Eu me balanço.
Dizem que recém-nascidos não se mexem continuamente enquanto dormem por que não tem envergadura óssea e muscular para tanto. Mas eu me mexia. Desde o primeiro dia, eu balancei as pernas ao dormir. Meu pai diz que é por que minha mãe também balançava as pernas quando eu ainda estava na barriga. Talvez seja...
Ou talvez eu sempre tenha sido assim. Meu instinto já fosse aguçado, meu coração já selvagem, talvez já ansiava por viver tudo, com apenas dias.
Alguns já disseram que meu balançar é impaciência, outros preocupação; mas eu acho mesmo que é o meu embalo, minha emoção palpitando ritmicamente, minha batida, minha canção.
Sim, a canção do meu ser é tocada a todo instante, a cada suspirar, alterando a respiração de acordo com o meu presente sentimento, acompanhando o bater do meu coração.
Eu balanço por ti.
Não, não consigo escrever, ou mesmo, ao certo, falar de ti; mas minhas pernas não metem.
É por ti que, hoje, eu balanço. E é por ti que hoje me embalo numa frenética balada de amor.
segunda-feira, 26 de maio de 2008
sexta-feira, 23 de maio de 2008
Ignobeisiástia
Lugares malditos
Espaços nocivos
De gente normal.
Becos sadios
Reflexos promíscuos
Do homem natural.
Estado disciplinar
Do baixo meretrício:
Bordel cordial a quem sabe amar.
Claves dionisiástica
Na cidade industrial
Pautada pela ordem da sociedade moral.
Hipocrisiástica
Higienizástica
Sarcástica diocese do prazer.
Lugares dos melhores hábitos
Que possa ter
A tradição humana
Freqüente no beco do amor.
REAVF
Espaços nocivos
De gente normal.
Becos sadios
Reflexos promíscuos
Do homem natural.
Estado disciplinar
Do baixo meretrício:
Bordel cordial a quem sabe amar.
Claves dionisiástica
Na cidade industrial
Pautada pela ordem da sociedade moral.
Hipocrisiástica
Higienizástica
Sarcástica diocese do prazer.
Lugares dos melhores hábitos
Que possa ter
A tradição humana
Freqüente no beco do amor.
REAVF
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Antes de dormir.
Bendito os amores que tive, os livros que me acrescentaram, os amigos de décadas, por me acompanharem; aos novos, por me iluminarem.
Benditas sejam minhas escolhas, que calcaram minha estrada, e hoje me põe aqui, à escrever. Bendita seja minha praticidade, que foi embora e me deixou na mão, aprendendo. Bendita seja minha alma, que me permite ser. Bendito meu coração, que tenta se esvair em liberdade à cada nova queda, em vez de se afligir.
Benditas as canções, todas elas, mesmo as tristes, que hoje me fazem sorrir. Benditas sejam as viagens, que me somaram caminhos; e benditas as noites enrroscadas, por me elevarem aos céus. Bendita seja minha cerveja e meu cigarro, pela calma. Benditos sejam todos os meus vícios, pois me lembram o quanto ainda sou fraca. Bendito seja seu olhar, por me abrigar e me aprisionar. E bendita seja nossa intimidade, que me faz libertar.
Bendito seja você, sobre o qual ainda não consegui escrever, mas sei que porque vivo em ti muito ferozmente, já não preciso idealizar. Apenas vivo.
Amém.
Benditas sejam minhas escolhas, que calcaram minha estrada, e hoje me põe aqui, à escrever. Bendita seja minha praticidade, que foi embora e me deixou na mão, aprendendo. Bendita seja minha alma, que me permite ser. Bendito meu coração, que tenta se esvair em liberdade à cada nova queda, em vez de se afligir.
Benditas as canções, todas elas, mesmo as tristes, que hoje me fazem sorrir. Benditas sejam as viagens, que me somaram caminhos; e benditas as noites enrroscadas, por me elevarem aos céus. Bendita seja minha cerveja e meu cigarro, pela calma. Benditos sejam todos os meus vícios, pois me lembram o quanto ainda sou fraca. Bendito seja seu olhar, por me abrigar e me aprisionar. E bendita seja nossa intimidade, que me faz libertar.
