sexta-feira, 31 de julho de 2009

Ser Idiota.

Soava um grito distante que aquecia meus ouvidos:
“Eu sou um idiota!”
Com todas as letras que cabem ao nome, ecoava:
“Eu sou um idiota!”
E eu não sabia por que seria, mas ele repetia:
“Só(,) idiota eu posso ser.”
Melancolicamente aquele som penetrava em minhas vísceras,
Eu o tinha repudia e curiosidade pra ouvir:
“ Não há como não dizer, não posso mais evitar. Eu sou um idiÓtA.”
O grito de tão distante ficou próximo e era como se fosse eu a sentir a angústia de ser, ou pior, de assumir a idiotice ter.
Ele se contorcia, batendo suas mãos ao chão, como se contorcia aquele homem!
Seria morte, seria um parto, uma luz, uma descoberta?
“EU SOU... puta merda... IDIOTA!”
As lágrimas saiam, paulatinamente, copiosamente como se fosse lágrima, só, de quem sente.
Todos o olhavam com piedade, achavam que a loucura o possuía e eu só achava que era uma conclusão.
Só(,) poderia ser um idiota a gritar para todo mundo ouvir sua idiotice, aos berros.
Não, o idiota nunca assumiria assim, aos prantos, descontroladamente.
Seria outro tipo de demência.
O idiota admitiria sua idiotice num gesto nobre, ao se passar por aquilo que não é; um não idiota.
Aquele camarada deveria estar com outro problema, mas do mais, o que eu posso dizer?
Eu sou um idiota?
Não, eu não diria.
Mas eu poderia ajudá-lo?
Acho que não.

Já tenho pressa e só ecoa longe o som que eu continuo a ouvir.
Eu sou um idiota. Idiota? Eu?

quinta-feira, 30 de julho de 2009

(des)Encontro.

Há, certamente, um mecanismo de Ironia na vida de cada um de nós. Ironia maldosa, alegremente cruel e escrita com letra maiúscula.
Encontrar, enfim, a paixão, deveria ser a trégua feliz de cada ser. Mas depois de tanto luto e tanta luta, encontrar a paixão em tão longes braços é, no mínimo, comédia grega.
Desencontro é o prato do dia.
Você come amargo e vomita espera.
O estômago embrulha somando centímetros, metros, quilômetros.
E o tempo?!
Também entra na conta: quilômetros mais horas, dias, meses... Passarão anos?!
Querer-te perto é algo posto, dado, imutável.
E desde a tua chegada, nada muda. A sala continua vazia, a água morna, a noite cinza; escapa-me à cada sorriso não dado, à cada cigarro fumado, que de trago em trago, te consumo em devaneios.
Queria desprover-me dessa cultura boba, desses trâmites burocráticos, dessa vergonha provinciana. Usar a distância a meu favor e dar a cara a um tapa bem dado.
De longe também sentiria dor?

Lamento.
Entre lamúrios, agouros...
Lamento um encontro que talvez tarde e talvez falhe.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

"A vida"

é um jogo sério, melancólico, que nos exige organizar as peças e baterias, elaborar um plano, segui-lo, contrariar o plano de nosso adversário, assumir ocasionalmente riscos e jogar atendendo a um palpite. E, depois de todas as jogadas e reflexão, descobrimos que estamos em xeque, às vezes em xeque-mate.” La Bruyére

Não costumo ver vida como um jogo
Trilhada num tabuleiro interligado.
Se assim fosse, quais seriam meus adversários,
Quem seriam os muitos ou os poucos?
As peças não estão expostas,
A batalha, o tabuleiro se encontra num lugar tão próximo que parece não existir.
Agora, se resolvemos jogar, poderemos assumir o risco de fazer do outro uma peça.
Algo que não está ao nosso controle; uma peça de intenções da qual contamos.
Se nos perdermos nesse emaranhado de reflexões...
Estamos em xeque?
Costumo ver a vida como um jogo coletivo de adversários ambíguos que podem nos ajudar.
E a única certeza que eu tenho é que estamos em xeque, e que não jogamos sozinhos.
O plano é sobreviver...
Após algumas jogadas...
O plano é sobreviver.
Até a próxima jogada, o plano é sobreviver evitando o xeque-mate!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Ao Meu Amor.

