terça-feira, 28 de outubro de 2008

Tristeza não tem fim, felicidade também não.

Sei cantar tristezas sem fim,
Mas gosto mesmo é transformá-las capim,
Em perfume e em jasmim. Fazer isso? Sei sim,
Que nem feitiço, as deixo alegre,
Num piscar de olhos, ponho saudade dela nelas,
Desconsidero as lágrimas, e as canto amor.

Sei cantar tristezas sem fim,
Mas gosto mesmo é transformá-las em mar,
No sol e na areia. Fazer isso? Sem sim,
Numa correnteza fatal, as deixo luar,
Numa onda oportuna, jogo paixão dela nelas,
E as vejo sereia, e as canto paixão.

Não sei, porém, é dela esquecer,
Nem na alegria, nem no cheiro do jasmim,
Ela foge tão fácil de mim,
Nem na rima simples, qualquer,
nem em naufrágio nenhum,
nem as marcas que ela deixou,
Torno-me de fato um comum,
Desapegado aos amores impossíveis,
Indiferente às loucuras do coração,

E mesmo que nenhum feitiço me alerte,
nem uma lágrima me cante,
Nenhuma saudade me espante,
E nem uma onda me acerte.
Desfaço-me do seu amor, e paixão,
Confesso, Sou dela então,
entretanto, é posto,
que loucura alguma, mais bela que seja tal,
me afasta do bem que me posso fazer,
E sei da morte da solidão,
todo dia me renascer.

Aquele velho ciclo.

Olha só o quê que eu fiz
Nasci
Cresci
Perdi as estribeiras
Deixei o grande amor na beira da estrada
Na curva, na parada
Esperando o ônibus pra me levar daqui
pra não ter que ouvir você dizer que sim
Eu corro contra o tempo
mesmo quando ele está parado
Torcendo o nariz pra quem tá armado
jogando, brincando de leviandade
Na boca, a palavra traduz minha alma
na pele, entrega minha liberdade
Me pega no flagra, no piscar dos olhos
me mostra que já nem sei quem sou.
Já presa, sou réu confesso
Não nego nem quero perdão
Se já me vou, é por quê
nasci
cresci
perdi as estribeiras
Não sou de ficar em casa
nem mulher de fazer feira
Eu sou daquelas que passam
cometem o crime de amar
crime de loucuras falar
e confessam quando já é demasiado tarde
que o que se quer é correr perigo
é correr o mundo
Espero o ônibus
que é pra conseguir te deixar
Eu só queria, ao certo,
te deixar de forma leve
pois foi assim que eu cheguei
Vês?
É que eu
nasci
cresci
perdi as estribeiras.
Eu perco quase tudo
corro o mundo de bobeira
Deixo-me rente à você
até o tal ônibus chegar
e pra bem longe me levar
De longe também, há quem observe
e pense que eu não sei amar
Mas não é questão de saber
É questão de
nascer
crescer
e perder ou não as estribeiras.
E perder não é escolha
perder é uma armadilha.
E eu cai.

Eu
nasci
cresci
cai na armadilha
e perdi as estribeiras
mas ainda não morri!

domingo, 26 de outubro de 2008

Aos olhos de meia-noite, um Desalento.

Hoje um medo terrível percorreu meus pensamentos. Aquele tipo de medo que enrijece os músculos e faz latejar os ossos. Medo de perder o meu recanto nos teus olhos de meia-noite, medo de que esses mesmos olhos, que me fazem sentir completa, não me enxerguem mais com a mesma ternura. É medo sim, do tipo de medo que só sente quem muito ama. E confesso, melhor seria não te olhar do que ver teus olhos derramarem uma lágrima sequer.
Ver em teu sorriso aquela tristeza lancinante é como se um veneno mordaz corresse em minhas veias, matando-me aos poucos. Percebo quanto mistério ainda guardam esses olhos teus, que habilmente confundem meu tolo coração. Meu peito palpita com uma força que dantes não sabia existir em mim, e dói um medo desesperante.
Meu amigo, meu amor, dói só pensar em te perder. No dia em que tu quiseres partir, com os braços abertos e o coração em sangria, eu te deixarei seguir, mas, nunca, de modo algum, não posso perder-te meu bem. Perder-te seria perder a mim, perder minha leveza, minha capacidade de sorrir. Tu bem sabes que tua presença é imprescindível para mim. Não é novidade para ninguém que meus olhos sempre procuram os teus, onde quer que eu esteja.
Por isso e por tudo o mais que vivemos e ainda iremos viver, peço-te meu bem que não te esqueças que meu amor é muito maior do que a estupidez de meus atos falhos. Aconteça o que acontecer, passe o tempo o tempo que passar, mesmo no dia em que teus lindos olhos de meia-noite não procurarem os meus, eu continuarei aqui, amando-te além de tudo.