Bendito seja você, sobre o qual ainda não consegui escrever, mas sei que porque vivo em ti muito ferozmente, já não preciso idealizar. Apenas vivo.
Amém.
Quase amantes
Não estamos no inferno de Dante
antes, nossas almas condenadas
no baile, vagam sempre dançantes
se esmerando por olhares e risadas.
Talvez, seja furtivo o nosso amor,
como cheiro doce de uma flor
distante do toque das palavras,
só podemos sentir e mais nada.
É como se pudéssemos amar
Sentir na alma o corpo que repele
Sentir nos lábios o gosto que fere
Dançando com as mãos amarradas.
Nos encontramos no tempo sem momento.
Cuidando de amar a trilha do enlaço.
Quase um par, quase sentimento
Dançando em brasa, sempre descalço.
antes, nossas almas condenadas
no baile, vagam sempre dançantes
se esmerando por olhares e risadas.
Talvez, seja furtivo o nosso amor,
como cheiro doce de uma flor
distante do toque das palavras,
só podemos sentir e mais nada.
É como se pudéssemos amar
Sentir na alma o corpo que repele
Sentir nos lábios o gosto que fere
Dançando com as mãos amarradas.
Nos encontramos no tempo sem momento.
Cuidando de amar a trilha do enlaço.
Quase um par, quase sentimento
Dançando em brasa, sempre descalço.
sábado, 17 de maio de 2008
Resposta ao tempo.
Eterna hipocrisia temporal.
Essa história de que o tempo cura tudo é bem verdade, mas... pra quê esperar? Pra que esperar um mês, um ano, uma vida, pra colar um coração, pra afinar nossa canção? Até quando esperar minha alma te encontrar, te receber enfim sem mágoas, sem provocação? Pra que desviar o seu olhar, que antes tão penetrante, hoje se esvai no piscar dos olhos? Não, não é que eu não acredite no santo poder do Deus tempo. Acredito e sou devota. Já provei dos seus milagres, já agradeci emudecida... Mas acho que poderíamos dar-lhe uma trégua e agirmos por nossa própria vontade e querer.
Tristezas engrandecidas,
amores amenizados,
sentimentos supervalorizados...
Não faça disso o fim dos tempos, é só uma questão da tão odiada praticidade - ou talvez da minha ingenuidade. Já cansei de tentar, de soar tão errante, mas não se esvai a nossa velha amizade apaixonada, nossa intimidade, nossas armas de subjetividade; deveríamos seguir na mesma estrada, nem à frente, nem atrás.. Mas lado a lado, sem peito dilacerado, sem amarras que segure.
Almas não vivem em plano temporal, meu bem.
Almas trafegam em todo o sentido, em qualquer situação.
Fluirão sempre.
Essa história de que o tempo cura tudo é bem verdade, mas... pra quê esperar? Pra que esperar um mês, um ano, uma vida, pra colar um coração, pra afinar nossa canção? Até quando esperar minha alma te encontrar, te receber enfim sem mágoas, sem provocação? Pra que desviar o seu olhar, que antes tão penetrante, hoje se esvai no piscar dos olhos? Não, não é que eu não acredite no santo poder do Deus tempo. Acredito e sou devota. Já provei dos seus milagres, já agradeci emudecida... Mas acho que poderíamos dar-lhe uma trégua e agirmos por nossa própria vontade e querer.
Tristezas engrandecidas,
amores amenizados,
sentimentos supervalorizados...
Não faça disso o fim dos tempos, é só uma questão da tão odiada praticidade - ou talvez da minha ingenuidade. Já cansei de tentar, de soar tão errante, mas não se esvai a nossa velha amizade apaixonada, nossa intimidade, nossas armas de subjetividade; deveríamos seguir na mesma estrada, nem à frente, nem atrás.. Mas lado a lado, sem peito dilacerado, sem amarras que segure.
Almas não vivem em plano temporal, meu bem.
Almas trafegam em todo o sentido, em qualquer situação.
Fluirão sempre.
"A espera é árdua
e o trajeto conciso.
Um ser humano indeciso
vagando na rua.
Carros e pessoas.
Barulho e movimento.
Ele está só.
Não ouve e não vê.
Só sente.
O músculo que tem no peito,
bate aperreado.
O sangue corre mais rápido
em suas veias.
Reações químicas acontecem
em seu cérebro.
