sexta-feira, 23 de março de 2018

Receita de desejo abafado.


Junte palavras mordazes à erros infantis,
Descasque um dente de dor e leve ao fogo.
Deixe queimar, torre as desculpas e esturrique a carne.
Insulte os ingredientes do perdão e os remexa bem.
Misture cascas de raiva e lembranças ruins
Refogue o medo e pique os sentimentos verdadeiros.
Sirva com um cálice de saudade e estará pronto.  
Agora é só engolir o choro.

quinta-feira, 22 de março de 2018

O vivo–morto


Essa noite eu não sonhei.
Ela estava comigo.
Mas, mesmo acordado,
eu sabia que parecia só um sonho
e que eu na verdade era só ...

Na madrugada,
por volta meia-noite
tinha cigarros,
tinha bebida,
e o silêncio
e a realidade em que me pus.

Como alma
Ando aparecendo fraco e faminto por ai
Acerto os passos que erro.
Que horas são?
Busco esconder minha dor.
Não esqueço o passado
e os amores que não foram.

O tempo da vida está em mim
e mesmo zumbi,
meu coração parece bater
no corpo de um vivo-morto,
dai, vou sendo um homem de trinta
e amando uma mesma mulher. 

sexta-feira, 16 de março de 2018

O morto-vivo.

Essa noite sonhei
que ela voltava p’ra mim.
Mas, mesmo dormindo,
eu sabia que era só um sonho
que se sonha só.

Acordei na madrugada,
eram por volta das quatro
não tinha cigarros,
não tinha bebida,
só o silêncio
e a realidade em que me pus.

Como alma-penada
ando fraco e sem fome
erro os sapatos dos pés,
Não sei que horas são.
busco não esconder minha dor.
Lembro o passado
e tantos amores que se foram.

O tempo da vida deu um tempo em mim
e sou agora um zumbi,
e como o morto vivo
na lira dos vinte anos:
“Acordei da ilusão, a sós morrendo”.

segunda-feira, 12 de março de 2018

Não me dê boa noite.

Uma lágrima pode ser um lar?
E um lá, é uma nota triste ou feliz?
Meio copo e o vinho barato acabou
Dois cigarros, e a fumaça no vento levou
consigo a folha da esperança
A incerta certeza agora chora sobre o papel
o lamento triste de quem fraquejou.
Deus conta e canta assim todo o sofrimento do homem
dia após dia, 
degustando a angústia das horas sem ti.  

Encontro incerto.


Sabe aquele brilho no olhar?
Um dia se perdeu por aí.
Disse, pois, que queria voltar,
Mas na era da tentativa.
Não conseguia passar.

Sabe aquela dor no peito.
Que tentou-se superar
e não deixar virar rancor.
Ela deu seu jeito de voltar.
Não conseguia sair.

Um dia, no mundo a passear
O brilho do encantamento encontrou a dor sozinha, a soluçar:
Ele quis perguntar o que ela tinha, o que passava...
Mas não teve coragem,
e cada um foi pra seu canto dormir.

quarta-feira, 7 de março de 2018

Na maré do mar da bela Ilha. .

A cada tímido eu te amo que tu me dás,
Surge um novo encantamento,
Resignado, como um louco
Desafiei a mim mesmo,
Acertar na tua chance,
Escolher o que engrandece,
Florescer o que murchou.

No mar do teu acolhimento desmedido,
De mulher plena de si, soberana de si,
Achei terreno novo para contemplar,
Ao teu corpo,
Ao teu olho,
Ao teu toque,
Espaçado de dedos,
No sorriso que quase fluiu natural.
Me achei angustiado
Pasmado, estilo alma-penada mesmo
Perdido no brilho do sentimento que era mágico.
Passado o trágico e adubado na tua graça,
o jardim no pós-temporal dos erros,
tenta ressurgir paciente,
e lento do tempo preciso, 
ver de novo a luz
e quiçá gerar novos frutos de amor. 

segunda-feira, 5 de março de 2018

Poesia e prosa de uma onomatopeia dramática de um ônibus batendo


“E vi que a vida mudou n’um segundo” dizia a canção do tempo
Morre-se um grande amor e serão dias de chorar.
Abrindo feridas, expondo dores e fraquezas.
Há também possibilidades de novos amores nascerem, n’um futuro quiçá,
Duvido, pois, que sublime seja como foi esse que cada dia vivi, a cada toque teu
Inigualáveis foram todos os beijos dela, e sinceras todas as suas palavras.
Entrega completa, total e reveladora de seus segredos e seus dias, sobre família e moral.
Desde cedo me contou dos amores do passado, do qual sempre fui enciumado, sim fui.
Acho que serei sempre ciumento dos romances que já teve, os de antes e dos que virão.
Hiato para as lágrimas.
A um novo qualquer que venha se anunciar um dia para ti, mas não, não ouso exclama-lo.

Ah, mas o fim do amor enfim ressuscita minha pouca poesia,
e aquele byronismo cotidiano repleto de morbidez se instá-la,
As rimas soam, são e saem fáceis,
azedas e viris como palavras imorais.
Elas não me definem, mas expuseram o erro e a fraqueza de minha mente. 

Achando eu um dia que era tudo um sonho lindo, e ainda sem saber que este estava em seu leito derradeiro de morte, ocorreu-me que todo sonho pode acabar. 
Daí um dia comum, como n’um caso comum
de trânsito, de pseudo transa, de coisa nenhuma,
a senhora sua morte veio e falou-me surrando ao ouvido:
- Antes d’eu ser a morte, sou também o amor e a vida, você brincou comigo. As consequências já estão acontecendo.

Não sei exatamente a quantos anos não rezava para aquilo que primeiro aprendi que era Deus. Conheci de estudar, vários outros deuses depois, e muitas deusas também, a grande mãe e todas as forças do bem e da luz. Hoje me acho rezando à todas, reivindicando uma ocasião de redenção. Me encontrei de mãos dadas, na tua ausência. Ouvindo o som da onomatopeia dramática do ônibus batendo, um tique-taque de um velho relógio em formato de coração, parando de amargura.

Das dunas fiz um porto.

Diante de ti tremo e tenho tudo e remo tanto  para não falar que minha rima fraca e cansada de repouso e  de descanço de um trabalhador da p...