sexta-feira, 20 de abril de 2012

1ª Carta ao eu.

Sabe quando ternura é raro,
e o comum é o erro:
o desvio superior do ser,
onde a desarmonia reina impiedosa,
e o senão é o total.
É quando o copo está sempre meio vazio,
e a vida segue rumando incomodada...
Espetada em carne viva,
aguda feito linha costurando.
Tecendo coisas do dia-a-dia,
nos bares dos mestres,
nos goles da solidão,
como diria outrora o poeta esquecido,
entre tensões epistemológicas e traição social,
terrenos inexplorados de uma rotina casual,
eternamente cotidiana.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Argh!

Me sinto cheia de nada
Nadando num tudo que eu não entendo
Se corro ou fico parada
Nem de longe alcanço o que pretendo
Se brava perco a coerência
Se mansa perco minha essência
Se mordo é brutalidade
Se assopro é condescendência
No caos dessa realidade
Eu grito e calo numa só tacada
Tentando uma boa saída
Não mato meio coelho com uma cajadada
Tropeço no meio da lida
E volto pro nada... pro começo
Daí me pergunto: Será que mereço?

Sem a cadência do samba não posso ficar

Já dizia Vinícius: “Mas pra fazer um samba com beleza/ É preciso um bocado de tristeza”. Então era isso que faltava... Um bocadinho de tristeza. A gente vai seguindo assim nessa pressa de tudo e quando pára sente e sente fundo essa pontada. Você sente? Pois é, mas só se sente quando se pára, quando se freia. Aí vem tudo... tudo que falta, e tava faltando faz tempo e você nem notou porque a correria dos coletivos, a buzina dos carros, a fumaça das ruas te adormecem os sentidos, te amortecem as pancadas surdas da vida.

Mas aí basta um segundo, aquele segundo em que você percebe que o mundo ao seu redor parou e você sente que tem alguma coisa que não está no lugar que deveria, você sente o seu próprio deslocamento e vê que mesmo você não está onde deveria. E fica tão pior quando seu porto também foi deslocado, quando o peito onde você encosta a cabeça pra fugir dessa sujeira do mundo não está ali.

Porque é preciso um porto, um peito, um descanso, um pouquinho de saúde. Mas como ter isso se só você percebe, se você sente? Se é só pra você que faz falta. Aí fica ainda maior o vazio, fica oco, fica o vácuo. E você lá parado enquanto ninguém parou, ninguém sentiu, ninguém notou.

E o que você faz? Fala? Não, melhor não vai, deixa isso quieto, a gente não vai brigar por besteira. Você chora? Ah não né?! Não faz drama, você deve estar louco, que bobagem, engole esse choro. E aí? Faz o quê com isso? Isso o quê? Mas do que você tá falando? Não tem nada! É tem razão, deve ser coisa da minha cabeça...

Eu digo o que você faz: é melhor tapar o buraco com outra coisa porque não vai adiantar, eles não vão perceber, não vão entender. Já te disse. É só você que sente, a falta é toda sua. O buraco é seu, cava mais fundo ou tapa... Tapa ou pelo menos tenta... Com o tempo passa, você acaba esquecendo que ele existe, a vida te entorpece de novo, a maldita rotina.

E haja samba pra tapar, são pás e mais pás de Vinícius, Tom, Chico, Toquinho, João, Noel... Porque o bom samba é uma forma de oração...

“Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não”

Das dunas fiz um porto.

Diante de ti tremo e tenho tudo e remo tanto  para não falar que minha rima fraca e cansada de repouso e  de descanço de um trabalhador da p...