Sim, vai e diz
Diz assim
Que eu chorei
Que eu morri
De arrependimento
Que o meu desalento
Já não tem mais fim
Vai e diz
Diz assim
Como sou
Infeliz
No meu descaminho
Diz que estou sozinho
E sem saber de mim”
(Chico Buarque)

sábado, 25 de outubro de 2008

Meu amor...

Eu não vou deixar de te amar,
Mesmo quando contrariado
Deixo de lado toda mágoa e dissabor.

Do lado de cá um bem nasce a cada dia,
As coisas mesquinhas, medíocres já não têm mais lugar quando se trata de nós dois.
É que sou imperfeito e por isso mesmo aberto a compreensão.

Veja a correria de muitos,
Eu cá inculto entrego os pontos aos que se acham com razão.

Meu amor, apesar dos contratempos é mais doce o teu olhar.
Esteja comigo, pois te sinto e sinto a tua dor a me corroer.
Teus olhos alimentam a minha alma e nessa natureza clara
O inverso de te consumir é te querer.

Não te ausentes de mim,
Não me destrua assim, sofrendo os insultos da solidão.

Nesses desencontros perdidos,
Eu me recomponho com teu sorriso;
Em silêncio sinto que tudo está bem melhor...


TEMPO DA DELICADEZA

No tempo da delicadeza,
anseio encontrá-lo.

Longe de minhas fraquezas.

Em um lugar qualquer...
Que não seja a rua da desilusão.

Em um espaço do tempo...
Que não sejam horas de solidão.

Esperarei?!

Existirá?!

O tempo da delicadeza:

Não é tempo, não é lugar.

São esperanças sem fundamentos.

Tudo o que restou e não findou.

Esperanças tão pequeninas,
que não sobreviveriam
ao tempo do perdão.

(Suzan Keila)

A cisticercose da alma...

O rancor do beijo perdido lambe a boca salivando raiva.
A suave cinza de cigarro regozija no gargarejar.
Nesta noite arde na pele o desejo,
Sente-se ainda a amar.
Nojo asco e nojo: repugnância!
Gonorreia da puta que pariu!
Seios, ventre, os sexos,
trêmulos, tocam-se e se deixam passar.
Nesta noite choram pelas noites passadas,
Pegadas de sonhos e ilusões.
Eis que surge a matéria viva do imenso rancor
Ignóbil, imunda e covarde;
A cara podre do vômito da paixão.
É nas entranhas que se experimenta a náusea do querer
E a impossibilidade de evitar a vergonha de perder.
Eis que estão livres para decair!
Como um grito no escuro,
Não conseguem se escutar: eu te amo...
Eu te amo... não mais.
Talvez deixassem de beber,
Deixaram os vôos de liberdade
Voltaram a ser o que eram
Quando não eram mais dois, eram mais.
Eis a inocente a trair
A musa, a sereia de qualquer um.
A diva da esbórnia, epiderme contaminada do prazer.
Eis o sedutor dos esgotos
O cara, o vagabundo deus da paixão.
Sim, todos esperam palavras doces para ouvidos famintos,
Desculpas engatilhadas para jogos de sedução.
Entretanto, ninguém o esperava: o rancor, a cisticercose da alma;
O solitário (a solitária) que ninguém se quer ouviu.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

PORRA

Palpitações aceleradas
Palpites desastrados
Palmas irônicas
Possibilidades esgotadas
Pesadelo real.

Pedidos de desculpa
Palavras intragáveis
Poesias, exposições
Pequenez de pensamento
Péssima aparição.

Poucos agradam
Povos exalam putrefação.
Passos falsos
Paraíso utópico
penalização.

Passeio entre dúvidas
Perdido, não!

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

domingo, 19 de outubro de 2008

E o quê a gente anda fazendo da vida?

