quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Desolé

Desolado,
Por aqui fiquei...
Do lugar,
Sai sem desistir...
Alcançar,
Incapaz de sentir,
Corri...
Sem atraso, rápido, leve, com os pés no concreto...
Súbito, por passar, vir-lhe eu paralisado;
Imóvel, amargamente débil;
Letargicamente em transe...
Em transe,

Letargicamente debil,
Amargamente imóvel,
Paralisado, eu lhe vi passar;
De súbito,
Concreto nos pés,
Levemente rápido,
Atrasado, corri sem sentir;
Incapaz de alcançar,
Desistir,
Sem sair do lugar,
Fiquei por aqui;
Desolado...

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Aprendiz da liberdade

Como eu esperava, não foi fácil, falei como se estivesse engasgado: "Eu tenho outra pessoa e... você me deu toda certeza de liberdade.”
Em seguida, já seguro, acrescentei: “nunca fui seu pássaro preso por um fio de corda amarrada aos pés, melhor ainda, já não dou voltas sem poder sair do lugar. Tenho, aqui, nesta conversa, a certeza de não ser mais responsável por qualquer coisa que venha lhe ferir”.

Antes, eu me preocupava em não ferir-lhe. Nunca ousaria machucar a mulher que, naquele momento, me olhava impassível, como se já soubesse o que eu acabara de dizer. Lembro que, há algum tempo atrás, tudo nela eu buscava compreender. Agora, seus olhos claros estavam perdidos; penso que, talvez, procurassem respostas ou um modo de remediar aquela situação, manter o controle – como uma deusa:

“Eu sei... eu deixei você se afastar, pedi um tempo pra mim e, enquanto isso, eu fazia tudo em liberdade; essa mesma liberdade que neguei a você. No entanto, acho que você não foi sincero ou não está sendo sincero, pois com ela, tudo começou antes da gente terminar. Se eu lhe traía, eu traía às claras, nunca lhe havia prometido nada. Eu estava gozando a vida, curtindo depois de muito tempo de aflição; eu não poderia me entregar a você. Eu nunca menti, nem quando disse que precisava de um tempo... mas hoje, hoje estou pronta e espero que você me compreenda.”. Com essas palavras, ela não caía no choro, não se dava por vencida, parecia não está magoada com o fim, com o voar do pássaro; parecia que era a razão de si a que ela queria conquistar.

Por isso, eu não entrei na discussão, não queria justificativas e nem pensar muito sobre esses últimos dias. Mas, como não havia terminado? Como algo que nem começou terminaria? Enfastiado, cansado, sem conseguir mais esticar a conversa e nem um pouco preocupado com o que ela iria pensar, falei que passei os últimos meses correndo atrás dela, beirando a loucura. Agora, já era tarde e parecer sincero não me importava mais: “me deixe e vá ser feliz com quem quiser ou com todos aqueles que você quiser amar”. Bruscamente finalizei, virei as costas, e, a alguns passos à frente, um pouco desanimado, me pus a refletir sobre a liberdade e o amor.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Entre fronteiras sem fim.

Detesto despedidas; sempre digo isso.
Até que um dos meus amores disse-me: mas tu vives sempre atrás delas!
O fato é que eu sempre fui e meus amores sempre ficaram.
Essa revelação fez de mim um ser perdido em abstrações, desligado de tudo, perdido na espera, no anseio do calor daqueles corpos inventados,
dos beijos serenos na testa, dos emaranhados dos cabelos.
Fez-se de mim algo sem nexo, sem sexo,
um ser alheio a todas as linguas e corpos que não falassem códigos e dialetos distantes,
que não me entorpecem de desejo nem me desvendam a paixão.
Da distância nunca soube tirar o sumo gozo do querer;
fica na falta de algo mais quente, de pele ardente, febre.
Febril fico, e quase morro.
Para curar, compro minha passagem.
Continuo correndo para atrevassar as fronteiras, qualquer delas.
Percebi que sempre corro atrás de despedidas, mas pelo simples prazer primordial do encontro.
Fronteiriça sou.


... Fronteiriça sou.

Tipos

  1. Existem mulheres que mexem com o mundo. Elas carregam sensualidades aburdas, exalando-as por aí, sem querer. Quando passam, chamam logo a atenção; e tudo, em estado de graça, perde o rumo , quiçá, a comprensão. Elas possuem um estado de cortezia; cultivam uma lacivia pura e modesta; quando passam a sala enche de alegria; todos, de bom gosto, querem fazer festa. Não é só o corpo, olha-se a alma, repleta e completa de feminilidade na qual não se conta a idade duma fruta maneira e calma, cujo sabor só nos faz bem. Talvez, para elas, a maior de todas as virtudes é fingir não saber que têm belas e encantadoras atitudes de quem vai iludir alguém.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

E eu que digo isto - por que eu escrevo este livro? Porque o reconheço imperfeito. Sonhado seria a perfeição; escrito, imperfeiçoa-se; por isso o escrevo.
E, sobretudo, porque defendo a inutilidade, o absurdo, ... - eu escrevo este livro para mentir a mim próprio, para trair a minha própria teoria.
E a suprema glória disto tudo, meu amor, é pensar que talvez isto não seja verdade, nem eu o creia verdadeiro.
E quando a mentira começar a dar-nos prazer, falemos a verdade para lhe mentirmos. E quando nos causar angústia, paremos, para que o sofrimento nos não signifique nem perversamente prazer....
Fernando Pessoa

Das dunas fiz um porto.

Diante de ti tremo e tenho tudo e remo tanto  para não falar que minha rima fraca e cansada de repouso e  de descanço de um trabalhador da p...