Ele não aceita,
mas está apaixonado.
A idéia é nova.
Os sintomas são bem antigos.
A tênue linha entre o trajeto e a espera
é rompida."
E o amor acontece."
(Suzan Keila)
e o trajeto conciso.
Um ser humano indeciso
vagando na rua.
Carros e pessoas.
Barulho e movimento.
Ele está só.
Não ouve e não vê.
Só sente.
O músculo que tem no peito,
bate aperreado.
O sangue corre mais rápido
em suas veias.
Reações químicas acontecem
em seu cérebro.
Ele não aceita,
mas está apaixonado.
A idéia é nova.
Os sintomas são bem antigos.
A tênue linha entre o trajeto e a espera
é rompida."
E o amor acontece."
(Suzan Keila)
segunda-feira, 12 de maio de 2008
CRIA
Nós merecemos viver
Vivemos amando
Nos amando até nas brigas mais infantis.
Somos revolucionários no prazer
Nos declaramos cantando
Não escondemos nossos sentimentos febris.
Cria: criação de todo dia, do meu amor por você.
Nós nos desviamos de todas as dores
Mudamos até os atores daquela peça formal
Nós: cria das artimanhas dos casos sonhadores;
Subvertemos o contrato de fazer tudo igual.
Sim, sinto que é por ti,
Por me fazer vestir,
Com nova roupagem meus ideais;
Que passo a persistir a ser bom moço de romance policial.
Cria, seria uma inovação nosso caso
Porque está tudo interligado nos acasos fatais.
Cria, nós somos a cria do que não fazemos só.
E a cria merece viver no coração de todos nós.
REAVF
ps: eu só queria falar de revolução.
Vivemos amando
Nos amando até nas brigas mais infantis.
Somos revolucionários no prazer
Nos declaramos cantando
Não escondemos nossos sentimentos febris.
Cria: criação de todo dia, do meu amor por você.
Nós nos desviamos de todas as dores
Mudamos até os atores daquela peça formal
Nós: cria das artimanhas dos casos sonhadores;
Subvertemos o contrato de fazer tudo igual.
Sim, sinto que é por ti,
Por me fazer vestir,
Com nova roupagem meus ideais;
Que passo a persistir a ser bom moço de romance policial.
Cria, seria uma inovação nosso caso
Porque está tudo interligado nos acasos fatais.
Cria, nós somos a cria do que não fazemos só.
E a cria merece viver no coração de todos nós.
REAVF
ps: eu só queria falar de revolução.
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Praticidade
A praticidade é uma coisa maravilhosa.
Acho que falta um pouco de praticidade em muita coisa,
em muita gente, em vários momentos, mesmo que em pequenas doses.
Praticidade sempre foi uma bandeira que tentei carregar,
levar à frente, como um escudo de guerra. Sim, praticidade é uma coisa maravilhosa.
E me dá um moleza nas pernas, um quê de doidice e preocupação quando eu começo a perdê-la.
- Em você não? -
Quando penso nas complicações inerentes à tantos casos, na amargura da espera,
no medo do desconhecido, fico com raiva da praticidade, que por ser tão incompleta ao ser humano, tem que dar lugar à uma teia emaranhada de confusões.
Tento olhar cada caso por vez, ler cada linha com atenção;
tento aprender com os acasos alheios, tento não andar na contramão.
Sigo nessa estrada cheia de alucinações, acho que não mais atrás da velha e boa praticidade. Percebo agora que é justamente quando ela sai pela porta de trás, que algo novo, bom e inevitavelmente complicado está pulando a janela da frente.
Acho que falta um pouco de praticidade em muita coisa,
em muita gente, em vários momentos, mesmo que em pequenas doses.
Praticidade sempre foi uma bandeira que tentei carregar,
levar à frente, como um escudo de guerra. Sim, praticidade é uma coisa maravilhosa.
E me dá um moleza nas pernas, um quê de doidice e preocupação quando eu começo a perdê-la.
- Em você não? -
Quando penso nas complicações inerentes à tantos casos, na amargura da espera,
no medo do desconhecido, fico com raiva da praticidade, que por ser tão incompleta ao ser humano, tem que dar lugar à uma teia emaranhada de confusões.
Tento olhar cada caso por vez, ler cada linha com atenção;
tento aprender com os acasos alheios, tento não andar na contramão.
