quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Puto



Como eu poderia dizer,
Se tu já disseste todas as palavras por mim.
Como eu poderia me calar,
Se ouvi de ti todos os silêncios.
Eufórica, jogas as palavras de amor,
Aquelas que com calma e carinho te dei.
Impetuosa, impiedosa, intolerável,
Gritas as dores que se sente só.
É como se fosse um diálogo mudo
E eu já surdo te ouço gritar.
- Puto! Seu filho de uma Puta,
Como tu podes fazer o que não se faz?
Sim, eu apenas te amei.
Foram esses teus gritos loucos
Essa tua insensatez que me fez passar.
Passei. Agora não estou mais.
Entretanto quero-te bem,
Eu quero que me deixe em paz.
Puto e só...

No aeroporto...

Havia prometido não chorar. Detestava despedidas, ainda mais aquela em que a família e os amigos estavam presentes. Na semana que precedeu a partida havia dedicado seu tempo livre a ele, queria aproveitar ao máximo sua companhia. Entrou no carro já aos prantos, desta vez não conseguiu manter a promessa. Olhava para os outros que o acompanhavam, eram rostos chorosos, pares de olhos vermelhos.

O amigo de todas as horas, jamais o abandonara durante anos de amizade, chorava discretamente enquanto dirigia. A melhor amiga, dos tempos de colégio, mantinha-se forte e evitava transparecer a tristeza que certamente sentia. Os irmãos estavam tristes mas otimistas de que a ausência seria breve e em pouco tempo estariam todos novamente reunidos no aeroporto para esperá-lo. O pai, o Guerreiro como era chamado pelo filho, não aprovava a idéia de uma distância prolongada mas, apesar de tudo, apoiava o filho que sempre fora tão dedicado. A mãe numa tristeza silenciosa, sabia que o filho levaria um pedaço do coração materno consigo.

Ela observava com carinho a dor dos demais. Apesar de intenso e sentido seu pranto era um tanto diferente. Saudade sim, muita saudade, mas o que mais lhe doía era não poder amá-lo da maneira que ele merecia. Era um homem que muitas mulheres procuram; íntegro, engraçado, gentil, carinhoso, romântico, compreensivo e intensamente apaixonado. Durante algum tempo não soube responder o porquê de não corresponder. Há pouco tempo descobriu que amava tanto sua liberdade que não suportava a idéia de perdê-la.

Com poucas pessoas conseguia sentir-se tão bem como quando estava com ele, sentia-se protegida e amada. Chorava com tanta intensidade que seu corpo estava cansado, os olhos ardiam, soluçava freneticamente. Doía-lhe o peito mas sabia que era preciso afastar-se, talvez com a distância ele pudesse esquecer esse amor. Doía-lhe tudo, não achava justa a vida, não era certo amar pessoas que sequer lhe tinham respeito e não poder amar a pessoa que faria qualquer coisa para lhe fazer feliz.

Saiu do aeroporto depois de ver o avião decolar, acende um cigarro e segue em frente, sabendo que não importa o quanto é amada, sua sina é amar silenciosamente, deixar longe as pessoas que a amam para que elas sejam felizes. Ela não gosta da solidão mas que jeito né? Ela segue só porque é assim que tem que ser...

domingo, 25 de janeiro de 2009

Vãos.

Saudade já passou
com o tempo me levou
De ti nada mais resta
e o meu peito só contesta
Reivindica a tua presença
não aguenta a tua ausência

De ti nada ficou
Até minha voz você levou
Foste embora de repente
como quem nada mais sente
como quem nunca sentiu...

Hoje em dia a bebida me acompanha
o cigarro é minha rotina
e há também quem diga
que eu estou morrendo aos poucos
me acabando aos goles
me esvaindo aos tragos...
Mas que bobagem essa gente anda falando?

Há muito já morri...
Só agora me enterrando no copos em que te vi,
no corpos que te senti,
nas noites que te perdi.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Entitule-se só.

Um samba de Tom,
meio que sem tom,
só me faz lembrar,
que você é mar,
que eu não sei rimar,
que sorrir é só,
não se sentir só!

Que um poema de Drummond,
um vôo de dumont,
a mim me desmonta todo,
a mim que não vôo,
que nem sou poeta.

E por fim, a mim que sou rouco,
que canto, mas que canto pouco,
me resta não só o consolo,
me resta bem mais que a alegria,
de saber que apesar da boemia,
nada é deixado pra traz,
e nada é tão eficaz,
que um sorriso teu,
pra tornar esse pobre rei,
o mais rico plebeu.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Marasmiando

Um sopro no ouvido
Um uivo contido
Uma sede
Um calor.
É noite
É verão
Chuva quente
Pés no chão
Águas nas mãos
Um desejo e suor.
Corpo imerso na carne
Ferida leve
Ferida suave
Sem dor
Nem prazer
Um homem
Um sexo
Insônia
Você.