Eu já me perguntei o quê os outros fazem da vida
Mas agora me preocupo com as nossas feridas
Com o nosso mal estar

Preocupo-me como anda nosso querer
Nosso jeito leigo de deixar pra lá
Esse nosso vai e vem, pensando no necessário pra viver

Eu estou pensando no nosso carinho
Na nossa preocupação contínua
Que agora se esvai no caminho

Agora ele se perde no nosso andar tropêgo
No andar torto das linhas que a gente regrava
No âmago do nosso respeito que agora se apaga

O quê eu quis de você nunca defini
Mas sei que quis e persisti
Não sei por quê me perdi
(e você também, por fim)

Eu sei que amor não se esvai com o calor do alter ego
No vacilo do meu dejeso carnal no qual me entrego
Na loucura que insisto (e sei que um dia desisto) de completar

O que eu quero é me entrgar
Será que você antecipa e se arrisca em um novo amar?
Ou também se deixa levar pela loucura
Persiste e ainda procura
Algo de bom e sensível nesse meu andar?

Eu me pergunto e me assusto
com a resposta.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Benção da manhã.

Ontem quando acordei, ainda de manhã
senti tanto a falta dos teus olhos que fiquei cego,
Pedi tanto o toque dos seus braços;
que nem mais calor no meu corpo senti,
Desenhei tanto teu sorriso que chorei
Um choro calado, que quase inexato sofri.
Cantei teus discos preferidos,
e teus poemas mais queridos reli.
Brinquei com teus brinquedos prediletos,
e dos teus sonhos mais devassos me refiz,

Na tua ausência, e pela tarde, eu te compus,
como se sente e se reluz sendo presente,
versos mal-feitos, e um amor que se deduz,
em sonhos falsos, e que a tão custo é insistente.

No entardecer contudo,
como num pesadelo que acaba,
toda a saudade passou,
e como num passe de mágica,
da noite que começou trágica,
vi um amor florescer,
que a madrugada enfeitou,
o alvorecer entendendo se calou,
e o novo amanhecer tratou de abençoar.

Sonhador

Sentado, chorando, um sonhador pensava
Que suas rimas de amor soavam sempre tristes.
Pensava na sorte que poderia ter no jogo
Pensava que isso poderia torna-se vício.
Perguntava-se  por quê?...
A idealização da mulher era o seu problema...
Concluía então:
Amar é idealizar...
Soluçava em lágrimas a certeza de não mais amar

Sufocaria os sonhos,
Passaria a procurar as mulheres somente por prazer
Carnal, era obvio.
Mas a cada dia
Ficará mais triste nessa satisfação banal.
Aquele sexo era motivo de raiva e rancor..
Decidiu não mais transar
Porque essas não são capazes de satisfazer o seu coração
Abandonou o romantismo,
Tratava as mulheres com indiferença
E passou a ter mais raiva dos homens.
Principalmente dos falsos,
Os que se diziam apaixonados.
Decidiu andar sempre só, perdido em seus pensamentos.

Sentindo a solidão, sentado num vazio, chorava por rimas de amor tristes.
Que voltasse as rimas de amor!
Sonhava com desilusões
Achou-se iludido porque pensou que o homem viveria sem idealizar
Sentado, chorando, o sonhador pensava...
Quais de suas rimas de amor soariam a alegria e a tristeza de amar?
Então, concluiu:

Eu sou é chorão!
Quem venha o amor, depois faço as rimas.

domingo, 12 de outubro de 2008

Depois do ócio.

