A noite, a rua e a solidão
Nessa madrugada, embebida mais uma vez na insônia, parei pra observar minha rua. Notei que as pedras estão muito mais gastas do que quando era menina, ou talvez nos caminhos que escolhi, depois de adulta, as pedras cortem mais intensamente. Senti o peito apertar e percebi que finalmente era hora de voltar a escrever.
À noite tudo parece transformado, como se a solidão se escondesse durante o dia esperando o frio e o breu para surgir. A solidão também transforma as coisas. Deixa o samba mais pulsante, deixa a pena mais cortante e deixa o voo mais leve porém não menos denso.
Quando era menina as pedras de minha rua costumavam machucar a cada tombo de bicicleta, a cada queda brincando de pegar. Hoje sinto saudade daquelas dores, daqueles machucados. Depois de tanto tempo percebi que os caminhos que escolhi tem muito mais arestas e que os tombos e quedas doem de maneira mais profunda.
Reparando agora minha rua parece nem ter pedras, parece ser um caminho de nuvem, coisa boba de criança. É que quando vem a noite a gente percebe a vida, a que a gente viveu sem escolher e a que a gente quis mas sem poder. E agora que a solidão bateu com força é aqui o meu refúgio, na varanda de casa, na alta madrugada. Eu, a noite, a rua e a solidão.
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Bons ventos
um dia, a melancolia tomou conta de mim.
um dia, a melancolia tomou conta de mim.
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