quinta-feira, 21 de maio de 2009

Balouço do tempo...

A gente vai tocando

Assim de leve, meio que à toa

A gente vai levando a embarcação

E o barco sempre tentando

No balouço da proa

Esquadrinhar a direção

Ateando fogo na alma

Aquecendo o esquecido

A gente segue assim

Bebendo aos goles a calma

Pro descanso merecido

Tecendo as frases do fim

Mas olhe pela janela...

É o vento que traz leveza

Penetra nos ossos o tempo

E deixa num rastro de vela

Um caminho de incerteza

Os olhos perdidos nas horas, dançando no firmamento...

terça-feira, 19 de maio de 2009

Poeta da Dores

Quis chorar demasiado,
e em todo pranto se deitou.
Quis amargo, amar errado
e em frente a dor se ajoelhou!

Na hora de rezar, se esbaldava!
Aos pés da amada e em choro só,
tanto grito e tanta farpa
e na garganta aquele nó.

Depois de tudo chorado,
e das dores curado,
caminhou bem apressado
a buscar um novo amor [dor?]
Quis voltar a ser do choro,
e da dor, poeta outra vez!
E gritar a ela em coro:
sou teu escravo denovo,
e agora de vez.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

De longe e algumas horas mais tarde.

O sol se põe de uma forma diferente por aqui...
Como se o dia não quisesse terminar e o sol dançasse, teimando em não deitar.
Na "hora dos anjos" é como se o tempo parasse, as nuvens congelassem por entre as muralhas verdes e o vento deslizasse silencioso por entre árvores e corpos.
Ao olhar para o horizonte, sinto como se observasse uma tela, uma bela obra de arte, daquelas que você admira na melhor galeria de arte que se possa conceber.
Pouco a pouco, as nuvens ficam rosadas, como se meu olhar atento deixasse-as envergonhadas; o azul da teia celestial torna-se alaranjado, como quem, desesperadamente, finge um alvorecer.
Espero uns minutos para ver se acredito que é realmente o pôr-do-sol, e não o nascer.
Finalmente, o teto da terra recobra sua tonalidade usual e desfaz a pintura milionária de um Portinari qualquer.
Resta alguns fior avermelhados, mas por poucos segundos...
A escuridão, enfim, chega. Deixa no pensamento uma nostalgia diurna
... As estrelas até brilham, a lua ilumina, imponente...
Mas o espetáculo do crepúsculo camponês guarda algo de misterioso, de esplendor, como se deixasse a mensagem que não demora e o dia volta.
Volta, imensidão de luz guerreira!

diário de vivências
Minas - janeiro/2009

O Amante sem alma.

Desculpa-me, se não consigo sentir o momento que se passa,
O tempo que se arrasta
No tempo que não és mais meu.


Sei que retornas sempre latente
Cravando os dentes na pele,
Trazendo-me palavras leves,
Deixando-me sempre contente
Com o amor que não é mais meu.


Traz-me migalhas fartas de carinhos carnais.
Possuo cada qual como se não fosse possuir mais.
Tão servo e carente, aguardo sorridente o momento de te sentir.
Momento breve, numa tão longa espera na vontade de existir.

Eu me forjo em ti, um novo homem,
Do resto eu não sou mais;
Sem palavras, pensamentos nem paixão.

Um homem que nasce ao te ter
E morre ao te deixar;
Até que gritos ferinos venham despertar meu coração
– e o ciclo possa se repetir.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

"Minha alma tem o peso da luz.
Tem o peso da música.
Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita.
Tem o peso de uma lembrança.
Tem o peso de uma saudade.
Tem o peso de um olhar.
Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou.
Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."

------------------Clarice Lispector----------------------

terça-feira, 12 de maio de 2009

Se...

Se acaso fores embora,
não deixe que a vida lá fora,
arranque de ti o que é meu!
Mas faça da rua teu sonho,
inquieto de novas paixões,
e outros absurdos.

