domingo, 29 de maio de 2011

Vir-a-ser amor

Ninguém morre de amor nem passa a vida em prantos, ao levarmos a risada nervosa até o último instante, até o reclame do corpo, a lágrima torna-se ação, canção e poesia. Sem isso, não temos como seguir e viver o êxtase das descobertas, pois no amor ninguém ensina, só aprende. Num mosaico de sentimentos fazemos amor (o amor). Feito crianças montamos um quebra cabeça, brincamos, no recreio, de felicidade. Tudo misturado com o prazer. Mas se acharmos que encontramos a fórmula certa, tudo fica regrado, nos limitamos, ficamos fraco. O sentimento de sensível vira concreto, passando a pesar em nossas ações. E sem sentirmos o prazer de amar, o compromisso nos tira o ar e nos leva pro chão. Por isso, todo exagero de dor é uma falsa mentira que se tem na alegria de sentir. Ora, se isso nada é senão a pulsão da vida, engana-se quem pensa mal. A dor do fim é o grito de liberdade das crianças. A dor do fim permite nos amarmos, não por que era a regra, mas sim pelo mosaico que vai fluir, ainda que seja com outras peças.
A dor do fim é o parto de um novo amor. E o meu novo amor dança num vir-a-ser essencialmente livre num (de um) mosaico sem fim.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

O pirata

Que sujeito é mais feliz que o pirata?
Que corre bêbado no seu navio,
no balançar próprio do mar...
pirata pra lá,
pirata pra cá,
pirata ao suave balanço do mar.

Que sujeito mais infeliz é tu pirata?
Que vê toda sorte de imprevistos
lhe acontecer,
e carrega isso como um fardo nas costas
sem sê-lo.

Olhos

e quantos olhos
pode ter um
não?
O medo é um senão.
Um si,
1 não.

Se

Aqui chove poesia.
Será que a poesia redime alguém então?
Como chuva que lava o perdão?
Que cai, antes de se condensar,
na madrugada fria,
ou na quente, invernosa,
tanto faz, não é prosa.

Que chova poesia então,
pra que possam molhar-se,
e larvar-se todos os olhos de um não.



terça-feira, 24 de maio de 2011

Politicuzinho

Talvez Bertold Brecht se viesse hoje ao Brasil, chorasse uma lágrima de desprezo e desgosto. Uma só. Se topasse talvez com um e outro tipo. Militante tipicamente bruzundanga dos anos dois mil, se me empresta o termo Lima Barreto.
- Minha ideologia é que sempre o rico perca e o pobre ganhe!
A ideologia em que um ser humano "perde" e outro "ganha" não esta longe em essência, do que está posto como situação. Já descontextualizar qualquer pedaço da conversa para fazer pirraça e sem motivo qualquer fazer política, (vira o rosto e disfarça) tornando-o canção, pode ser sem sombra de dúvida uma ação extremamente política.
Já uma ação vazia, ou melhor, um "ato" vazio, como querem colocar os tais tipos, mesmo maquiados por um conjunto de ideias, ideais e ideologias, ainda que de um brilho radiante, quase solar. São apenas atos vazios e por mais grandioso e chocante que possam parecer, assim como todos os bons espetáculos teatrais devem ser: nacionalismos, anarquismos, utopias capitalistas e socialistas, conceitos e conjunturas, assembleias e pautas, monarquias ambientais e sindicalistas burgueses, estão num mesmo bojo de mascaras e sorrisos.
A história que me perdoe, mas, minha arma é a poesia. Só ela. Silenciosa, que caminha quieta, sem fazer alaúde. Sem levantar bandeiras, gritar nomes e códigos, símbolos e ladainhas, dizeres e jargões e jagunços. Sem atirar pedras, minha arma não atinge, almeja alcançar. Não quer possuir o cartucho da justiça, nem se municiar de boas intenções. Minha arma existe desarmada e desalmada, existe e só.
Talvez seu disparo não seja notado e não seja sentido, e pareça não ter sentido. Mas tem. Toda palavra tem, e ela fala por si só. A poesia é doce e é feroz.


sexta-feira, 20 de maio de 2011

Filhos do mundo

Nem tanto era amor de morte
Nem pouco pra vida inteira
No ponto um dia de sorte
No gosto fazia-se de brincadeira
Sem promessas infinda
Jogos e indiferença sofrida
Aquele amor de menina
Nas unhas de mulher ferina
Assim se fez casual
Mas num minuto de planos arteiros
Com um tiro num ponto certeiro
No gosto de amantes sorrateiros
Fez-se menino ligeiro, pra nascer
pra se criar e se perder no dia derradeiro,
do mês de janeiro, antes do próximo carnaval.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Mudo.

