Ode ao século XIX

Minha pena anda disfarçada de tecla,
mas o sentimento de minha poesia,
é tão digital quanto uma lamparina,
tão moderno como um carro de boi,
hi-tech que nem conto de réis,
meu cigarro ainda é de palha,
meu jantar a luz de velas,
compro meu vestir na velha costureira.

Diante do século novo, me sinto saudoso
do mundo que só conheci nos livros,
àqueles que me levam a tempos que não me pertenceram,
mas que de alguma forma, sinto que são meus,
o homem de respeito e barba,
que anda de arma, mas não causa espanto,
nem medo, pelo contrário, é canto
é honra.

A mulher que sorri, fecha a janela e corre pra sala,
me causa inveja os que tiveram a chance de conquista-la,
que é cortejada, lê romance, tricota, enfeitiça,
não a mulher estática, dada, servida como queiram,
mas, a que vai ser da vida inteira,
mãe, amiga, companheira, forte na luta,
forte no parto, forte na morte. Espelho de força.
Não de devassidão.
Não, não sou machista,
antes fosse, sim, eu seria.
Ser homem, tinha outro significado.


Do velho que pode sentar a sobreira de sua casa,
olhar seus netos, sem temer uma bala em suas cabeças,
não vislumbrar um assalto a sua porta,
fumar seu fumo, tragar seu álcool,
juntar os amigos, falar-lhes do amor sem chacota,
morar no campo, ir na cidade só de quando em quando,
a negócios. Não mais que um dia ou dois,
correr de volta a fazenda, pra não descuidar frente o sertão.

Tempo esse tão distante de mim,
que nem sei realmente se fora assim,
tão cheio de beleza, e simbolismos,
mas que frente ao meu, tempo doído,
me causa uma saudade sem fim.

Comentários

REAVF disse…
Tenho cá minhas dúvidas sobre o passado mágico. As formas de controles hj talvez mais eficientes embora que sutis, contrasta com o autoritarismo de outrora.
Sinto falto de uma natureza nas coisas. Essa indiferença que é o que nos mata.

Bom texto.
Pétrig disse…
Precisava 'ouvir' um comentário cético, como o seu. Obrigado Poeta.

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