Se acaso me perderes de vista,
não tema a solidão, nem desista,
dos amores que podem nascer,
E sonhe na rua teu feito,
moço de todo desejo,
e outras confissões.

Se acaso porém, retornes pra mim,
nada faça! Não há o que se fazer.
das coisas que são de verdade,
a gente só sente saudade,
e se deixa nelas viver.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Se Tempo

Se o tempo pudesse levar.
Leve lá.
Feito absurdo.
Se os grãos pudesse colher,
Guardar;
Algo inseguro.
Se o tempo pudesse curar
Cura já;
Homem nulo.
Se o tempo pudesse calar,
Cala já,
Eu te escuto.
Se o tempo pudesse solver,
Liberar,
Eu te construo.
Se o tempo não fosse acabar,
Findar,
Eu continuo....


Se o tempo pudesse lavar na água suja;
Se o ar pudesse respirar algo puro;
Seria outro e vários no desuso...
Ah, se eu uso?
Como a esquadrilha da bolha no discurso?


Blá Blá Blár....

Se o ar anda um pouco impuro,
Os grãos obtusos,
E eu ando inseguro;
Fito o vazio na iminência das palavras.
Cada qual por um fio,
A Telegrafar gotas de lágrimas - vagas, vagas....

Já se o tempo fosse tempo de se,
Eu te asseguro que seria assim:
Se e tempo pro fim;

E tudo acabaria em nada.


Nada?

Eu gosto dos que tem fome.

Fera, que te quero bela.
Nessa luta, quem ganha é a força, a voracidade, a fome brutal.
A fera deseja a beleza não por inveja, não só por fome...
Mas o impestuoso desejo que a beleza desperta nos toma a carne e nos aflora a selvageria que, de quando em quando, nos apetece.
Esse ímpeto de doce maldade espeta a pele inteira, saliva a boca, aguça o faro.
A fera se liberta em segundos, dominada pela dura realidade da natureza, que foi bela inicialmente, e agora procura a beleza cuidadosamente, tentando resgatar sua face inicial.
Esse sentido aguçado de tudo, essa necessidade de sugar uma essência, esse apelo de beija-me flor acomete os mais atentos e menos despreocupados; os atingem fatalmente, mas o libertam de uma jaula cruel.
E como há de ser meio a meio? Como hei de equilibrar forças tão antagônicas e tão compatíveis?
Não consigo por quê sei de qual lado a vida escorre mais viva.
A beleza sempre tão segura de si, tão imponente, tão bem acomodade no seu pedestal; a fera enjaulada, louca, desvairada, assustando quem passa, quem cruza com ela a calçada.
Nessa gangorra de inúmeros altos e baixos, nesses embates, a gente sabe quem ganha.
A fome traz consigo uma força imbatível, uma inevitável vitória. Não uma força animalesca, mas a mais feroz das existentes: a demonstração da fraqueza.
Cara a cara com a bela, a Fera desmorona e se desmonta; assume seu desejo, admite sua vontade e larga mão de suas amarras. Voa em cima e não deixa nem um osso.

Dos meus, aguardo o salto enquanto desejo: Bela, que te quero fera!

sábado, 9 de maio de 2009

Quadro de Verão

Assobios ao por do sol,
Coqueiros a bailar na areia branca;
E os sons que vinham do mar,

Re-chiados de prazer,
seguiam...
Como era de ser,

O compasso das ondas.
Eles, em instantes, ficavam suspensos
Numa sintonia precária,
Cambaleando sentimentos
E trocando coisas raras.
Das várias formas de dizer amor:
Eis o desejo.
Já iam arrebatados nas areias,
Entre marinheiros e sereias
Numa sintonia fina, trocando beijo.
Seria maravilhoso morrer no mar,

Amar,
Entre coqueiros.

Falando ao vazio.

Quantas palavras são necessárias?
Palavras...
Blá Blá Blá
São necessárias.
Quantas?
Para eu não falar!