De carnaval.

Ah sim! Como eu te quis naquela hora,
depois nem tanto, antes talvez!
Mas àquela hora, eu quis tanto que nem sei,
como eu não quisera outra coisa na vida,
e quis, e continuava querendo,
sem entender bem porque.

As marchinhas estavam animadas àquela altura,
os palhaços já eram bêbados todos, no salão.
Feito pierrots, as bailarinas todas, rodavam,
feito columbinas, concubinas, nem sei
tanto que rodavam. E eu? Querendo.

Acho que nem me vias, sorrias muito
lançava todos os perfumes ao dançar,
daí, te quis tanto, que me veio aproximar,
rodando, sem-querer, e virou,
de serpente, serpentina, de repente,
como um repente, improvisado,
desavisado, meu grande amor.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Uma curta!

Já é carnaval no meu ano,
meu rumo já são as ruas,
cheias de latas e gentes,
gastas de tantas saudades,
e cheias de possíveis novos amores,
que só um novo carnaval pode trazer.

Uma saudade qualquer.

Relaxa, e vê se aguenta,
é só saudade sem tema.
Não tema! Não trema!
É a só sorte,
de quem pode tê-la.
Porque de quando em vez,
quando ela vem,
sem aviso prévio,
sem data marcada,
ou mesmo de vez,
em quando, enquanto
ela volta,
na hora certa,
do dia errado,
a vida respira, reage
e renasce, aliviada.

domingo, 11 de janeiro de 2009

De longe e 1h mais tarde.

[...] Sentada no batente da casinha de terra batida, eu tomo um café bem forte e fumo um cigarro de palha. Vejo guto correr pra lá e pra cá, solto, livre, todo sujo de lama e com um sorriso cansado no rosto, de quem brincou o dia inteiro e tá na hora de tomar banho, o gagau e dormir rodeado pelos mosquitos.
Ainda é dia, o sol tá baixando... Por detrás dos montes, se formam cores que eu nunca imaginaria existir. Eu fumo mais um pouco, tomo mais um gole, sorrio pro Guto que olha pra mim e também sorri. Penso por que toda criança não pode crescer daquela forma: livre.
Eu me levanto e vou chamar os outros dois meninos, que estão caçando passarinhos com seus estilingues. Tá na hora de tomar banho pra jantar. Ainda é dia, mas o relógio diz o contrário... Tá na hora de jantar.
Apago o cigarro, corro atrás deles, por que qualquer coisa é motivo de brincar... Corro, e eles correm em direção ao chuveiro.

Enquanto eles tomam banho, eu fumo outro cigarro - dessa vez um dos meus carltons.
Me vem um gosto ruim na boca, que ainda perdura, e que tento descobrir o que é...

No corpo inteiro vem uma dor, mas essa eu sei que é de saudade.
Besourinho, besourinho...
samba samba samba!

[...]


Diário de vivências.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Bons encontros, um bom amor.


Se não me engano, era a terceira noite do ano. Ou o quarto dia. O que importa é que estávamos todos à beira da piscina, recém conhecidos, conhecidos e curiosos querendo saber o quê estaria por vir. Ou mesmo, não nos encontrávamos mais em um meio físico, pairávamos interligados e estávamos lá por puro prazer, por sentir algo bom. Éramos tecidos de sensibilidades. Nossos olhos se encontravam à procura de uma reciprocidade curiosa, um aconchego fraternal. Na verdade, chegávamos a um ponto extasiante no qual a figura do outro se tornava um elo de uma rede de nós mesmos. Todas aquelas palavras, olhares, gestos jogados saiam do patamar do desconforto para o da sublimação. Estávamos interligados. O eu e o outro se fundiam no social. Naquele momento, éramos de uma mesma essência múltipla dissonante daqueles que não se encontravam ali: à beira da piscina, banhados pelo sol. Agora, imagino como tudo se tornou bom, um bom encontro.

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A questão é que toda uma discussão, uma análise, um diálogo perpassava a figura do desejo. Vimos a noite cair, dançar inebriada pelos corpos. Corpos cansados, vibrantes, jogados ao chão. “Vocês são dadinhos.”. Falava a Bailarina sem sal. A questão é que todos que resistiram até aquela manhã jogaram. E do jogo à teia das relações, firmava-se algo transcendente. Maravilhoso. Por instantes estávamos viciados em nós mesmos. Uns, talvez, se perguntavam como chegaram a tal ponto. Como sair então? A noite foi agradável, e se prolongava além do dia, das horas.