Sigo nessa estrada cheia de alucinações, acho que não mais atrás da velha e boa praticidade. Percebo agora que é justamente quando ela sai pela porta de trás, que algo novo, bom e inevitavelmente complicado está pulando a janela da frente.
O Avestruz
Todo sábado tenho guardado uma responsabilidade de começo de semana, de tal maneira que não reconheço o domingo como o segundo dia de descanso. Não acho que a semana seja medida por domingos, só estou de tal maneira que a semana parece efêmera diante das minhas responsabilidades. Minhas responsabilidades são tão maiores do que os dias que, quando menos percebo, já é chegada a hora de ser responsável, já tem passado. Nos acréscimos, me re-responsabilizo pela métrica de tempo que não criei, tendo consciência do compromisso que marquei. Não consegui não o ter.
E é nas nossas relações que se constrói a percepção de tempo e espaço. Não é verdade? Mas nessas relações sentimos o tempo e o espaço diferentemente. É o que nos diferencia ou diferencia um grupo de todos. A sensibilidade cega, surda e imperceptível por sensações motoras, a afetabilidade de cada um que não nos deixar ser igual, por mais parecidos que possamos ser – ainda bem. Como cada coisa se inscreve em nossa alma e ativa nossos desejos, a métrica é incapaz de medir a subjetividade humana. E talvez, por meios que desconheço, lidamos diferentemente, cada um, com a metragem da vida. “Temos nosso próprio tempo” e temos tempo a perder, a doar, a viver.
Todo sábado, por responsabilidade adquirida tenho que dar aula de história a um grupo de jovens. Um compromisso inevitável para com os outros, do qual emerge uma responsabilidade angustiante, porque quando menos percebo o sábado já estar por vim, sem eu estar pronto. Mas no último sábado, tendo me preparado rapidamente, ansioso para chegar na hora e honrar compromisso pré-estabelecido, deparo com um inusitado tempo extra que acionou um bem estar sensorial. Sem saber o que fazer com este tempo, metricamente colocado em minhas mãos, eu esqueço por instantes todas as coisas do mundo e passo por um estágio de sinergia total.
Esse meu espaço de trabalho se constitui num formado de uma casa: com área, sala, cozinha, quartos (salas)... é no andar de cima que me encontro. Por trás da casa tem um quintal, ao lado uma horta. Pessoas andam entre as salas, na sala principal, a de aula, ocorre uma sonolenta aula de português. Eu me disperso, vou para a parte da casa onde eu possa ver o quintal, não sei o que pensava até escutar um som e me deparar com um avestruz. Interessantemente o avestruz corria de um lado do quintal para o outro, ao chegar a uma das pontas, pisava numa madeira de onde vinha o som. Era como se ele estivesse condicionado a ir de uma ponta a outra, da cerca à madeira. Eu avidamente observava, querendo descobrir o porquê desse percurso, nada o obriga a correr, pensei até que ele queria manter o condicionamento físico. Então, talvez envergonhado, ele parou depois de umas boas corridas e foi bicar algumas coisas na terra, mas deixou... Eis que retorna a correria de novo. Pára! Vai beber água num balde perto da parede que limita o espaço do muro. O espaço do avestruz é retangular, vai até a dimensão da horta, da qual é separado por uma cerca que continua o limite do quintal.
Começo a pensar sobre o avestruz que corre sem necessidade alguma. Eu lá vou saber as necessidades do avestruz, ainda mais ele que está fora do seu habitat, preso em uma cerca. Tive pena do avestruz, cheguei a sentir sua dor, mas nem por isso eu deixei de achá-lo feio, um feio e triste avestruz com espaço limitado por outros que não são seus iguais. O avestruz tem espaço insuficiente, por isso que ele corre de um lado para o outro, se fosse livre, talvez, correria sempre à frente ou em circulo, não importa. O avestruz não tem tempo, não se relaciona com outros avestruzes. O avestruz não é mais avestruz é uma coisa viva num mundo delimitado e dependente. Porém o avestruz resiste, mesmo não sendo avestruz, mesmo indo de um lado para outro, num espaço medido, em um lugar sem tempo, ele continua a correr. Ele resiste porque ainda se movimenta. Comprometeram a vida do avestruz, mas ele não tem compromisso com ele. Ele não tem seu próprio tempo e nem tempo a perder, a doar, a viver. Ele tem movimentos incompreensíveis para quem não é avestruz. Chegou a hora da aula, e lá vou eu doar meu tempo.
