Quando me (des)fiz poeta

 Eu queria me construir em poesia.

Ou me desfazer em versos.

De toda forma, a rigidez do ser me doía.

Filho de fulano, parente de sicrano...

História triste. Menino vadio?

Não.

Eu era magro, pescoço fino e cabeçudo... Por fora.

Nos meus 8 anos de existência, por dentro, eu era poesia. 

Nesta época...

Minha grande descoberta foi o verbo amar, na segunda série do fundamental, e eu logo escrevi:

"Eu te amo. Tu me amas. Eu te quero. Tu me queres. Nós nos queremos. Por que você não olha para mim?".

Ganhei uma caixa de lápis de cor como prêmio e, por consequência, me tornei poeta.

Eu estava livre de todas as amarras, pois no papel eu me desfazia e me refazia em poesia.

E o mundo, há o mundo, eu demorei umas poesias para poder entender toda a sua concretude.


(...)

Na vida, cheirei tantos versos que me fiz poeta.

Olhos esbugalhados e sempre alerta...

A espera de um grande amor.

Traguei de leve, fogo de palha

E tudo não passara de uma viagem, 

baixa pressão, uma sensação 

daquilo que passou...

Deixei rastros e espectros...

Uma dança desconexas de ser eu poeta...

E de ser amor e o meu amor quase me levou...

Chorei versos e me desfiz poeta...

E hoje espero o meu prêmio...

Uma caixa de lápis de cor.

(...) 
Eu poderia pintar o mundo com a caixa que ganhei.

Pintar! Já que não sei desenhar.

Pintar o sete...

Faltam desenhistas neste mundo que eu criei...

Eu acho que não falta, eu que não os aceito.

Eles querem delimitar a folha de papel,

Traçar retas.

E eu ando em curvas...

A caixa de lápis de cor só me serviu para poesia.

Já o meu grande amor não merece recordação.

Ela queria desenhar minha vida.

Conforme a dela, eu não pude pintar.







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