Eu sei que temos que preparar nossa alma. E o quanto é tolo pensar sobre isto. Sofrer antecipadamente pelo futuro, olhar o passado maravilhoso que se anuncia. Viver o segredo nessa ciranda da vida. Viver mil vidas em uma só: a vida clichê, a extraordinária, a pacata boa vida do entardecer; ouço o barulhinho das ondas, um pouco, distantes, pra lá de tenaz.
Eu não quero escrever nada de extraordinário, o não dito por ninguém. Eu não preciso de confirmações, mas seria bom, se fosse possível sentirmos. Se pudéssemos dialogar, se todos emanassem as mesmas energias algumas vezes. Esquecermos a ordem do discurso, a coerência textual, o enredo traçado, a lógica esmiuçada pelos nobres escritores. – Nem se eu estiver falando a só nesse quadro escuro, mas tarde, depois de alguns anos, eu diria o que escrevi. Porém o outro de mim sentirá o que eu digo? O que senti naquele momento? Eu tenho uma tímida certeza que você não está entendendo quase nada do que digo. – Seja simples, direto, tenha pena do próprio leitor. Eu não sou profissional! Isso que me diverte. Não tenho obrigação nenhuma de se fazer entender, nem a quero. Não, não é um desabafo. É o puro e simples ato de escrever o que vem a mente. Mesmo eu sendo incompetente, algum sentimento permeia de forma nítida as minhas ações. Eu escrevo para mim, para que essa angústia passe logo. Como saber donde vem o que nos angustia, para que saber?
Não ando tão angustiado assim, é apenas o ócio. Maldito ócio, aquele que seria a oficina do Diabo. Sim! Dele podemos criar, mas o que é que eu criei aqui me lamentando? Meus ciúmes, amores, paixões, dor, sentimentos, emoção, angústia, são apenas meu. De vocês, do que faço parte. Nem sei. O que escrevo acabo de achar uma completa bobagem. No entanto, algo necessário para me fazer bem. É como... é um segredo, uma satisfação, um gozo, um jubilo; um egoísmo social. Egoísta porque quase sempre você não consegue sentir, e social porque ponho para qualquer um ler e julgar algo que no fim se esvai para outras sensações. E eu não sou o mesmo depois disto. Sou o outro de mim, um outro conhecido.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O meu ciúme

O meu ciúme é tão traiçoeiro,
se faz de não existir,
e quando existe, me toma inteiro,
enlouquecendo-me, e fazendo-me refém.
Mas não, não dou o braço a torcer,
guardo ele cá, inquieto,
quase sem se mexer,
trancafiado em meu peito,
gritando querendo sair, não vai! Por que?
Já causa tanto dor aqui,
pra que em outros causar,
deixe quieto, o que é quieto de estar,
fique, passe, e não vá.
Comigo, eu me resolvo,
sei da dor que é de meu pranto,
sei do amor que vira espanto,
sei quando ele pode nascer,
quando não souber mais, te deixo ir,
ciúme maldito, atrás das tuas vitimas,
causar até uma ligeira alegria,
mas no fundo,
não mais que rancor.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Meu amigo Casanova.

Existem tipos e tipos de conquistadores.
Há os "baratos", que nem deveriam levar o nome de conquistadores... Esses teimam em querer conquistar (por conquistar) qualquer saia que passe à sua frente. Não possuem o sentimento inveterado dos amantes embriagados de paixão e desejo. Não possuem a alma lírica que se pressupõe de um sedutor. Esses só querem acumular ganhos. Não possuem beleza ou leveza alguma.

E existe o outro tipo de sedutor... Aquele que na maioria das vezes, um olhar mais demorado já basta. Aquele que faz você sorrir solta, faz corar, gaguejar; aquele que faz você sentir calor, boca seca, mão suada só de chegar perto. É aquele tipo que tem a voz suave, as mãos seguras, e as palavras mais bonitas. Esse tipo é daqueles que todas sabem que ele é um conquistador, mas elas não se importam. Nenhuma consegue, ao certo, ter raiva desse tipo de conquistador. Esse tipo poético, lírico, doce, leve. Ninguém consegue odiá-lo por que todas sabem que ele deveras sente o que diz. Pode durar uma noite o seu caso de amor com um casanova, e você se sentirá a mulher mais amada, mesmo que no outro dia ele se vá. E ele vai... Mas vai dando um beijo demorado, um sorriso carregado de beleza e um olhar que faz você perceber que não se precisa mais falar. Ele realmente ama à todas aquelas que ele se entrega. E é por elas saberem disso, que ele continua um conquistador, amado e esperado pelos quatro cantos do mundo que passou. Sempre há uma mulher à sua espera, com o corpo cheio de desejo e o peito cheio de amor. Quem provou do seu veneno, deu graças ao Senhor como nunca havia dado, como se aquilo fosse o prenúncio do paraíso.

Eu conheci Casanova em uma manhã de profunda clareza, diferente dos meus homens de noites sombrias. "Meu amigo Casanova", digo à ele, "vou vender meu sangue frio por aí, por ser a única que não ficou inebriada pela tua bebida de amor". Ele se ri, pensando que seria uma bobagem tomar algo para não entregar-se à uma paixão. No fundo, eu sei disso. No fundo, eu quero vender meu sangue frio para tentar comprar algum outro mais vivo.