REAVF
E é nas nossas relações que se constrói a percepção de tempo e espaço. Não é verdade? Mas nessas relações sentimos o tempo e o espaço diferentemente. É o que nos diferencia ou diferencia um grupo de todos. A sensibilidade cega, surda e imperceptível por sensações motoras, a afetabilidade de cada um que não nos deixar ser igual, por mais parecidos que possamos ser – ainda bem. Como cada coisa se inscreve em nossa alma e ativa nossos desejos, a métrica é incapaz de medir a subjetividade humana. E talvez, por meios que desconheço, lidamos diferentemente, cada um, com a metragem da vida. “Temos nosso próprio tempo” e temos tempo a perder, a doar, a viver.
Todo sábado, por responsabilidade adquirida tenho que dar aula de história a um grupo de jovens. Um compromisso inevitável para com os outros, do qual emerge uma responsabilidade angustiante, porque quando menos percebo o sábado já estar por vim, sem eu estar pronto. Mas no último sábado, tendo me preparado rapidamente, ansioso para chegar na hora e honrar compromisso pré-estabelecido, deparo com um inusitado tempo extra que acionou um bem estar sensorial. Sem saber o que fazer com este tempo, metricamente colocado em minhas mãos, eu esqueço por instantes todas as coisas do mundo e passo por um estágio de sinergia total.
Esse meu espaço de trabalho se constitui num formado de uma casa: com área, sala, cozinha, quartos (salas)... é no andar de cima que me encontro. Por trás da casa tem um quintal, ao lado uma horta. Pessoas andam entre as salas, na sala principal, a de aula, ocorre uma sonolenta aula de português. Eu me disperso, vou para a parte da casa onde eu possa ver o quintal, não sei o que pensava até escutar um som e me deparar com um avestruz. Interessantemente o avestruz corria de um lado do quintal para o outro, ao chegar a uma das pontas, pisava numa madeira de onde vinha o som. Era como se ele estivesse condicionado a ir de uma ponta a outra, da cerca à madeira. Eu avidamente observava, querendo descobrir o porquê desse percurso, nada o obriga a correr, pensei até que ele queria manter o condicionamento físico. Então, talvez envergonhado, ele parou depois de umas boas corridas e foi bicar algumas coisas na terra, mas deixou... Eis que retorna a correria de novo. Pára! Vai beber água num balde perto da parede que limita o espaço do muro. O espaço do avestruz é retangular, vai até a dimensão da horta, da qual é separado por uma cerca que continua o limite do quintal.
Começo a pensar sobre o avestruz que corre sem necessidade alguma. Eu lá vou saber as necessidades do avestruz, ainda mais ele que está fora do seu habitat, preso em uma cerca. Tive pena do avestruz, cheguei a sentir sua dor, mas nem por isso eu deixei de achá-lo feio, um feio e triste avestruz com espaço limitado por outros que não são seus iguais. O avestruz tem espaço insuficiente, por isso que ele corre de um lado para o outro, se fosse livre, talvez, correria sempre à frente ou em circulo, não importa. O avestruz não tem tempo, não se relaciona com outros avestruzes. O avestruz não é mais avestruz é uma coisa viva num mundo delimitado e dependente. Porém o avestruz resiste, mesmo não sendo avestruz, mesmo indo de um lado para outro, num espaço medido, em um lugar sem tempo, ele continua a correr. Ele resiste porque ainda se movimenta. Comprometeram a vida do avestruz, mas ele não tem compromisso com ele. Ele não tem seu próprio tempo e nem tempo a perder, a doar, a viver. Ele tem movimentos incompreensíveis para quem não é avestruz. Chegou a hora da aula, e lá vou eu doar meu tempo.
