vem da loucura chamada paixão (coisas clichês que permanecem em quase todos romances ou tragédias).
Vai entender?
Brigar, xingar ou se fazer de indiferente; achar que com a distância estará tudo resolvido e pra quê? Se na falta lá se vai precisar dum ombro amigo ou de tragos amargos de esquecimento.
Vai entender, mas existe explicação? Precisa?
Sei não... sei não, fico a brincar com as ilusões.
Fico a viver o amanha sem suportar o hoje, o instante que lhe perdi:
O pensamento voava e eu pensava em viver sem ti...
Vai enteder, quando eu ouvi sua voz e notei você como realidade, o amanha se fez pra mim.
Não pensei, queria sentir seu corpo no meu como se fossemos amantes e não casal em separação... Sinceramente, que palavra feia é Divórcio (Mesmo que eu não ache bonito a p.,. Casamento).
Vai entender?
Sei que tudo passando, espero que venham logo aquelas reconpensas da recociliação
ou não,
mas sim,
há de se entender.

sábado, 1 de maio de 2010

Ferina é a língua que corta a carne ao falar;
Feroz é o silêncio que congela as emoções,
De tantas sensações o corpo paira no chão,
De ar;
Sem respirar,
\Pesado,
Mudo a cintilar um fio de paz.
Mas há de esperar cicatrizar,
Deixar luzir um novo amanha,
Por que não?
Um final feliz,
Como se quis nos romances ideais.

Das dunas fiz um porto.

Diante de ti tremo e tenho tudo e remo tanto  para não falar que minha rima fraca e cansada de repouso e  de descanço de um trabalhador da p...