Uma nota só

 Quando passas diante de mim, tenho tanta raiva de ti que passo a achar que te amo. Tudo me incomoda. Olhar o teu jeito, os teus planos. Tua respiração profunda antes de me olhar e proferir palavras sem sentido.  Não há som, só há a vontade de te abraçar. E isso me incomoda. Existe um mundo quando bastaria o nosso abraço. Os teus traços e loucuras que eu teimo em perdoar. As minhas loucuras que temo esquecer. Te amar seria esquecer quem eu sou, sentir o gosto de mar ao alvorecer. É o tesão ao acordar e o gozo antes do café, não da manhã, do dia que anuncia a minha solidão. Te amar é contemplar as pinceladas do artista ao criar um quadro belo e distante. O cheiro da tinta inebria, seduz e compõe a paisagem de um azul da cor de amar. Amarelo sorriso de amor que se abateu em cada desilusão. Te amar não me deixa bobo, só deixa um lamento do si dó ré do meu coração, o qual eu não posso resetar. Na verdade, te amar é um abraço apertado onde todo o resto desaba sem nada poder nos atingir. Não há mais nenhuma palavra, nem outro ser, nem raiva. Uma única nota: só eu te amo. E assim seria se não fosse raiva o amor que eu não tenho.

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