REAVF
domingo, 4 de maio de 2008
A viagem (Homeagem aos amigos da História)
Estou de volta ao meu recanto. Meus olhos levam um certo tempo para reconhecer o ambiente, antes tão familiar. Está tudo em seu respectivo lugar, numa perfeita desordem que figura um caos organizado. Penso em desfazer as malas mas minha mente recusa-se a dissipar as lembranças da viagem, e por segundos penso como seria bom não ter voltado. Um desejo ébrio de tornar indestrutíveis os momentos vividos estanca minhas reações perante o retorno a uma vida insossa. Mas, sabendo que por bem ou por mal algumas coisas desvanecem, ainda tenho o consolo das conquistas que não podem ser invalidadas, os lugares que agora também estão em mim, os novos velhos amigos, que tanto me surpreenderam, que astutos ladrões invadiram minha vida, sem nenhuma sutileza, sem qualquer aviso, entraram e já fizeram morada, rendendo-me e obrigando meu coração a desejar que jamais partam, que nunca, em hipótese alguma, se arribem para longe de mim.
Meu corpo está de volta mas , inegavelmente, minha alma lá ficou, estimando as eternas madrugadas entre batuques e palpites, e para alguns, entre o Papa e Cuba, ou melhor, entre o Ceará e a Bahia no meio da Paraíba, entre canções e gargalhadas. E hoje, entre o real e a utopia. Momentos que jamais poderão desaparecer de nossas vidas, e digo “nossas” porque agora sinto como se não fosse um só, sinto-me parte de algo, de alguns, como numa simbiose, e fico feito criança que tem medo do fim do mundo, suplicando chorosa a piedade de Deus, num medo terrível da dissolução do meu mais novo e extraordinário tesouro.
A vontade que fica é de guardar tudo numa caixinha de camafeu para que nada se perca no tempo, mas as coisas herméticas dificilmente perduram, morrem lentamente, murcham e perdem a maior magia permitida ao ser humano: A Liberdade. Liberdade de ser, de fazer, de falar, de pensar, de amar. E quem irá julgar nossa libertinagem, nossa voracidade de viver, nossa total entrega ao fascínio que a vida exerce? Quem irá censurar nossa capacidade de pensar sem escravizar, de falar sem precisar que haja nexo? Somente quem não viveu, quem não amou, quem a alma já morreu...
Meu corpo está de volta mas , inegavelmente, minha alma lá ficou, estimando as eternas madrugadas entre batuques e palpites, e para alguns, entre o Papa e Cuba, ou melhor, entre o Ceará e a Bahia no meio da Paraíba, entre canções e gargalhadas. E hoje, entre o real e a utopia. Momentos que jamais poderão desaparecer de nossas vidas, e digo “nossas” porque agora sinto como se não fosse um só, sinto-me parte de algo, de alguns, como numa simbiose, e fico feito criança que tem medo do fim do mundo, suplicando chorosa a piedade de Deus, num medo terrível da dissolução do meu mais novo e extraordinário tesouro.
A vontade que fica é de guardar tudo numa caixinha de camafeu para que nada se perca no tempo, mas as coisas herméticas dificilmente perduram, morrem lentamente, murcham e perdem a maior magia permitida ao ser humano: A Liberdade. Liberdade de ser, de fazer, de falar, de pensar, de amar. E quem irá julgar nossa libertinagem, nossa voracidade de viver, nossa total entrega ao fascínio que a vida exerce? Quem irá censurar nossa capacidade de pensar sem escravizar, de falar sem precisar que haja nexo? Somente quem não viveu, quem não amou, quem a alma já morreu...
Cismas de um crepúsculo
O fim da tarde aproxima-se suavemente, ignorando a rotina confusa e apressada da metrópole. A chuva repentina roubou do crepúsculo seus matizes tradicionais, e se as cores fogem da avidez dos olhos perdidos, a alma deleita-se com o clima que parece nos envolver num terno abraço. Especialmente hoje o dia assemelha-se a um antigo filme de Chaplin e a fuga das cores nos joga numa deliciosa analepse sem fim. É na debilidade incolor das horas que o espírito pratica o exercício fátuo da observação. Um olhar triste de alguém que busca algo que definitivamente não está presente, um sorriso delator de um apaixonado que percorre com os olhos a amada ou simplesmente um semblante que no franzir das linhas da face transmite a preocupação corriqueira. Um olhar, um sorriso, uma fisionomia, cada um com sua singularidade, denunciam a universalidade dos sentimentos.