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Sa jeunesse

Acordei com o sol na minha cara, olhei o relógio, oito e meia da manhã. Apesar de ser muito cedo, pra quem acorda sempre depois das dez, levantei. Fui até a janela degustar o cigarro, sentindo o calor penetrar na pele me surpreendi feliz numa manhã de sol. Enquanto observava a fumaça desaparecer, minha cabeça reproduzia a música de Charles Aznavour, Sa Jeunesse. Essa música me lembra Joana e tudo que já conversamos sobre a vida, todos nós deveríamos ouvi-la, tanto Joana como a música.

Acordei bem melhor, já pensando em botar a cara no mundo, sair do inferno astral que eu mesma criei. Ela tem razão, como sempre, quando diz que as coisas não são tão ruins assim, o diabo não é tão feio como pintam. Hoje eu acordei com a consciência de que não posso me punir por ser quem sou, mesmo que pra isso tenha que pagar um preço alto.

Ainda não me acostumei por completo a ser assim, livre, e por isso peco vezes por excesso, outras por omissão. O que não posso é continuar unindo liberdade e transgressão, não quando as duas juntas causam dor a alguém e se causarem que esse alguém seja eu. Eu estou mais do que familiarizada com meus fantasmas e com ele me entendo muito bem.

Sei de minhas limitações, conheço meus pontos fracos, se às vezes insisto, entendam, é por saber que a vida é curta, é porque descobri que é efêmero esse nosso viver.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

E a Terra parou


Na hora em que o relógio parar
Não haverá um só fio que se mecha
Nem que se queira,
Que se goste.


Os pingos da chuva parecerão
Cristais suspensos
Em um teto insólito
Numa infinidade de azul.


Na hora em que a luz dos olhos se encontrarem
Nada mais existirá em movimento
E o amigo vento desenhará
seu rosto eternamente em minha memória.

Não me leve a mal, me leve à toa!

Não me entenda mal... eu sei exatamente o que você quer dizer com “saiba aproveitar a vida”. Sempre que meu corpo grita liberdade eu me atrapalho e acabo pondo os pés pelas mãos, é sempre assim. Eu sei que é questão de prática, mas não sei que quero pagar pra ver. Dessa vez não foi diferente, eu fui ao limite de mim e olha só... deu tudo errado. Acabei ferindo, sem querer mesmo, eu juro, acabei sangrando.

Agora eu tenho que esperar a bomba explodir. Num só olhar, que concentrou um agudo desdém, eu senti um sabor amargo, eu tive a certeza que ainda vou pagar muito caro pelo meu deslize. Aquele olhar me disse: Prepare-se, a vida não vai ser complacente com você. É meu bem, eu ainda vou chorar muito, não tem remédio no mundo que me faça duvidar disso.

Você lembra no começo? Eu pedia pra perder o controle porque eu controlava tudo, acho que deixei as coisas irem longe demais. Eu não tenho seu talento pra lidar com as conseqüências, eu não quero que as conseqüências sejam estas. Eu já senti na pele, quando a faca entra sai rasgando a carne até que a gente não sinta mais dor. Eu me permiti demais, acho que acabei suprimindo o super ego, ou um desses troços de que Freud falava.

Ainda acredito que posso sorver da vida cada gole, cada sopro, cada esquina. Preciso apenas descobrir um jeito de não ferir, de não sentir nesse sorver um gosto tão amargo assim. Hoje eu sou uma mistura de elementos perigosos, então não estranhe se eu for do riso ao choro dentro de minutos... Eu preciso me olhar de fora, achar o eixo que quebrei, ligar os pontos que arrebentei, preciso dar um tempo... não me espere naquela mesa, eu estarei ocupada me procurando por aí...

segunda-feira, 4 de maio de 2009

O Produto.

