terça-feira, 22 de novembro de 2016

Dois Animais

Agora vias com calma a velocidade do ímpeto:
De um “logo querer” ele se alimentava...
Não esperava nada pois além disso,
Apenas ia faminto farta-se dela,
Alimentar-se do que podia,
Comendo cada migalha da sua atenção
Como se fosse um pão derradeiro,
Mas não era.
Certo:  ele ia rápido com quem fugia
Mas não porque tinha pressa,
Ou ainda porque queria, ou não queria
Ele só ia, rápido, somente ia...
E nesse passo apressado talvez perdia
O encanto das ausências,
As belezas da distância,
A virtude das demoras...
Era teimoso, tomava suas chances,
Acostumou--se correr os riscos do exagero, tolo.
Ah mas se ela soubesse pasmada,
Das montanhas de ausências que sentira,
Das demoras infindas por que passara,
As noites, cem noites que ermou,
Talvez ela visse em sentido contrário,
Toda essa pressa de viver,
E quem sabe até achasse lento seu passo,  
Que ele seguia demasiado arrastado,
- Quase pausado: reiterou!
Já que ela também sabia
Quão são longínquas,
As estradas do encontro,
As curvas de encantamento que permitimos ou não transpassar ...
Para saber o que tem lá do outro lado.

domingo, 20 de novembro de 2016

Enfim

Enfim uma palavra que não está sendo escrita fincada na tristeza, embora ainda passeie pela ausência e caminhe pela saudade.
Enfim um rabisco desenhado no novo, no que pode há de vir, mas mesmo que talvez não venha, ensaia e anseia passos e caminhos diferentes.
Enfim uma lágrima que não é só de dor, que é também sonho e superação, ação separada, esguios encontros, luz acesa, prantos salgados.
Enfim a poesia que não rima direito, que não muda o tom, e que muda, emula um som, ficando a letra nua, descortinada, aberta, quase ensaiada.
Enfim encontramos ao fim da história, o instante mesmo em que cessam as lacunas, aquele aceno derradeiro que não veio, o adeus que não foi dito.
Enfim chegamos ao início da história, o instante se fazendo, aquele beijo prático, descobridor, aquele não saber do outro, aquele recuo, a rapidez.
Enfim cobrimos mundos inteiros, com passos lentos, quase bêbados, cheirados, ritmos de baile, andando a pé por nossos caminhos secretos.
Enfim achamos angústias sendo esquecidas, e problemas no horizonte, no agitado mar dos encontros, encantos de afogar-se.
Enfim vivemos um sonho, tão indizível e indolor, que na falta de qualquer lamento, o acaso aparece emprestando-se do tempo do improvável.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

18

Dia 18 de um mês qualquer de um tempo futuro, acordo mais uma vez com a obrigação de ir trabalhar. 18 minutos para 6h00 o alarme do celular toca, minha cabeça dói, pesa, e meus olhos não abrem.

São 18 minutos de trânsito para 3 quilómetros percorridos. São 18 minutos de notícias falsas que ouço pelo rádio enquanto dirijo. Eu chego, quase sempre, 18 minutos, atrasado.

Na sala em que trabalho, convivo forçadamente com 10 pessoas, são 8 horas por dia escutando o que não me diz respeito, o que não me interessa, o que eu não quero saber.

Escutar é algo valioso, bons ouvintes são promovidos, principalmente os que demonstram interesse pelo assunto exposto. Isso por que ninguém mais quer ouvir as paranoias do outro. São 18 reis por minuto. É o preço da atenção. 

Ninguém sabe exatamente quando as pessoas ficaram tão repetitivas, como se houvesse uma consciência coletiva, com as mesma informações. Falam sempre as mesmas coisas: a perda do eu, o clima, o fim das quatro estações. 

Na verdade, todos temos as mesmas fontes, o mesmo padrão... Faz 18 dias que estou neste emprego, tempo demais,  tenho que pedir demissão.

18 pessoas acabaram de escrever o mesmo que eu. 18 pessoas gostaram, 18 não gostaram, e todo o resto eu não sei. Infelizmente, tudo que escrevo em minha consciência é compartilhado. Peço perdão. 

Das dunas fiz um porto.

Diante de ti tremo e tenho tudo e remo tanto  para não falar que minha rima fraca e cansada de repouso e  de descanço de um trabalhador da p...