Meu amigo Casanova me aquece com o seu amor verdadeiro, com nossa relação sólida; me põe na alma um pouco mais de calor, um pouco mais de loucura.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Eu sou você amanhã: "Paixões"

[...] E eu me lembro da primeira vez que me apaixonei por um garoto.
Ele morava na minha rua, era bem alto e loiro.
Não consigo me recordar do seu nome, mas era um nome diferente. Me lembro que tocava guitarra. Ele era uns 4 anos mais velho que eu - na época eu devia ter 13 anos...
Não deu certo.
Eu chorei, pensando que nunca mais iria ser feliz, nunca mais ia me apaixonar.
Mas que bobagem...
Logicamente, não foi isso que aconteceu. Costumava brincar que depois desse primeiro, eu chorava por que eu me apaixonava todos os dias. Era uma confusão só de sentimentos, de atos, de corpos... Eu passei um época não atracando meu navio em nenhum porto, e isso rendeu algumas conseqüências. Esses anos de saudável leviandade me deram boas ressacas, fervorosas brigas, pessoas perdidas no tempo do Adeus, nunca mais quero te ver... Esses anos também me deram amigos, cúmplices, companheiros, gente como eu. Me deram dor de cabeça e alegria; me deram algumas lágrimas e um bucado de risadas...
Ah, aqueles anos... Minhas paixões vinham e iam com o vento, mas isso não diminuia a importância delas. Cada uma me acrescentou, alimentou minha alma, matou pouco a pouco minha sede de sentir...
Hoje só sinto quando relembro...

Ainda bem que você está aqui a me ouvir, garota...
Eu sempre me sinto feliz ao rememorar... Não vá embora cedo, ainda tem um pedaço de bolo na cozinha e eu ainda não sinto sono...

- Tudo bem, Sabina... Eu ainda estou aqui.



Memórias de Sabina.

Sobre o meu ódio.

Odeio ainda te sentir
ainda te ter aqui dentro
pulando, gritando, pedindo atenção.
Odeio como ainda consegue me fazer rir
Me fazer esquecer do que já fez;
me fazer querer reviver tudo aquilo
que neguei, que enjeitei.
Odeio quando penso em ti
quando me levas pela tua charla,
pelo teu jeito; quando me dizes "enfim",
quando não me diz que não, mas também não diz que sim.
Odeio quando não me responde,
quando não corresponde ao meu tão
sofrido chamado, ao meu grito rasgado.
Odeio teu olhar que invade, me possui,
me consome, me conhece, me persegue.
Odeio lembrar que sabes todo o meu
desenho, e que já traçou caminhos
com seus dedos por todo meu corpo,
em tão pouco tempo.
Odeio ainda te ver, e perceber
o quanto ainda sinto, e como ainda minto
sobre te odiar.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

meu parecer

Ontem eu vi o pôr-do-sol
avermelhado, alaranjado,
nem sei bem que cor parecia ser,
mas irradiava sob a cidade uma luz calma,
que parecia uma canção de ninar.

Pertinho da noite já, uma luz de cor sóbria se fez aparecer,
parecia que coloria o céu, com o matiz do perdão
com a tom do pecado,
e a nuança da paixão;

Quando a escuridão era completa,
e só um restinho de lua aparecia,
parecia que o mundo ia se acabar,
mas não,
foi só a noite ficando cinza,
parecendo me imitar.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Olhos de fogo.