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Você chegou, no momento em que coloquei meus pés no chão. Estávamos lá com a noite incompleta. Sentíamos o que não se conseguia dizer, o que não se podia, as teias que não ligavam. Eu podia sentir um pouco a angústia por outros momentos, que nascia aos poucos em cada abstração. Deixávamos algo inaudito, embora perceptível. O sol coroava aquela noite com sua luz e com o dia. A noite resistia em não terminar. Você estava ali em meio a tudo, até sair todos. Era como se você ajudasse o dia a transformar, a estender aquela rede de relações. Restaríamos então só nós dois. Pairávamos, procurando um ao outro, despertando, ambos, para outro dia. Eu vinha do jogo, você retornava do sono. Ainda à procura; estávamos próximos. “Não desista meu bem, alcance as pontas de meus dedos.”. Dançávamos dentro dessa nova configuração: enquanto nós procurarmos, vamos nos amar.
_
Eu gosto de senti-la perto de mim. Você era o elo mais forte da rede, mesmo quando não estava presente. Ainda é meu conforto e prazer. Foi então que percebi que aquela noite, aquele dia e o ano que passou foi presente seu. Naqueles dias, você era meu ponto de partida e minha chegada. E todas as teias que traçasse me levariam a você. Eu me distraia com os bons encontros, evitava os maus. Eu lhe desejava em todos os percursos. Em todos os desenhos, em todos os quadros, em todas as vidas. Eu a encontrava. Isso acontecia porque nos procurávamos. Qual era o meu desejo senão você. Uma boa vida, um bom encontro. Um bom amor.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Pode ir...


Que o tempo deixe passar:
Os sabores que eu não senti
As magoas que criei
Os desamores que sonhei
Os vícios que não curti.
Eu sei que não posso amar:
Os silêncios que não ouvi
As palavras que não falei
Os anseios que não tive
O desejo que não segui.
Ainda, sei que posso ir.
Do choro que tu zombaste
Há lágrimas de rir.
Longe de ti, em algum lugar, eu devo ficar
Mas não doe, não.
Tenho que vagar
Tanto que parti de um lugar que nunca estive.
Saiba bem que, na lucidez do amor, "você" sempre esteve aqui.
Mas sei que não vi.
Sei o quê doeu
Sei o quê senti; naquela, gota, pura falta de amor
O amor de ti imaginar feliz.
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Que o tempo deixe passar,
Suave e calmo como o suor:
Os sabores que eu senti
As magoas que perdi
Os amores que sonhei
Os vícios que criei.
Eu sei que posso amar:
Os silêncios que ouvi
As palavras que falei
Os anseios que deixei
O desejo que reprimi.
Ainda, sei que posso ficar.
Do choro que tu zombaste
Por outros tantos eu sorri.
Perto de ti, em algum lugar, eu te afeto
Não doe, não, tenho que sangrar
Eu te afeto e já estou em ti
Sei do teu amor.
Eu te liberto.
Eu me faço amar
Naquela, gota, pura de suor
O corpo a transpirar, no ar.
Fluir... Disperso.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Brincando de rimar...

Não se deixe enganar pela meiguice de meu sorriso. Em lugar de pranto encontrará o riso. É que eu minto bem e minto pra você também meu bem. Não seja tolo de pensar que nada sei do que se passa em sua mente, eu bem sei que você também mente pra mim. Sou uma atriz e meu palco é qualquer lugar. Quando olhar o brilho em meus olhos não pense que é amor contido, é o fogo da cólera que jamais saberá do motivo.

Eu interpreto com altivez o papel que me deu, nem sabe o quanto posso fingir. Não esqueça meu bem, eu também sei mentir. Infelizmente quando voltar sorrindo aos meus braços não terá solícito o abraço, apenas um leve ruflar de asas a lhe acolher na chegada. Asas de quem vai partir, afinal você também soube mentir. Não queira que, como as outras tantas, eu desespere ao seu encalço. Nem toda fita, amor, perdura o laço.

Se não souber a razão de minha indiferença não importa, já não lhe tenho aberta a porta. E se por algum acaso rememorar velhos tempos, não me venha com querela. Já não pertence a mim seu choro, suas queixas são menos que pingo de vela. Tem muito o que aprender ainda menino, a estrada é longa, mas ensina a encontrar um destino. Eu cá, sigo em minha tortuosa retidão. Esperando um dia em que o mar vire sertão.

Das dunas fiz um porto.

Diante de ti tremo e tenho tudo e remo tanto  para não falar que minha rima fraca e cansada de repouso e  de descanço de um trabalhador da p...