Para que todo o silêncio seja quebrado
como n'um passe de mágica,
digam um sim salabim calados,
e misturem um piriri pirplim falado!
Assim e sem argumento nenhum.
Para que a poesia possa brotar,
e feito rio correr,
e feito mar. divagar.
Para nos ouvidos atentos parar
e ficar estátua na eternidade.

terça-feira, 10 de maio de 2011


Um abraço,
lembranças de outr’ora.

Entre calor e coração,
fragmentos tênues e sorrateiros.

Segundos de realidade?

Horas na eternidade.

Entre a vida cotidiana
e o desassossego passado...

Sem palavras,
sem alarde.

Embalado em silêncio e
poesia...

Um pacto,
Um elo,
Um selo,
Um abraço.

Ela e a Felicidade.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

domingo, 8 de maio de 2011

Naquela Sala

Invisível num rosto de adeus, o silêncio nos envolvia no momento em que as lágrimas contidas na ternura de um certo querer bem espalhavam-se pela sala. Em mim, tudo era para sempre, brotava uma extrema atitude a qual não desejo a alguém tão tolo quanto eu: acreditava sem querer crer que, como foi para sempre o nosso amor, seria para sempre a despedida. E a despedida sempre doía mais do que as lembranças. Percebi isso por causa das noites sem sono ou nas perguntas impróprias dos amigos. A despedida se prolongava desdo antes e me seguiria até o depois de nós dois.
Nessas noites, muitas vezes em transe, eu lhe condenava e perdoava numa confusão própria de quem ama o seu vencedor. Já amigos, cheios de maus conselhos, faziam-me reconhecer apenas a sensação aguda da angústia. Eles não podiam sentir. Ignoravam a minha impotência diante do nosso caso. E assim, atordoado, eu não sabia nem como julgar a força que me faltava para ir em busca de reconciliação. Na verdade, sem suportar ficar, eu não sabia como seguir. Como sair daquela sala como se fossemos dois estranhos. Ser obrigado a não ligar porque decidimos esquecer, pois julgávamos que na nossa vida não havia mais espaço para nosso amor. Confesso, não reconheci no momento, mas o nosso romance era a minha vida e há tempos eu sabia que não iriamos sobreviver. Após o fim, tive que renascer sem matar quem me tornei em seus braços – nunca mais fui o mesmo.
Ainda lembro do seu olhar sereno me implorando por paz. Algo necessário para você poder reencontrar o seu caminho. E ciente que seu amor tinha mudado, achava lindo a sua contraditória preocupação em saber se eu iriar ficar bem – não me importava se era ou não sentimento de culpa... Talvez você já não suportasse mais nosso amor, pois, seja qual forma de amar, ceder ao outro nos aleija quando não estamos bem consigo mesmo. Aqueles conflitos minúsculos, os quais nos uniu em outro tempo, já não eram suportáveis. Por isso, a partir daquele momento, naquela sala marcada pelos nossos encontros, com ar nos inundando de certezas e sentimentos obscuros, senti, na neblina da carne, o clima mudar. Eu me via como observador do mundo que criamos; e, para não incomodar você, assumi por instantes esse papel: naquela mesma sala, eu vi um casal sentado frente a frente, pareciam, depois de receber uma notícia ruim, buscar o entendimento.
O casal falava com uma voz miúda e as palavras eram brandas, o que parecia esconder uma simplicidade amarga de um acontecimento não tão bom. Existia carinho entre eles, um cuidado recíproco num descontrole emocional contido. Ambos tinham a intenção de acalentar o outro e a si próprio para não agravar a situação. Como observador desavisado, tranquilamente, eu poderia pensar que a moça iria embora, numa viagem longa, e o rapaz, ali, teria que ficar – ele não tinha a cara de que iria partir.
Sinceramente, com toda aquela angústia e impotência não tinha como eu me distanciar. Só couber abafar a mágoa e ter a certeza de que aquilo era a decisão correta. Não tinha como eu esperar distante as coisas acontecerem. Uma decisão foi tomada, só nos restava suportar a dor. E não foi fácil, fazendo de tudo para que ela não notasse, passei mal. Diante daquela impotência, sem nada poder reverter, deixei esvair num suspiro só as emoções e sentimentos que cultivamos – era a sensação da morte. Sabia que ela se segurava também e não iria notar o meu estado. Por esse motivo, toda vez que venho a esta sala, na qual digito agora este texto, sinto que as paredes estão impregnadas com a nossa vida e que, desdaquela noite, elas deixaram de ser de concreto e reboco para serem uma teia entranhada de acalanto e sofrimento.
E digo-lhes outro segredo, é aqui que venho quando quero me isolar do mundo, deito-me no chão, fico preso à teia, com um copo na mão, escutando amor e paz nessa sala que amei. Penso... como poderei tirar de mim o que anos levei para infiltrar.... Volto a pensar como o observador solitário daquela situação, para em seguida dá uma risada sem graça, porque sei que o mundo sempre volta a sorrir. No fim, o meu drama só pertence a mim e as teias dessa sala. Pois, sem nada de concreto, de tudo foi só o que restou: um abrigo para eu me resguardar e lembrar do tempo que amei.


face a face com o eu virtual

Face a face num livro de ilusões vendidas por propagandas queridas por milhões de seguidores virtuais, ciosos por imaginação, segue a busca insensata do outro, da imagem, da representação do outro eu perfeito. Vive-se num novo circulo social. Vive-se quem quer, expõe-se quem quer. No entanto, sempre margiados pelas invenções dos guias que nos mostram como nos portar diante das novas mídias (vidas).