Eu me lembro quando eu tive o meu primeiro grande sonho. Eu tinha 8 anos, e era dia de natal. Dentro do carro do meu pai, com os vidros fechados, e cheia de presentes ao redor, nós paramos em um sinal... Na calçada, bem perto de mim, havia uma criança. Devia ter a minha idade, e ele tremia de frio. Não que aqui faça frio, neve no Natal... Mas pra quem só usava uma peça de roupa, uma blusa toda rasgada, de noite e com fome, parecia estar na terra do papai Noel. Ele tremia de frio e de fome. Segurava uma plaquinha dizendo "estou com fome" e chorava. Ele chorava um choro dolorido. Não era só tristeza, não era por que ele não ganhava presentes... Era fome. Muita fome. Dor de fome.
Foi a primeira vez que eu me lembro de chorar um choro dolorido. De chorar desesperadamente. Foi a primeira vez, que eu me lembro, de ter tido um sonho. De desejar algo com muita força. O meu pedido foi nunca mais ver uma criança na rua, com frio, com fome, sozinha, chorando.
No aniversário de 15 anos de uma amiga minha, em um buffet, eu cheguei um pouco atrasada e antes de entrar vi três garotos sentados na esquina, sem mexer com ninguém. Acho que nem força tinham, de fome. Eu não consegui ficar no aniversário. Até hoje minha amiga conta a história de uma amiga desnaturada que foi emborado seu aniversário de 15 anos. Ela nunca soube o motivo, só via que eu chorava.
Entre vários desses imorais acontecidos, um aconteceu ontem. Eu estava em um ônibus, e um menino de rua subiu. Ele estava sujo, com roupas rasgadas, e me lembrava muito o garoto dos meus 8 anos, não fosse alguns anos a mais - talvez tivesse uns 11. Ele tinha um pacote de biscoito de chocolate em uma das mãos, e na outra tinha dinheiro pra passagem. Passagem inteira, lógico. Ele não tinha carteirinha. O cobrador não quis aceitar o seu dinheiro. Eu perguntei ao cobrador porque o menino não podia passar, e como se a minha pergunta ferisse a sua moral, ele deixou-o passar. Algo não estava normal com aquela criança. Ele tinha um andar trôpego, e eu escutei a mulher que estava sentada ao meu lado dizendo: "Deve estar bêbado, né?".
Como pode você estar em um coletivo e sentir que é a única pessoa que consegue ver a imoralidade daquela cena? Como pode alguém olhar pra uma criança, e não vê-la? Tratá-la como se fosse um bêbado qualquer?
Ele é só uma criança.
Eu chorei e meus olhos ficaram vermelhos, como os dele.
Ele tinha olhos de fogo.
Pequenos olhos de fogo, pois ele é só uma criança.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Deletério

Eu sou um saco de defeitos querendo amor
Me deixaram quando eu mais queria amar.
Eu penso em carinhos e lhe digo grosserias
Eu lhe mando flores e chegam espinhos.
Eu me canso, eu me rasco, eu me choro;
Eu não sou bom para mim.
Carrego todos os males do coração:
Ciúme, raiva, desilusão.
Meu acerto é um desacerto
Meu perdão é um recomeço
De tudo que foi ruim.
Estou cansado do meu peso,
Do que carrego, do que não mereço.
Eu me retalho em pedaços esperando um fim.
Eu me recomponho e passo a chorar.
Sei que tudo volta ao fim,
Sei que chegarei ao lixo,
Meu destino, descaminho, eu me recordo.
Eu não demoro a ser perfeito.
Um velho vício para o que é bom existir.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Homenagem aos 50 anos da bossa nova!

Andam dizendo na noite que eu já não te amo
Que eu saio na noite e já não te chamo
Que eu ando talvez procurando outro amor
Mas ninguém sabe querida o que é ter carinho
Que eu saio na noite mas fico sozinho
Bem perto da lua bem perto da dor

Perto da dor de saber
Que esse céu não existe
Que tudo o que nasce
Tem sempre um fim triste
Até meu carinho
Até nosso amor.

Tom jobim e Vinicius de Morais (aí é covardia meu prezado)

O cãosolo

Pediu vodka e sentou-se a mesa,
cigarro, conversa, e fumaça
descreveu para o amigo,
que nem lhe dava tanta atenção
suas dores e seu desatino,
contou da mulher amada,
da vida sofrida,
dos calos nas mãos,
e da esperança finda.

Vodka, cigarro e fumaça.
Dançou com uma moça,
disse-lhe as mesmas que para o amigo,
essa sim, deu até mais atenção.
Contou segredos,
fez promessas a si mesmo e a ela,
chorou no seu ombro,
acostumada estava com as lágrimas de bêbados.

Vodka cigarro e fumaça,
desceu a rua estreita do bar,
pisou na lama,
sentou-se a calçada,
e contou as mágoas
(as mesmas que para o amigo),
(as mesmas que para a moça),
ao cachorro mais próximo,
este, o observou sem latir,
então o cão, lambendo seu rosto,
naquele momento,
parecia até entender,
antes do amigo, da vodka, do cigarro e da moça
e o consolara melhor.

Das dunas fiz um porto.

Diante de ti tremo e tenho tudo e remo tanto  para não falar que minha rima fraca e cansada de repouso e  de descanço de um trabalhador da p...