Por coincidência, Jeri!
Esses dias ando pensando sobre as paixões e como ela nos leva a fazer aparentemente coisas sem sentido. Ainda mais após um grande amor perdido, do qual não queremos aceitar o luto.
Não falarei aqui do amor, da sua beleza e de como tudo é divino e maravilhoso. Porém, do acontecido, digo que ela ainda estava embebida por a ilusão romântica de um amor ideal que vivera.
Pois ele apareceu do nada em uma dessas viagens, que Sabrina fazia com as amigas, na qual o mundo se apresenta para ser explorado nos vários sabores das descobertas das vida. Ele era alguém encontrado no paraíso.
Imagine um encontro e os afetos gerados à beira mar regado de vinho, violão e poesia. E mais do que de repente ela se via musa em Jeri. "La Belle de Jour, a moça mais bonita de Jericoacoara.".
Foram dias eternos em um cenário de contos de fadas tropical, com maresia, drogas, sexo e com todas as ilusões da paixão, mas com data marcada para o fim.
Contudo ela sabia que guardaria aquilo para vida. Eles moravam em lugares diferentes mas havia a possibilidade de um reencontro em um paraíso qualquer. Ou no mesmo paraíso, Jeri!
E se foram mantendo contato e marcando reencontro com melosas frases de saudade.
Mal sabia ela que se fosse uma foto para o feed do Instagram aquele cenário seria o melhor, teria o melhor filtro no contexto das ilusões do perfeito.
Exagero, talvez, pois houveram outros vários bons encontros. Por meses, ele vinha à Fortaleza para vê-la e conhecer os paraísos desta terra e ela se ia ser feliz na ilha do amor.
Os percalços do cotidiano nem a beleza nunca os atingiam. Todos os encontros eram extraordinários. Eram mágicos.
De tão mágico que deixo aqui minha opinião: o amor se constrói no ordinário dia à dia do comum. Só há verdadeiro amor quando se suporta o peso dos dias com o outro. Das coisas boas às ruins. A vida não é feita de extraordinários... Se assim fosse o extraordinário seria um tedioso comum.
Por isso talvez as coisas entre eles foram esmorecendo após intensos meses e viagens. O extraordinário tornou-se comum e o encanto ficava cada vez mais distante. Pelo menos para um que já buscava viver levianamente novas paixões.
Ela percebeu a mudança na presença da ausência quando eles estavam juntos depois de muito tempo distante e assim, rasgando o peito, chegou a "um fim". Em término de relacionamento há vários finais. Saiba escolher o seu. Aquele seria o primeiro fim, para ela.
Não aceitar o fim nos leva a escolher novos começos que podem nos levar à finais mais dolorosos. Ele sumiu. Ela "aceitou" o fim mas também acreditava em um novo começo. Esperava só a oportunidade da magia voltar a acontecer.
Seguia em frente rememorando os sabores da paixão que vivia. O fim não havia tirado o sabor doce da boca. Enquanto isso, saía com as amigas, festa e fantasia era o que não faltava em Fortal city.
Alguns meses passaram, o sabor daquela paixão já se dissipava, estava tudo certo para aquele sábado à noite. Porém, maldita redes sociais digitais que nos faz lembrar o que não queremos esquecer. Ela encontrou a oportunidade, do possível recomeço, justamente em Jericoacoara.
Ela soube às 19h horas de sábado quando se arrumava para festa onde iria encontrar as amigas que sua paixão estaria a tocar violão na praça de Jeri. Seriam 5 horas de viagem para um possível reencontro ao acaso planejado pelo amor. Fazer uma surpresa teria um sabor irresistível.
Imagino que, para ela, existia uma sensação improvável que os encontros planejados teriam sido a causa do desencanto amoroso... ou ela só estava desesperada mesmo para ter aquele amor ideal concretizado naquele homem.
Conseguiu convencer uma amiga a ser sua fiel escudeira. Juliana não dispensaria uma aventura, mesmo que não entendesse o motivo de tal loucura. Pé na estrada até o paraíso! Juliana esperava diversão e pegação.
A viagem foi tranquila. Regada por conselhos amorosos, as duas trocavam experiências sobre viver e amar. E a conclusão era que se fosse por amor, enquanto houvesse corpo, tudo seria possível.
Chegaram à meia noite, melhor horário para curtir, não havia cansaso, só uma adrenalina que beirava à loucura. Não há melhor droga do que a paixão. E o barato foi frenético até o reencontro. Juliana estava pronta para seu objetivo. Sabrina, não.
O motivo do sabor doce estava alí em sua frente, para Sabrina todo o tempo e o lugar deixou de existir. Seus olhos, sua boca, sua voz e violão a enchia de euforia. Com educação, ele acenou, sem descer do palco, sem perder o tom. Apesar daquela sensação, eles não estavam sozinhos.
E algumas horas se passaram, Juliana se tocou que havia caído em uma cilada, faltava muitas coisas interessantes naquela praça, no entanto não conseguia tirar sua amiga dali. Para ela, tendo o mundo em Jeri, não havia mais corpo que aguentasse ficar em pé olhando aquele homem, sem graça, tocar e cantar.
Já a Sabrina, ainda restava a esperança de toda magia se repetir. Toda aquela aventura, todo aquele seu esforço poderia valer a pena. Com essa intenção, ela reencontrou o grupo de amigos de Sérgio, bebeu com eles... Mas Sérgio, tão perto, parecia inalcançável.
Depois de quase quatrocentos quilômetros, ele estava uns dois metros de distância, uns longínquos dois metros que comprovam que a distância física nunca será a barreira que separa os afetos. Ele estava em um papo gostoso com outro alguém assim como já tivera com ela.
E realmente estava, quando finalmente se falaram, ele de mãos dadas com outra se admirou da coincidência de ambos estarem alí novamente. Pronunciou algumas palavras sem sal e, depois das apresentações, uma despedida sem cheiro.
Ela veio ao chão, depois de pairar de uma louca fantasia romântica para uma realidade inverossímil. Este foi seu encontro com o fim e, aos poucos, o luto se abateu. Juliana percebeu e segurou sua mão, dispensou quem a agarrava, após trocas de contatos com um italiano, e passou a cuidar da amiga.
Posso dizer que, sem descanso, as duas se foram do paraíso pagando pelas dores da paixão. Uma por não ter contido a amiga, a outra por ter agido pela ilusão do reencontro perfeito, coincidentemente, em Jeri.
A volta foi algo parecido com um velório em meio à várias ressacas, dores de cabeça e vontade de vomitar: "como pude ser tão trouxa? Sem sentido, sem sentindo uma viagem de volta ao fim. Ainda um fim mais doloroso pra mim". Martelava a Sabrina em um rompante tardio de razão.
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