Não vai tão longe,
Não me deixa seguir;
Segue um dengo,
Voz miúda,
Carícias mudas;
È o meu amor.
Um vocabulário próprio,
Mãos atadas,
Frouxas risadas...
E tensões.
Ciúme bobo...
Há contragosto,
Vamos seguir.
Faz-me um dengo,
Preencha-me à noite,
Faz-me existir...
Como o teu amor.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Óleos Divinos.

Só 'vendo' se penso algo escrito.
Vendo-se! E passa algo escrito,
entre meu dedos,
tão rápido que nem os sinto,
mas tão profundos que nascem feitos,
completos, defeitos.

De tanto te amar assim,
muito e sem muita medida,
é que rimo teu nome,
e desfaço seu choro.
Descarto teus 'aís',
e fico embebido,
de tuas delicias,
e olhos,
como de um Deus.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Faltam palavras...

Como é difícil falar das coisas belas;
Como é difícil falar do que realmente sentimos,
Não é que não falamos, é que as palavras tonam-se difíceis.
Mesmo a palavra perfeita vem fora de encaixe,
Forçada ao leito dos sentimentos sinceros.
Ela vem usurpando o próprio valor sentido,
Trazendo pra si os significados das tensões corporais.
Usurpadora palavra, se não fosses tu, como seria a declaração de amor;
A explicação, o desentendido.
Será que ela perceberia mais facilmente as outras formas de comunicação?
O silêncio e olhos longos desvelando um pedaço de intenção; as vibrações corporais, a densidade da pele ao contrair-se na outra, meu desejo?
Quando eu digo que não te digo é porque não precisava dizer ou porque já fora dito e redito nas pequenas formas de comunicação.
Não espere o certo, não espere que eu saiba explicar o que sinto em folhas de papel, nas vibrações fonéticas ou somente na palavra amor...

construção psico/fraterna/sexual.

De ti, moreno
quero a paz fluente
das linguas dos anjos;

demônios e gente
tentações infernais

Teu falar me leva
mas é porto seguro
- segura minha mão -

Injeção de vida
alegria pulsante
romance improvável
um espanto, um rompante

Estamos grávidos
de amor e de ócio
Minha alma penada responde que sim

Me canta, enfim,
uma nova canção.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Eterno devir.

Brinco-te.
Monto, desmancho, colo, dobro, quebro.
Brinco de passar o tempo com qualquer das tuas palavras.
Essa alegria débil que emana das tuas cores vivas não encaixa na minha sortida melancolia.
Brinco-te, pois o tempo passa e toda tua forma, jeito e modo de usar ganhará novos significados; nessa espera de mudança suporto grama por grama o dia de ontem, igual como o de hoje, mas... quem sabe amanhã?
Brinco-te.
E o eterno devir brinca comigo.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Meia volta

Nem te digo, mas voltei àquelas noites de solidão;
Voltei a festejar por pouco e a sorrir por muitos.

Ah, resolvi voltar.
E o que diria isso nas entrelinhas da razão, paixão, três pontinhos e tal?
Seria eu solitariamente devaneando pelas circunstancias favoráveis?
Não sei.
Sem premissas duvidosas, serei eu com meu sorriso exposto.
Eu não sorriria a contragosto e nem lhe daria explicação se não quisesse voltar.
Permita-me a representação.
Caso não se aborreça com minha tão pouca simpatia, use de sortilégio para minha tão longa alegria...
Foi por que resolvi voltar.
Aos que não queriam, peço desculpa pela ousadia, mas pretendo continuar;
Risadas eufóricas inflamam o meu corpo, acumulam-se no âmago do meu pulmão.
E quando eu não posso mais conter-me, de súbito, frêmitos de sorrir:
Uma grande gargalhada expele dos meus olhos, taram!
Da minha pele, ouriçados pelos a se contorcer.
Dançam todas as partículas do meu corpo, num frenesi irreal.
Tudo isso, acredita, por que resolvi voltar e ver o que poderia acontecer.

Das dunas fiz um porto.

Diante de ti tremo e tenho tudo e remo tanto  para não falar que minha rima fraca e cansada de repouso e  de descanço de um trabalhador da p...