“Vou me desprender de mim. Um exercício um pouco inseguro, pois eu posso gostar. Vejamos... Concentração... Um passo de cada vez, leve alma a flutuar.”
- kkkkkkkk... Você não está brincando de roleta russa? Ou estar?
- Não, na verdade eu não costumo brincar. Sabe, na minha idade, as coisas são tão sérias que a própria imaginação pode causar algum prejuízo. Por isso, eu tenho que sair de mim um pouco. E como outro poder viver novas experiências que já não sou capaz.
- Conversa. – Com um tom sarcástico perfilando a boca.
- Sim. Eu perdi uma certa inocência, uma certa brandura. Tudo é um teatro ou circo e a realidade é o que a maioria passa a acreditar. – Um ar de desilusão preenchia aquelas palavras.
- Coisa mais batida! Não vamos entrar aqui nesse papo de ilusão. Eu quero o produto. Chegou o momento. Podemos mudar agora o que era destruição.
- Meu amigo, eu só posso lhe entregar em pequenas gotas. Temo que, tomando todo, seu corpo não venha a suportar. Nada de súbito é verdadeiro ou perdura, não seriam lentas as transformações?
- Você é um covarde! Nunca irá vencer. Quero agora. Agora é o momento.
- Teu corpo quebradiço não suportaria tão grande afeto. Dou-lhe em gotas, um pouco a cada dia. Assim, lhe darei minha vida.
“Ao retornar, sinto que fui consumido. Que ao sair, tiraram um pouco da minha seiva bruta, mas não conseguiram tirar o que paira em torno de mim.”

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Senta, toma um copo, à vontade...

Se a gente se encontra, espero haver tempo.
Vem, senta um momento
solta os cabelos, alarga o sorriso num dar-se sereno
Eleja palavras e espalhe-as ao vento
Se a gente se encontra, espero haver tato.
Vem, senta um pedaço.
afrouxa a calça, desata o cadarço
Com as mãos firmes, me mexa a carne, acalme o peito.
Se a gente se encontra, espero haver calma.
Vem, senta e desarma
Desfaça a trama, teça sem drama uma peça melhor
Me mostre em atos como não amar só.
Se a gente se encontra, espero encontrar.
Vem, senta e ensina como não levantar
sem, antes de tudo, tudo tentar.
Ensina à um leigo como se entregar.
Se a gente se encontra, por quê não?
Vem, senta e segura minha mão.... Ela treme, mas deveras sente.
Não pense que mentes, que o vício me prende.
Se costumeira, me fiz uma errante
no teu encontro me rendo amante, daquelas suaves, daquelas serenas, daquelas de encontro que fazem sentar.

Chuva Cristalina

Parecia mentira que a chuva fina caía.
Que eu a olhava da janela,
Um olhar de poeta

Que não se fazia acreditar.
Ela vinha mansa brisa cristalina,
Como os olhos daquela menina

Que um dia me fez amar.
Mas era chuva fina,
Cheiro de terra molhada,
Olhos distantes na estrada

Que me fez acreditar:
O inverno chegou!

Caminhando...

Ando por aí meio de lado
Olho enviesado a vida
Com seu vazio contido de ilusões felizes
E penso que aquele momento vivido,
Com seu vazio contido, é uma vida imensa na solidão perdida.
Quando é compartilhado faz mais sentido;
A tortuosidade do caminho se retrai na longa distância percorrida
E quando mais se refaz a vida se desfaz tristeza no jardim escondido.
Se for compartilhado é mais vivido.
Se for compartilhado podemos mudar
Sem nos apegarmos às grades de liberdade
Sem cairmos em algum (nenhum) lugar.
Ando, ainda ando em liberdade;
Lugar qualquer na vaidade de se pensar um lugar em existir.
Uma coisa íntima, meio esquizo
Uma linha de fuga surreal.
Um caminho de vários lados e de várias direções.
Escrita livre,
Versos ligeiros,
Um pouco pesado,
Outros maneiros.
Sem sinal.
Cada vez mais marcado, enviesado,
Me deixo preencho afetos de (em) outro alguém.
Caminhando.

Das dunas fiz um porto.

Diante de ti tremo e tenho tudo e remo tanto  para não falar que minha rima fraca e cansada de repouso e  de descanço de um trabalhador da p...