A solidão da vida é um vento leve
que sopra nos cabelos da gente,
uma brisa rápida e fria, um galho
o nariz de um boneco de neve,
A solidão da casa é um redemoinho,
que gira a cabeça da gente,
como um leite morno de tarde,
um cigarro apagado no caminho,
A solidão do dia, é um domingo inteiro
que coça as costas da gente, direto
um espelho torto, o palhaço triste
um caminhar inquieto, diferente, sorrateiro,
A solidão é de todas as horas, a mais cruel
que arranca a gente de si mesmo,
e nos dá um pé na bunda
uma viola muda, ensimesmada, infiel.
A solidão é a praga, a peste, o cavaleiro do apocalipse
que invade o lar e derruba o muro das certezas,
a condição extrema da não convicção,
é a morte de perto, o esconder do sol, o eclipse.
A solidão é a sujeira debaixo dos panos, é a não poesia,
que não expressa, não rima, não letra,
é o pecado sem graça, a estrutura sombria,
é a falta do divino, e de si em si mesmo, a heresia.