Sobra de dor, sobra uma marca, sobra distância... Quase não sobra nada.

Falta pele, falta cheiro, gotas de suor

Falta o fino tato, a fala mansa, palavras brandas

Faltam palavras. Cadê os sorrisos? O olho fitando solene minha forçada timidez?

Falta tempo. Horas e dias se perdem, acabam, faltando um fim de tic tac amoroso.

Falta tempo para o entendimento, sobra espaço pra desilusão.

Falta presença, sobra espera. Cadê os dias seguidos e intermináveis de luxúria? As noites perdidas que ganhamos... Cadê?

Falta perna, braço, dedos... A cabeça, já se perdeu.

Sobra coração. Sobra, transborda, escorre calado e lento na correria nossa de cada dia.

Falta abraço, sobra distância. Ausência, sobra aos montes.

Falta coragem e pulso, sobra surtos de solidão.

Falta certeza.

Na mesa, falta bebida e sobra embriaguez.

Na falta disso tudo, sobra aos goles a insensatez.

E os espaços se multiplicam, a distância eleva-se à potências, mas o que era doce não se acaba: falta açúcar, mas não falta afeto.

Comentários

REAVF disse…
Falta muito coisa enquanto se sobra muitas outras...
Patrícia disse…
A cada falta um vazio, em cada sobra um cansaço!
Nininha disse…
e na falta de palavras, temos vc, que está cada dia melhor!
Acácio S. disse…
"falta açúcar, mas não falta afeto"

Eu, que nunca gostei muito de doce...

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