Com a boca cheia de silêncio
Eu queria lhe dar uma resposta e dizer assim, esse sou eu sem tipo. Porém sei que você me conhece e já me delimitou. Sou eu aquele tipo zero, camaleão que mente e suspira pra si, voltando a se proteger, sou essa máscara colorida, insólita e bestamente feliz. Sei... mas nem sou, pois já fui e agora não consigo transfundir meu sangue e nem aqui compartilhar minha vida com outro amor – falta amores em feiras, shopping e web, talvez. Falta interesse em eu querer ser, pois tudo está diferente e o exagero já não me convence. É como se eu, de um lugar distante, visse o mundo a girar. Não sou o sujeito que o coloca em movimento; eu ouço a engrenagem, sinto o vento e nada mais. Agora faço um esforço para refletir sobre mim, estou cansado disto e do que isto possa gerar, cansei do meu umbigo e de si mesmo engravidar. Prefiro olhar com os cinco sentidos a morena que passa a loira que se passa e você que acha que os textos são retratos dos autores teatrais. Sim, lembro-me bem, naquela análise de bar, você estava correta, eu não me mostro mais, não tenho nada a mostrar senão viagens amorosas do que não vivi. As minhas deixo cá quietas, guardadas a quem merecer. Mostrei-me demais, mulher. Nas conversas por aí, em vários botecos e rodas de violão, eu contava minha tragédia de amor e desilusões. Eu tive várias platéias que se solidarizavam e outras que caladas zombavam do meu estado patético de querer apenas atenção. Comigo não, prefiro a ação. Com meu sangue não quero mais ninguém alimentar. No entanto, vamos em frente, porque do passado levo a boca cheia de silêncio.
Comentários
minha boca segue cheia de silêncio, mas sorridente...
uma graça
preciso, adorei.