Particularmente, tenho a impressão que somos um bando de pretensiosos que busca desesperadamente a elucidação dos mistérios da vida, numa investigação vã e egoísta. Fazemos perguntas que nem sempre têm respostas. Por que amamos uma pessoa e não outra? Por que alguns crêem em algo superior e outros não? Quem somos nós na realidade? Para onde devemos ou podemos ir? Estamos sempre procurando um motivo, uma razão, uma resposta que nos afaste de uma sombria nulidade existencial. Essa perseguição insana pela verdade absoluta ceifa nossa capacidade de perceber o relevante, notar os detalhes que compõem esse longo caminho o qual chamamos vida. Quando nos damos conta de quão preciosas são as minúcias é tarde para voltar, tarde para consertar erros ou tomar decisões mais coerentes. O tempo é um senhor pontual e impaciente, não espera por nada nem ninguém.
Deixemos de lado então a melancolia dos arrependidos que ou ficaram presos ao passado e sua armadilhas mnemônicas ou perscrutam o futuro com surdos estetoscópios. Permitamos-nos amar, crer, ir ou ser sem restrições, sem amarras científicas. Deixemos acontecer à unidade de ser. E as questões sobre os mistérios da vida? Ah, elas que enlouqueçam a procura da verdade, essa vilã que nos furta a paz e a ventura. E enquanto isso a tarde passa peralta, indiferente à insanidade humana, esnobando a ignobilidade de quem não sabe passar sem fazer alarde.
P_L_B
Particularmente, tenho a impressão que somos um bando de pretensiosos que busca desesperadamente a elucidação dos mistérios da vida, numa investigação vã e egoísta. Fazemos perguntas que nem sempre têm respostas. Por que amamos uma pessoa e não outra? Por que alguns crêem em algo superior e outros não? Quem somos nós na realidade? Para onde devemos ou podemos ir? Estamos sempre procurando um motivo, uma razão, uma resposta que nos afaste de uma sombria nulidade existencial. Essa perseguição insana pela verdade absoluta ceifa nossa capacidade de perceber o relevante, notar os detalhes que compõem esse longo caminho o qual chamamos vida. Quando nos damos conta de quão preciosas são as minúcias é tarde para voltar, tarde para consertar erros ou tomar decisões mais coerentes. O tempo é um senhor pontual e impaciente, não espera por nada nem ninguém.
Deixemos de lado então a melancolia dos arrependidos que ou ficaram presos ao passado e sua armadilhas mnemônicas ou perscrutam o futuro com surdos estetoscópios. Permitamos-nos amar, crer, ir ou ser sem restrições, sem amarras científicas. Deixemos acontecer à unidade de ser. E as questões sobre os mistérios da vida? Ah, elas que enlouqueçam a procura da verdade, essa vilã que nos furta a paz e a ventura. E enquanto isso a tarde passa peralta, indiferente à insanidade humana, esnobando a ignobilidade de quem não sabe passar sem fazer alarde.
P_L_B
sexta-feira, 2 de maio de 2008
Por acaso nossos casos serão casos em transformação.
Não tem como serem válidos os ERROS desconhecidos, e é pensando sobre eles que floresce uma idéia: a ignorância está nos olhos do avaliador; do juiz lânguido por sangue.
Se escrevermos ansiosos por preencher nossas almas;
Se nossa fragilidade nos move e cria da antropofagia da dor a beleza do existir
Esse meu verso novo, por mais bobo, não contem erro algum.
Perdoe-me este diagrama incorreto, o qual a certeza do certo é cuspida no devir.
Se em todas as palavras fluem sangue,
Se as frases são inervadas de sentimentos,
Se os textos são vidas a nascer;
Sejam bem vindos que entender não é preciso se conseguimos sentir.
Não serão vírgulas que causaram a morte de uma criação.
- Me causa embrulhos os críticos, que nada produzem, reproduzirem críticas furtadas de manuais.
Amigos, cuspam palavras mal ditas sem temer a recepção, pois a sensação ainda está por vir.
Pretendo entalhar os outros na carne, nessa força viva, em um olhar cego começar a conhecer, circunstancialmente, até quando for preciso desconhecer.
REAVF
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Das dunas fiz um porto.
Diante de ti tremo e tenho tudo e remo tanto para não falar que minha rima fraca e cansada de repouso e de descanço de um trabalhador da p...