Assim o eu busca o espaço compartilhado pelos mesmos amigos e usurpado pelas mesmas ilusões ópticas das mitologias ancestrais. Vive-se um novo tempo: celebridades instantâneas falam das suas frustrações cotidianas, tudo em busca de um alento: alguém há de ouvir um grito de socorro, alguém irá alimentar o ego de outro e alguém tem que existir para que as coisas andem.

Devemos interagir constantemente sob novas ideias. Isso até que outros, os outros que invadiram a outra rede social nos invada com suas modas párias de quem não sabe o que é bom. Inventaremos uma nova bolha furada. Seremos de novo os arautos das novidades virtuais. Seremos agente das informações sem sentido para que possamos encontrar sentido nas nossas própria interações. Pois não dar para vivermos sempre num mundo de imaginação regrada, seguindo a trilha planejada para ocuparmos nosso tempo, parados, sem sentir o cheiro da carne, mas com a proteção do nosso lar.

Sabemos que viver um só mundo não basta, alguém tem que inventar um novo livro para que possamos viver face a face com o eu virtual. Ser um só já não satisfaz, mesmo com a possibilidade de mudarmos nossos perfis – diriam todos aqueles que fogem do suicídio. Pois nascer novamente sob novos olhares agora é fácil. E se a realidade anda longe dos nossos desejos, além psicanálise, temos sim onde reclamar. Só não temos o cheiro que compartilhamos quando nos tocamos, quando vivemos os dias de invenções de mundos.

Por isso, eis o plano, temos que levar ou trazer o aroma da lembrança e do desejo para cada eu virtual. Assim nos veremos e nos sentiremos cada vez mais próximos, photoshopando essência que a imagem não mostra. Seria um novo aplicativo caro aos corações desiludidos e lucrativo ao progresso virtual.

sábado, 7 de maio de 2011

Receita de Poesia

Junte na mesma forma
uma ressaca, uma dor, e uma raiva.
Bata com um certo lirismo fora de moda!
Deixe secar algumas lágrimas.
Espere ferver o sangue,
Agora é só esperar,
e voilà: esta feita a mágica,
e só servir-se,
e ainda rende
um coração destroçado.

Mentira

- Você jura?
- Claro, juro de verdade, e reafirmo.
Prometo. Juro por quem quiseres,
Deus inclusive,
o que há de mais sagrado,
te conto toda verdade inventada,
te digo tudo: tin-tin por tin-tin como queira.
Do jeito que quiseres direi.
Só não me peças a verdade, essa não.
Essa dói muito e não posso contá-la.
A flecha que essa dispara,
nem molhada no vinho,
causa dano menor.

diálogos com a morte

- Chegaste cedo, vens de onde?
- De outros cantos.
- E em quantos cantos estiveste?
- Perguntas demasiado.
- Responderá com o silêncio? Próprio de você.
- Achas apenas que velo teu leito, tenho muitos de cuidar.
- Posso te perguntar uma ultima?
- Próprio de ti.
- Quando eu vou?
- Perguntas demasiado. Mas responderei.
Irá quando justo for teu tempo, e quando já terá ido,
toda dúvida passará ao plano do infinito...


sexta-feira, 6 de maio de 2011

diálogos com a morte

- Chegaste tarde essa noite. Foste a farra outra vez?
- Sim, culpa tua.
- Como sempre.
- E como não ir? Se a noite gritou meu nome e tuas palavras repudiaram meu corpo.
- E o silêncio da noite, do sereno calar ruidoso dela?
Por acaso te sossega, te preenche, te esvazia ???
- Como sempre.
- Amanhã, se à madrugada voltar, manda noticias minhas e diz que não tardo tanto a voltar
Já tu, faz força de fazer o mesmo que a tua cama te espera.
- Como sempre.
- Aproveita! Um dia não irá.
- E você? O que fizeste esse tempo que passei fora?
- Estive te velando apenas.

Das dunas fiz um porto.

Diante de ti tremo e tenho tudo e remo tanto  para não falar que minha rima fraca e cansada de repouso e  de descanço de um trabalhador da p...